Por apoio, Bolsonaro cogita “emprestar” campeões de votos a partidos
Estratégia leva em consideração que presidente pode não conseguir se filiar a um partido grande – e vai precisar de alianças em 2022
atualizado
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Com a dificuldade do presidente Jair Bolsonaro em encontrar um partido que o acolha na disputa da reeleição em 2022, o entorno do titular do Palácio do Planalto já admite que a escolha pode ficar para a última hora — o prazo limite é março do ano que vem, seis meses antes do pleito de outubro. O chefe do Executivo federal deve tomar uma decisão entre dezembro de 2021 e abril de 2022.
Entre as siglas com as quais o mandatário ainda negocia, constam legendas nanicas, como PMB e PRTB, mas também o tradicional PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e o PTB, de Roberto Jefferson. O mistério sobre o destino partidário de Bolsonaro não é proposital, mas decorrente da frustração nas negociações. Aliados relatam que o assunto tem, inclusive, irritado o presidente.
Levando em consideração a possibilidade de não se filiar a um partido forte para disputar a reeleição em 2022, uma das estratégias para garantir apoio de siglas importantes da centro-direita é colocar “puxadores de voto” à disposição, para ajudar essas legendas na composição de grandes bancadas.
“Puxadores de votos” são os candidatos que angariam votação expressiva e, assim, conseguem “carregar” outros com votações menores. A estratégia foi confirmada ao Metrópoles por uma fonte próxima ao presidente, que pediu reserva. “Esse pessoal que tem mais voto seria colocado em partidos como uma espécie de exchange [troca]”, diz a fonte.
O principal puxador de votos é o filho 03 do presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que deve disputar sua terceira eleição. Em 2018, o deputado federal conquistou 1.843.735 votos, tornando-se o recordista em votação da história da Câmara, marca que pertencia a Celso Russomanno (Republicanos-SP), com 1.524.361 votos. O parlamentar puxou consigo outros nomes bolsonaristas, como a deputada Carla Zambelli, e ajudou o PSL a formar a segunda maior bancada da Casa.
A maioria dos deputados federais aliados do presidente ainda se encontra no partido pelo qual Bolsonaro se elegeu presidente. O partido está rachado depois da saída conturbada de Bolsonaro, no fim de 2019. Eduardo e os demais puxadores de votos poderão migrar para outras legendas quando for aberta a janela partidária, em 2022. Atualmente, essa mudança não é feita porque os políticos correm o risco de perder o mandato por infidelidade partidária.
Envolvido no escândalo das candidaturas femininas laranjas, Marcelo Álvaro Antônio foi o campeão de votação em Minas Gerais há três anos, com 230.008 votos. Em 2014, tinha sido apenas o 49ª da lista de 53 deputados eleitos pelo estado. A votação expressiva lhe ajudou a ocupar a cadeira de ministro do Turismo entre janeiro de 2019 e dezembro de 2020.
Amigo próximo de Bolsonaro, subtenente do Exército e estreante na política, Hélio Lopes, conhecido como “Hélio Negão”, usou o sobrenome do presidente durante a campanha eleitoral para angariar 345.234 votos no Rio de Janeiro, estado onde foi o mais votado entre os 46 deputados eleitos.
Há ainda Nelson Barbudo, que obteve 126.249 votos na disputa em Mato Grosso. O produtor rural é um dos principais aliados de Jair Bolsonaro na região. Ficou conhecido nas redes sociais por críticas ao governo federal, ao PT e aos sem-terra.
Em Santa Catarina, pelo menos dois nomes podem ser considerados puxadores de votos: Daniel Freitas, segundo mais votado do estado, com 142.571 votos, e Caroline de Toni, quarta colocada no pleito, com 109.363 votos. Santa Catarina tem direito a 16 vagas na Câmara.
Hoje licenciada do mandato, a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda (PL), foi a deputada federal mais votada do Distrito Federal nas últimas eleições. Escolhida por 121.340 eleitores, a parlamentar pretende renovar sua vaga na Casa legislativa. Apesar de aliada do presidente, a esposa do ex-governador José Roberto Arruda possui tração própria. Se decidir alçar voos mais altos, como uma candidatura ao governo do DF ou ao Senado, ela deve garantir palanque para Bolsonaro na capital federal.
O PL é uma das principais siglas do Centrão, grupo de partidos de centro-direita que hoje formam a base de Bolsonaro, mas já apoiaram gestões anteriores, inclusive do PT.
Outros aliados fiéis ao presidente, como Cezinha de Madureira, pastor evangélico e deputado federal pelo PSD de São Paulo, devem seguir em seus partidos. A avaliação do entorno do mandatário é que é importante manter quadros em diferentes legendas do Centrão.
Busca por coligações
Nas eleições de 2018, Bolsonaro, então no PSL, só contou com o apoio de mais um partido na coligação: o PRTB, partido do vice, general Hamilton Mourão. Com isso, ele contou com pouco tempo de exposição em rádio e TV no primeiro turno. Já no segundo, em que o tempo é dividido igualmente entre os dois candidatos, não teve problemas, até porque muitos integrantes de grandes partidos aderirem de modo informal à sua campanha para derrotar o PT.
Em entrevista ao Metrópoles em abril, o ministro Ciro Nogueira admitiu que, ainda que Bolsonaro não se filie a uma sigla tradicional, ele deve contar com o apoio de legendas importantes, por meio das coligações.
A dificuldade de Bolsonaro em encontrar um partido reside no fato de que ele quer ter o controle dos diretórios estaduais, demanda à qual as siglas tradicionais resistem. Além disso, partidos como o PP, PL, DEM e PSD, por exemplo, pretendem concentrar a maior parte dos seus recursos para fazer grandes bancadas no Congresso.
Para fidelizar as legendas do Centrão, que podem se fragmentar em apoios ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a nomes da chamada “terceira via”, será importante para Bolsonaro oferecer algo em troca. Os puxadores de voto ajudam, porque costumam contar com o recall da população e podem engrossar o caldo de deputados federais.
Apesar disso, bolsonaristas eleitos com margem expressiva de votos em 2018 podem não repetir o mesmo desempenho no ano que vem, tendo em vista o desgaste do bolsonarismo e o derretimento da popularidade do presidente.