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Plano de Mandetta deixaria menos mortos por Covid-19, diz ex-secretário

Em entrevista ao Metrópoles, ex-secretário de Vigilância em Saúde vê risco no discurso de Bolsonaro sobre uso da cloroquina

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Wanderson de Oliveira era o responsável pela Vigilância em Saúde COletiva
1 de 1 Wanderson de Oliveira era o responsável pela Vigilância em Saúde COletiva - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

O ex-secretário de Vigilância em Saúde Wanderson Kleber de Oliveira, um dos principais auxiliares do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, diz que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem uma certa “responsabilidade social” sobre as milhões de mortes causadas pela Covid-19 ao flexibilizar o isolamento social e descumprir recomendações de técnicos.

Em entrevista ao Metrópoles, Wanderson nega que Bolsonaro seja diretamente culpado pelas mortes, mas ressalta que as medidas adotadas pelo presidente resultaram em um aumento do número de infectados e óbitos pelo novo coronavírus. Hoje, o país tem mais de 1,7 milhão de casos e 70 mil mortes.

“Não digo que tem culpa, porque os atos que ele fez não têm uma relação direta. Compete ao vírus essa responsabilidade da gravidade; não tem tratamento específico, as pessoas que apresentam condições de risco maior têm quadros mais graves… Então, não é uma relação de culpa, é uma relação de responsabilidade social”, comenta.

“É uma questão de dificultar. Por exemplo, se a gente tivesse adotado o distanciamento e o isolamento lá atrás, como nós estávamos planejando, possivelmente a gente estaria em uma situação melhor, com menos complexidade”, completa

Wanderson de Oliveira é doutor em epidemiologia pela UFRGS. Deixou o cargo de secretário de Vigilância em Saúde no último dia 25 de maio, após a saída de Nelson Teich da pasta. Hoje, a pasta segue com um ministro interino, o general Eduardo Pazuello.

Cloroquina

O epidemiologista vê riscos na divulgação do uso da hidroxicloroquina promovido pelo presidente Bolsonaro, principalmente, ao anunciar na terça-feira passada (7/7) estar infectado pelo novo coronavírus. O mandatário da República, que se desenteu com dois ex-ministros da Saúde justamente por causa do uso da cloroquina, fez questão de mostrar, em vídeo, que estava tomando o remédio.

Wanderson diz acreditar que essas manifestações são preocupantes, sobretudo, para os médicos, que estão sendo pressionados por parte da população, incentivada pelo discurso bolsonarista, a prescrever o medicamento, que ainda não tem eficácia comprovada nem pela Organização Mundial da Saúde (OMS) nem pelo Ministério da Saúde.

“É arriscado, porque aqueles médicos que não querem prescrever estão sendo pressionados pela população. Isso é preocupante. Então uma pessoa que seja cardíaca e pressiona um médico lá no interior, em uma periferia, para tomar [a cloroquina], e esse médico prescreve porque foi pressionado, e essa pessoa morre, vai recair sobre esse profissional a responsabilidade”, aponta.

O ex-secretário afirma que essas manifestações de Bolsonaro “são sempre contrárias a tudo o que o ministério historicamente falou, que é evitar a automedicação”. Ele critica ainda a ampliação do uso da hidroxicloroquina para gestantes e crianças e adolescentes que passaram a fazer parte dos grupos de risco. A ação foi autorizada pela pasta no último dia 17 de junho, ou seja, após sua saída.

Ele [Bolsonaro] está fazendo, segundo a imprensa, monitoramento duas vezes por dia de cardiologia. Ele tem médico particular, médico 24 horas, toda uma estrutura, e isso não está disponível para a população. Então é uma coisa desproporcional”, aponta.

Militarização

Wanderson aponta também uma preocupação sobre militares que exerçam cargos técnicos no Ministério da Saúde. Desde a saída de Mandetta da pasta, Bolsonaro tem nomeado uma série de integrantes das Forças Armadas na pasta que, segundo levantamento do Metrópoles, nunca esteve tão “verde-oliva”, nem mesmo nos 21 anos da ditadura militar.

“[Não tem problema] Desde que as pessoas ouçam os técnicos que trabalham no ministério. A depender das posições em que os militares estiverem, não altera muito. Porque se for para áreas em que o conhecimento técnico seja relativo, como a logística, vai ser até importante. Agora, na área epidemiológica, a interpretação, as análises, não é só fazer gráfico, não, é muito mais que isso”, afirma.

Testagem

O ex-secretário aponta também para uma baixa testagem feita pelo Ministério da Saúde. De um universo de 46 milhões de exames prometidos para detectar a Covid-19, a pasta aplicou, até o momento, somente 3,1 milhões, ou seja, 6,7%. Wanderson alerta que mesmo com a pouca quantidade, o país segue nas primeiras colocações dos mais afetados pela pandemia.

“Mesmo olhando para os dados hoje, o Brasil, apesar de estar testando menos do que outros países, nós estamos com mais casos do que os Estados Unidos nessa mesma data. Isso significa que temos muita circulação dos vírus porque, apesar dos testes serem poucos, a gente está com muito resultado positivo. Então, significa que nessas regiões o vírus circulou muito mais intensamente”, afirma.

“Isso é parte de um problema. O mais problemático dessa história, não é somente o teste que é baixo, o que é um fato, a questão é não ter informações sobre a síndrome gripal, ou seja, saber quantas pessoas estão gripadas e quantas moram naquela casa e pegaram gripe. Se eu aumento o número de pessoas com casos leves sendo testadas, vou ter uma visão mais clara”, complementa o epidemiologista.

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