Presidência da Câmara: rixas internas desidratam bloco de esquerda
PSB insiste em atrair partidos de centro, como PP e MDB, posição rechaçada pelo PSol. Rejeitado pelo PDT, PT ainda tenta acordo
atualizado
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A formação de um bloco de esquerda posicionado contra a candidatura à reeleição do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), enfrenta um impasse. Posições divergentes entre PSB, PT e PSol desidrataram a articulação que tentava forçar a realização de um segundo turno no pleito que será realizado na próxima sexta-feira (1º/2).
De um lado, o PSol, com 10 deputados, rejeita qualquer acordo para a inclusão de partidos como MDB e PP no bloco. Do outro, o PSB, com 32 parlamentares, recusa-se a fazer parte de uma aliança restrita à esquerda e defende uma frente mais ampla, incluindo as legendas consideradas de centro, como PP e MDB. O PT, por sua vez, sofre a rejeição do PDT, que tenta isolar a sigla do ex-presidente Lula.
Durante toda a semana, deputados dos três partidos se reuniram (foto em destaque) sem conseguir superar esse ponto, que persiste desde o início das tratativas. Parlamentares do PSB chegaram a dizer, em caráter reservado, que sem o centro não haverá bloco.
Para o PSol, é impossível a união com o PP e com o partido do ex-presidente Michel Temer. “Na esquerda, as coisas são mais difíceis”, ponderou o presidente do partido, Juliano Medeiros.
“Não temos como nos aliar a partidos que amanhã estarão na base de Bolsonaro e nós não temos nenhuma confiança nesses partidos”, acrescentou o dirigente do PSol.
Estão em jogo os lugares da próxima Mesa Diretora da Câmara. Os partidos que não apoiarem a candidatura vencedora ficarão de fora dos principais cargos da Casa.
O PSol acredita que, juntando seus 10 integrantes, mais PSB, PT e uma deputada da Rede, será possível reunir força suficiente para levar o bloco ao segundo turno. O PSB é cético em relação a isso. Nova tentativa de acordo ocorrerá na segunda-feira (28/1), em uma nova reunião, com a presença da Rede.
PT e PSB trabalham no convencimento em torno de nomes já colocados, como os de Artur Lira (PP), Fábio Ramalho (MDB), João Henrique Caldas (PSB) e Marcelo Freixo (PSol). Ainda concorrem contra Rodrigo Maia os deputados Alceu Moreira (MDB) e Marcel Van Hattem (Novo-RS).
Divididos
Apesar de o PCdoB ter declarado estar com o atual presidente da Câmara, em um movimento liderado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) com apoio da presidente do partido, Luciana Santos (PE), há resistência interna encabeçada pelas deputadas Jandira Feghali (RJ) e Alice Portugal (BA). Nos próximos dias 30 e 31, véspera da eleição, haverá, em Brasília, a reunião do Comitê Central do PCdoB para bater sobre o assunto.
Enquanto as conversas não avançam entre essas siglas, o PT tenta articular paralelamente o apoio do PCdoB e do PDT. Como discurso, eles apostam na divisão interna do grupo de Maia como trunfo para arregimentar apoiadores. O PDT, no entanto, que articula um bloco de oposição ao presidente Jair Bolsonaro que não seja capitaneada pelo partido de Lula, resiste.
Aglutinações
Enquanto os opositores a Maia lutam para conseguir um consenso, o presidente da Câmara avança em acordos para sua eleição. Ele já tem a adesão de pelo menos 13 legendas, incluindo o PSL, partido do presidente Bolsonaro, que desistiu da candidatura do deputado João Campos (GO), importante liderança da bancada evangélica na Câmara.
Outras desistências serviram para turbinar a candidatura de Maia. O deputado Capitão Augusto (PR-SP), coordenador da Frente Parlamentar da Segurança Pública, também conhecida como a bancada da bala, saiu da disputa. Com a desistência, o PR lançou formalmente o apoio a Maia.
O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP) também desistiu da candidatura. Embora seja do partido de Maia, o deputado, que cumprirá o primeiro mandato neste ano, decidiu apoiar outro estreante: Marcel Van Hattem (Novo-RS). “Não teria motivo para a gente manter a candidatura separada pensando da mesma maneira”, disse, em coletiva de imprensa.