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Polícia Federal vê suspeita de caixa 2 de fornecedor de Dilma em 2014

Relatório mostra que, entre 2010 e 2014, uma das empresas de Carlos Roberto Cortegoso, a CRLS Consultoria e Eventos, movimentou quase R$ 50 milhões, cinco vezes o valor declarado no período. Ele prestou serviços para a campanha da presidente afastada

atualizado

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Impeachment Dilma Rousseff – Brasília – DF 12/05/2016
1 de 1 Impeachment Dilma Rousseff – Brasília – DF 12/05/2016 - Foto: Daniel Ferreira/Metrópoles

A Operação Custo Brasil, desdobramento da Lava Jato, investiga suspeitas de lavagem de dinheiro e sonegação fiscal em negócios do segundo maior fornecedor da campanha da presidente afastada Dilma Rousseff. Relatório da Receita Federal repassado à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal mostra que, entre 2010 e 2014, uma das empresas de Carlos Roberto Cortegoso, a CRLS Consultoria e Eventos, movimentou quase R$ 50 milhões, cinco vezes o valor declarado no período. Cortegoso é popularmente conhecido como o “garçom de Lula”

Os investigadores apontam contabilidade “atípica” e indícios de caixa 2 com recursos provenientes do PT e de esquemas de desvios na Petrobrás e no Ministério do Planejamento. “A CRLS, segundo a Receita Federal, movimentou em suas contas cerca de R$ 25 milhões de entrada (crédito) e R$ 24 milhões de saída, mas declarou receita bruta de menos de R$ 10 milhões”, afirmam procuradores da República da Custo Brasil.

Cortegoso é proprietário da CRLS e da Focal Confecções e Comunicação Visual, que recebeu R$ 25 milhões na última campanha de Dilma e ficou atrás apenas do publicitário João Santana (R$ 70 milhões), preso preventivamente em Curitiba na Lava Jato. As empresas têm sede em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. O empresário fornece ao PT estruturas de palanques e materiais desde a campanha à reeleição de Lula, em 2006. Ele ficou conhecido como “garçom” do ex-presidente por ter trabalhado em restaurante frequentado por sindicalistas petistas.

Na Custo Brasil, que apura desvio de até R$ 100 milhões de recursos de empréstimos consignados de servidores federais entre 2010 e 2015, a CRLS é citada por ter recebido, a pedido do ex-tesoureiro do partido João Vaccari Neto, R$ 309 mil da Consist Software, responsável por gerenciar os contratos do Ministério do Planejamento. A CRLS foi alvo de buscas ordenada pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo no dia 23 de junho.

Negócio único
Embora a empresa não conste na prestação de contas da campanha de Dilma, ela atuou por intermédio da Focal. Investigadores da Custo Brasil e da Lava Jato verificaram que as duas empresas integram um mesmo negócio. Compartilham equipamentos e movimentam recursos entre si, conforme relatórios da Receita Federal e do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

Divulgação
Cortegoso é conhecido como “Garçom de Lula”

Documento da Custo Brasil com dados das contas de Cortegoso e das empresas vê ocorrências suspeitas como depósitos e saques em espécie “que apresentam atipicidade em relação à atividade econômica”, “movimentação de recursos incompatível com o patrimônio” e “movimentação de recursos de alto valor, de forma contumaz, em benefício de terceiros”.

Com as transações financeiras entre as duas empresas, a força-tarefa suspeita que propina tenha transitado por suas contas. Parte dos valores movimentos na CRLS, que apontam indícios de ocultação de origem, é de 2014. Naquele ano, a empresa registrou R$ 9,3 milhões de entrada e R$ 8,5 milhões de saída, mas declarou receita bruta de R$ 2,5 milhões.

“A referida empresa é uma produtora, que fazia eventos para o PT, e que tinha créditos com o PT. Cortegoso teve evolução patrimonial bastante rápida, tendo sido garçom e atualmente teria até mesmo avião em seu nome”, afirma a Procuradoria da República.

Parceria
Os pagamentos da campanha de Dilma são investigados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ação implica a chapa reeleita em 2014, o que inclui o presidente em exercício, Michel Temer (PMDB). Para o ministro Gilmar Mendes, há “indicativos” de que o PT e a candidatura presidencial foram financiados por propina desviada da Petrobrás. A Focal é uma das empresas que passam por perícia técnica por suspeita de incompatibilidade entre serviços ofertados e a estrutura existente.

Fundada em 2005, a Focal tem sede em um galpão. A CRLS foi aberta em 2009, um ano antes de Cortegoso comprar sete imóveis do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, réu na Lava Jato, acusado de tomar empréstimo de R$ 12 milhões para o PT, em 2004. A transação também está sob investigação.

A Focal está registrada em nome da filha e de um funcionário de Cortegoso, e a CRLS, atualmente em nome do empresário e de sua mulher. A relação de Cortegoso com o PT tem mais de 20 anos e deslanchou após Lula assumir a Presidência em 2003. Os negócios suspeitos com o partido surgiram em 2005, quando Cortegoso e a Focal foram citados por Marcos Valério na CPI dos Correios como destinatários de dinheiro de caixa 2 do mensalão.

Em 2006, a Focal recebeu R$ 3,9 milhões da campanha à reeleição de Lula. Quatro anos depois, já com Dilma, os gastos do partido com a empresa chegaram a R$ 14,5 milhões.

Defesas
Procurado por meio de seu advogado, Márcio Decreci, Cortegoso não quis se pronunciar. Segundo o defensor, o caso está sob sigilo. Sobre os imóveis, a defesa de Bumlai afirma que a venda foi feita dentro da “mais estrita observância da legislação” e não há irregularidade no negócio.

O PT e o Instituto Lula não responderam à reportagem. O advogado Flávio Caetano, da campanha de Dilma, informou que a Focal presta serviços de montagens de palanques em todo o País.

O papel da campanha é saber se a empresa existe, se tem capacidade para prestar os serviços no prazo, com a qualidade acertada e preço de mercado. Não cabe à campanha saber da vida privada da empresa.

Flávio Caetano, advogado

Laranja
Após dez anos trabalhando como motorista pessoal de Carlos Roberto Cortegoso, Jonathan Gomes Bastos admite ter atuado como laranja do empresário. Bastos tentou negociar na Justiça um acordo com seu ex-chefe para receber uma indenização mensal de R$ 6 mil por 12 anos e ficar em silêncio.

O acordo foi proposto no fim do ano passado, ao mesmo tempo em que ele acionou a Justiça contra seu antigo patrão pedindo indenização de R$ 4 milhões por não ter recebido dinheiro movimentado em uma das empresas de Cortegoso na qual aparecia como sócio até 2011 – a CRLS. O valor é referente ao lucro que a empresa teria obtido ao adquirir e depois revender em 2010 sete terrenos do pecuarista José Carlos Bumlai, em São Bernardo do Campo (SP).

Antes de entrar com o processo, os advogados de Cortegoso e de Bastos negociaram um acordo. Nele, contudo, o valor que seria acertado ficaria em menos de um quarto do que foi pedido pelo ex-motorista inicialmente: R$ 846 mil divididos em 144 parcelas mensais.

Pelo acordo, Cortegoso teria ainda que pagar todas as dívidas que Bastos tivesse herdado por causa da empresa. Uma das cláusulas do documento encaminhado ao juiz da 4.ª Vara Cível de São Bernardo do Campo previa que cada um dos envolvidos devia manter sigilo das informações “quer pessoais ou profissionais”.

Cortegoso nunca chegou a assinar o documento, mas teria realizado os pagamentos para Bastos extrajudicialmente até maio deste ano, segundo informou a própria defesa do ex-motorista à Justiça. No documento do acordo, porém, há apenas as assinaturas de Bastos e de sua advogada.

Outra cláusula do documento prevê que um dos imóveis de Cortegoso ficasse como garantia dos pagamentos e que o ex-motorista iria desistir de ações referentes as outras empresas que estavam em seu nome.

Diante do juiz, a defesa do empresário não comentou o acordo. Ela contesta as alegações de Bastos e diz que a CRLS se tornou alvo de ações trabalhistas somente após a saída do ex-motorista do quadro societário. Alegam também que não há nenhum processo trabalhista nem execução fiscal no nome de Bastos devido a CRLS e pedem a anulação da ação. O processo corre em segredo de justiça.

Custo Brasil
Bastos começou a trabalhar como office boy para Cortegoso em 2004 e, a pedido do chefe, forneceu seu nome para a composição de quatro empresas. Destas, uma já foi encerrada e outra, a CRLS, está na mira da Operação Custo Brasil apontada como uma das firmas que teriam sido usadas para movimentar propina da Consist ao PT em um suposto esquema que desviou R$ 100 milhões em operações de créditos consignados de servidores do Ministério do Planejamento.

No ano passado, Bastos foi notificado de ações trabalhistas envolvendo outras empresas nas quais diz ter figurado como “laranja” e buscou ajuda para tentar provar que não está envolvido em irregularidades. Procurados, os advogados de Cortegoso e Bastos não quiseram comentar o assunto.

 

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