Planalto quis mudar bula da cloroquina para tratar Covid, diz Mandetta
O ex-ministro participa da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que investiga gestão federal na pandemia
atualizado
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O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sugeriu a mudança na bula da hidroxicloroquina para que o medicamento fosse indicado ao tratamento do novo coronavírus. A fala ocorreu durante participação na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, nesta terça-feira (4/5).
Segundo Mandetta, a sugestão ocorreu durante reunião ministerial e que Bolsonaro possuía um “assessoramento paralelo” ao adotado pelo Ministério da Saúde, com base nas recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).
“Testemunhei várias vezes, em reuniões de ministros, o filho do presidente [Carlos Bolsonaro], que era vereador no Rio de Janeiro, tomando as notas da reunião. Eles tinham constantemente reuniões com grupos dentro da presidência. Tinham um assessoramento paralelo”, afirmou.
Coube a Mandetta e ao diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, barrar a investida de Bolsonaro. “Estive dentro do Palácio do Planalto, quando fui informado que era para participar de uma reunião com vários ministros e médicos que iam propor esse negócio de cloroquina”
“Barra Torres disse que isso não. Havia um decreto presidencial para que fosse sugerido mudar a bula da cloroquina na Anvisa para coronavírus”, completou.
Dinâmica dos trabalhos
O Senado Federal ouve, nesta terça-feira (4/5), os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. A dupla será ouvida na condição de testemunha.
A sessão teve início por volta das 10h20. O primeiro a depor é Mandetta, que estava à frente da Saúde quando a pandemia chegou ao Brasil. Ele foi demitido em abril do ano passado após divergir do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na condução da crise do coronavírus no país.
Desde o início, Mandetta se mostrou contrário ao tratamento precoce contra a Covid-19, amplamente defendido pelo chefe do Executivo, e favorável a um lockdown nacional para conter a disseminação do vírus.
Internamente, parlamentares da oposição demonstraram grande expectativa com a fala de Mandetta. Os congressistas querem saber se eventuais erros cometidos no início do enfrentamento da crise sanitária acarretaram a explosão de casos registrados no país no último ano, com a situação agravada em 2021.
Às 14h, está previsto o depoimento de Nelson Teich. O ex-ministro da Saúde ficou no cargo menos de um mês também por discordar do presidente Bolsonaro sobre o uso de protocolo sem comprovação científica para tratar a doença. “Não vou manchar a minha história por causa da cloroquina”, disse Teich ao se despedir da pasta.