Planalto vê cerco a Temer e possível terceira denúncia
Para os interlocutores próximos ao presidente, há um complô para impedir que Temer candidate-se nas eleições
atualizado
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Interlocutores do Palácio do Planalto classificaram como “um ato espetaculoso” a decisão do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, de autorizar a prisão de amigos próximos do presidente Michel Temer. Dizem haver um “complô” para tentar inviabilizar a candidatura de Temer à reeleição.
Entre os presos nessa quinta-feira (29/3) na Operação Skala, estão o advogado e ex-assessor do governo José Yunes, com quem Temer jantou na última segunda-feira em São Paulo, e o coronel reformado da PM João Baptista Lima Filho.
O presidente planeja entrar no páreo para um novo mandato e pode ter o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) como vice. Meirelles deixará o PSD e se filiará ao MDB no dia 3. Para integrante da cúpula do MDB, um sinal de que a intenção dos mandados de prisão expedidos seria dificultar a consolidação de Temer na disputa eleitoral é a coincidência de datas. Para os emedebistas, a operação contra amigos de Temer às vésperas do ato de filiação de Meirelles não é um acaso.
Apesar da repercussão negativa para o governo, pessoas próximas ao presidente afirmam que as prisões reforçam a certeza da necessidade de o emedebista ir para o enfrentamento. “Entendemos que a decisão do presidente de colocar a possibilidade de vir a disputar a eleição faz com que novamente dirijam contra nós os canhões da conspiração. O ocorrido hoje (sexta-feira, 30) não deixa de ser um reconhecimento da assertividade das minhas afirmações. Buscava-se investigar um assassinato onde não existe cadáver. O Decreto dos Portos não beneficia a Rodrimar”, afirmou o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
Oficialmente, Marun tentou minimizar a possibilidade de nova denúncia: “Se existe respeito à Constituição Federal neste país, e entendemos que ainda deve existir, o presidente não será denunciado.”
Em 2017, a Câmara barrou as duas denúncias apresentadas pelo ex-procurador-geral Rodrigo Janot contra Temer – uma por obstrução de Justiça e organização criminosa e a outra por corrupção passiva.
Ontem, Marun disse que é “DNA do Ministério Público” o viés acusatório, mas Raquel Dodge age de forma distinta de Janot. “Ela toma decisões referentes a pessoas e fatos anteriores ao decreto. É o DNA do Ministério Público, o viés acusatório. Por isso, existe o Judiciário. E o Judiciário e o MP não podem andar mancomunados. O MP é parte acusatória. Ela atuou e não vejo na doutora Raquel o mesmo viés (de Janot) de alguém de dentro do gabinete recebendo dinheiro para orientar gravações”, disse, em referência ao ex-procurador Marcelo Miller, que auxiliou a delação de Joesley Batista.
Compromissos mantidos
Temer manteve nessa quinta-feira (29) a agenda em Vitória (ES), onde inaugurou um aeroporto. Em seu discurso, não fez nenhuma menção à ação da PF. Os adversários terão de fazer “malabarismo” se quiserem criticar a sua gestão, afirmou. O presidente disse ainda ser “dificílimo” o cargo que ocupa, pois está “sujeito a bombardeios a todo momento”.
Temer estava ao lado de ministros da área econômica, senadores e deputados capixabas. Mas, uma ausência causou surpresa: a do governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, emedebista como o presidente. Ele mandou o vice, César Colnago (PSDB), em seu lugar.
Hartung não foi à cerimônia devido à operação da PF. “O país amanheceu mais uma vez sobressaltado com fatos políticos preocupantes. Apoio a investigação dessas denúncias com profundidade e, como democrata, também defendo o amplo direito de defesa de todos os citados”, declarou o governador por meio de nota. “Ressalto que os episódios políticos sucessivos e graves dessa natureza têm prejudicado o país e a economia.” À tarde, ao voltar para Brasília, Temer reuniu-se com ministros.