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PMDB usa congresso para reforçar críticas ao modelo econômico petista

Partido quer fugir da pecha de fisiologismo, destacar propostas e deixar claro que não desistirá de lançar candidato próprio à sucessão da presidente Dilma

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Wilson Dias/Agência Brasil
Dilma Rousseff
1 de 1 Dilma Rousseff - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Dividido sobre o melhor momento de se apresentar como alternativa de poder ao governo Dilma Rousseff, o PMDB fará um congresso nesta terça-feira (17/11), sem consenso nem mesmo sobre o seu novo programa econômico, intitulado “Uma Ponte para o Futuro”. O encontro foi idealizado com o objetivo de fustigar Dilma e acenar para o PSDB e o mercado, mas perdeu força depois que o PMDB aumentou o seu tamanho no Ministério e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), passou a enfrentar processo de cassação no Conselho de Ética.

Mesmo assim, a cúpula do PMDB resistiu às pressões para adiar o congresso – que deve focar as críticas na condução da economia. No momento em que os tucanos tentam ganhar protagonismo na crise, o partido quer fugir da pecha de fisiologismo, destacar suas propostas e deixar claro que não desistirá de lançar candidato próprio à sucessão da presidente Dilma, em 2018. A ideia é transmitir para a opinião pública a imagem de que o PMDB vai se divorciar do PT e só não o fez ainda porque “o Brasil encontra-se em situação de grave risco”, como diz um trecho do programa.

Com a ameaça de impeachment refluindo e Cunha na berlinda, acusado de envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras, o PMDB foi obrigado a recolher as armas na política e a se concentrar nas críticas ao modelo econômico petista. Diante do novo cenário, o vice-presidente Michel Temer – que em agosto afirmou ser preciso encontrar “alguém capaz de reunificar a todos” – adotou posição mais cautelosa, para se preservar, e submergiu.

Afastado da articulação política do Palácio do Planalto e distante de Dilma, Temer tem dito que o objetivo imediato do PMDB é preparar uma agenda consistente para o País. “Se o governo incorporar essas teses, isso será um trabalho do PMDB”, avaliou o vice, que também comanda o partido. “Se não, vamos trabalhar como um programa para 2018.”

As correntes do PMDB, no entanto, não chegaram a um acordo sobre o documento “Uma Ponte para o Futuro” e querem desidratar as questões mais polêmicas. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), por exemplo, detestou o trecho sobre as relações trabalhistas.

O programa propõe que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, achou a ideia “muito boa”, mas Renan disse que a norma pode acabar abrindo brecha para a flexibilização de direitos dos empregados, empurrando o PMDB para uma pauta negativa.

Teses
“O PMDB é uma federação de partidos e cada um tem uma posição, mas tudo será discutido”, disse Renan. “Estou cuidando da Agenda Brasil, que tramita no Legislativo. Creio que com ela será possível criar mais rapidamente as condições para a retomada dos investimentos”.

Escrito pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Netto em parceria com o ex-secretário de Política Econômica Marcos Lisboa e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, Wellington Moreira Franco, o documento do PMDB abriga teses opostas às defendidas pelo PT.

Entre elas estão o fim do porcentual previsto na Constituição para despesas com saúde e educação e o término das indexações de benefícios sociais ao salário mínimo. Além disso, o texto atribui a crise atual aos gastos excessivos do governo nos últimos anos.

“Qual é o problema de criticar o governo?”, questionou o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). “O PT faz isso todo dia. Além disso, nós não somos governo. Apoiar é uma coisa e ser governo é outra.” Com a reforma ministerial de outubro, o PMDB ampliou o espaço na equipe e passou a controlar sete ministérios, entre eles o da Saúde, dono do maior orçamento da Esplanada.

Sob o argumento de que não adianta procurar culpado pela crise nessa altura do campeonato, Moreira Franco amenizou as divergências em relação ao programa do PMDB e admitiu mudanças. “No PMDB não existe centralismo democrático. Existe maioria”, disse dando uma estocada no PT. Ex-ministro de Dilma e amigo de Temer, o presidente da Fundação Ulysses Guimarães garantiu, ainda, que a acusação de corrupção contra Eduardo Cunha, um dos principais líderes do PMDB, não vão constranger o partido. “Estamos assistindo à presidente da República e ao presidente da Câmara discutirem o próprio mandato enquanto a economia vai para o vinagre”, afirmou. “É isso que nos preocupa.”

‘Reflexão’
Informados de que o congresso corre risco de ser esvaziado, dirigentes do PMDB adotaram o discurso de que o encontro foi convocado pela Fundação Ulysses Guimarães para uma “reflexão” do momento. O PMDB, agora, aposta suas fichas na convenção nacional de março de 2016, quando será escolhida sua nova direção.

Até lá, a estratégia do partido consiste em ganhar tempo para se descolar da crise, dando visibilidade às propostas da legenda para a área econômica.

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