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Policiais “antifa” já preparam “bancada antibala” para as próximas eleições

Apesar de ser um movimento suprapartidário, muitos membros do grupo serão candidatos para os legislativos municipais neste ano

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Delegado Orlando Zaccone, fundador do movimento Policiais Antifascismo
1 de 1 Delegado Orlando Zaccone, fundador do movimento Policiais Antifascismo - Foto: Reprodução/Facebook

Movimento de caráter suprapartidário, o Policiais Antifascismo conta com muitos de seus integrantes e fundadores já preparando candidaturas para vereadores nas eleições deste ano. Alguns têm chances reais de vencer e alcançar cadeiras nos legislativos municipais. Para isso, eles já se distribuem em partidos do campo da esquerda e levarão para o debate político bandeiras como a desmilitarização das polícias, direitos trabalhistas para policiais – dos quais são privados hoje como servidores públicos – e o combate ao racismo e à homofobia, entre outros pontos.

O discurso dos pretendentes a cargos eletivos é a antítese do bolsonarismo, em um meio que serviu de base para a eleição do atual presidente.

Muitos dos nomes que estarão na disputa por uma vaga nos legislativos municipais têm a certeza de que também figuram no dossiê contra antifascistas produzido recentemente pelo Ministério da Justiça e de Segurança Pública e sobre o qual ainda se espera uma explicação do ministro André Mendonça. Isso porque esses possíveis candidatos são os mesmos que assinaram os dois manifestos do grupo, que reúne mais de 560 policiais.

Para o grupo, a perseguição a possíveis adversários dentro da polícia pode ser a real motivação do relatório, usando a máquina do Estado e ainda de outras iniciativas, como a do deputado estadual Douglas Garcia (PSL-SP), que produziu uma lista de mil nomes com informações pessoais de quase mil pessoas que, segundo o parlamentar, deveriam ser enquadradas como terroristas.

Essas manobras representam para os policiais antifascistas uma forma de criminalizar o movimento daqueles que pensam fora do escopo do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).

“Governo teme o grupo”

Para o coordenador do movimento e fundador do grupo, o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro Orlando Zaccone (foto em destaque), o governo do presidente Bolsonaro teme a ascensão do pensamento antifascista dentro das polícias, um dos pilares de seu eleitorado.

“Neste ano, temos candidaturas que têm muita viabilidade. Aliás, esse é o aspecto pelo qual o governo entende o movimento Policiais Antifascismo como um perigo. Eu acho que o que assusta é a possibilidade de a gente assumir um protagonismo com a formação de uma possível bancada antibala, fazendo um contraponto a este espaço que foi hegemonizado pelos policiais de direita”, diz Zaccone, em entrevista ao Metrópoles.

“O crescimento que o movimento tem conseguido pode levar policiais a um sucesso eleitoral e a uma disputa real nos parlamentos por pautas de segurança pública democráticas. Ou seja, um contraponto a tudo que a gente tem visto aí da bancada da bala no Congresso”, completa.

Como delegado, Zaccone presidiu inquéritos importantes como o que apurou a morte do pedreiro Amarildo Dias de Souza, desaparecido depois de entrar em uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), da Rocinha, no Rio de Janeiro. Seu corpo nunca foi encontrado e dos 12 policiais investigados pelo desaparecimento ocorrendo em julho de 2013, 4 foram absolvidos pela Justiça.

Resistência

O policial também é autor do livro “Indignos De Vida: A Forma Jurídica da Política de Extermínio de Inimigos na Cidade do Rio de Janeiro”, no qual aponta os arquivamentos de processos contra policiais que abusam dos chamados autos de resistência, com o aval da Justiça, para matarem cada vez mais em territórios periféricos das grandes cidades.

Zaccone é hoje filiado ao PSB, mas não pretende disputar cargo. Nas eleições passadas foi candidato a deputado pelo PSol do Rio de Janeiro. Seu projeto para 2022 ainda não está desenhado. Ele se define como um delegado skatista e hare krishna e também favorável à legalização da maconha no Brasil.

Entre os nomes mais cotados para disputar cargos nas câmaras de vereadores estão o do presidente do Sindicado dos Policiais Civis de Pernambuco (Sinpol), Áureo Cisneiros (PSol-PE), o de Fabrício Rosa (PSol-GO), agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF), assumidamente gay e que deve disputar uma vaga na Câmara Municipal de Goiânia; Leandro Prior (PT-SP), policial militar e também militante LGBT, que teve divulgado uma foto sua beijando o namorado no metrô de São Paulo, gerando polêmica. Everton Gomes (PDT-RJ) também deve se candidatar a uma vaga na Câmara Municipal da capital fluminense.

Em Curitiba, a aposta é o policial da reserva da PM Martel Alexandre Del Colle. Por ser contrário a Bolsonaro e se posicionar de forma crítica em relação à polícia, aos 29 anos, o aspirante a oficial da Polícia Militar do Paraná foi afastado da corporação.

Investigação

No Rio Grande do Norte, um candidato considerado forte pelos antifascistas é Pedro Paulo Che, policial civil, conhecido como Pedro Che. Filiado ao PT, mesmo partido da governadora Fátima Bezerra, Che virou alvo recente de uma investigação formalmente aberta pelo Ministério Público local contra o movimento “Policiais Antifascismo”.

A investigação deriva de uma apuração inicial feira pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e tem por objetivo verificar a suposta criação de um grupo paramilitar de viés político-ideológico no estado.

O despacho do promotor Wendell Beetoven Ribeiro Agra, da 19ª Promotoria de Natal, determinou investigação para descobrir “se a ‘Brigada Antifascista’ constitui, ou não, uma organização paramilitar ou milícia particular destinada a cometer qualquer crime previsto no Código Penal”.

A ação, para Zaccone, é uma clara perseguição política. “O movimento está crescendo. Nós temos quatro anos de atividade. O nosso manifesto incomodou, ou seja, foi um bom manifesto”, avalia o delegado.

Carta branca seduz

Na sua análise, o bolsonarismo aponta um discurso que seduz policiais porque ele se coloca como dando carta branca para que as policia operem as políticas de segurança, sem controle. “Esse discurso, evidentemente, continua a seduzir policiais. Só que entendemos que, em uma sociedade democrática, a polícia precisa de freios, precisa sofre controle”, ressalta.

“Nós entendemos e que a polícia não deve ser esse braço armado do Estado pronto para realizar funções genocidas, além de outras funções que não interessam ao policial. E isso passa a ser uma ameaça ao bolsonarismo dentro das polícias. O nosso maior perigo é sermos policiais e sermos antifascistas. Nossa existência é um sinal de que pode haver resistência dentro das polícias diante desse projeto de desmonte do serviço publico”, arremata Zaccone.

 

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Delegado Orlando Zaccone, fundador do movimento Policiais Antifascismo
Ministro da Justiça, André Mendonça, foi nomeado para a AGU
Hoje no PDT, delegado Orlando Zaccone foi candidato pelo PSol, no Rio de Janeiro
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Policiais Antifascismo preparam "bancada antibala"para as próximas eleições

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