Planalto prepara nova “desbolsonarização” no GSI após demissão de ministro
Planalto quer levantar quais militares ainda estão em sintonia com a gestão bolsonarista e realizar novas dispensas na Presidência
atualizado
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Após a primeira baixa ministerial do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Palácio do Planalto prepara uma nova onda de “desbolsonarização” de militares do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Ganhou força também o movimento para que o GSI perca o status de ministério e tenha a estrutura reformulada.
Nessa quarta-feira (19/4), o governo viveu o que foi considerada por auxiliares a “primeira crise política” da gestão petista. O general da reserva Gonçalves Dias pediu demissão do cargo de ministro após a CNN Brasil divulgar um vídeo mostrando o então chefe do GSI dentro do Planalto durante as invasões golpistas de 8 de janeiro.
Nas gravações é possível ver, além de Gonçalves Dias, militares do GSI, responsáveis pelo esquema de segurança de autoridades e pelo resguardo dos palácios do Planalto e da Alvorada, guiando os invasores para portas de saída, em clima ameno.
Com a repercussão do caso, o entorno do presidente considerou como “insustentável” a permanência de Gonçalves Dias no governo. Agora, o Planalto quer levantar quais militares ainda estão em sintonia com a gestão bolsonarista. A ideia é fazer uma nova leva de dispensa de militares da Presidência.
No início do ano, logo após os ataques de 8 de janeiro, mais de 60 militares do GSI foram dispensados da Presidência da República. Eles eram de patentes mais baixas, como soldados, cabos e sargentos. A maioria dos integrantes do GSI são militares das Forças Armadas, que devem voltar para suas funções.
As novas dispensas devem ser capitaneadas por Ricardo Cappelli, designado por Lula para comandar o Gabinete de Segurança Institucional de forma interina. Cappelli, que foi interventor da Segurança Pública do Distrito Federal após as invasões de 8 de janeiro, é secretário-executivo do Ministério da Justiça desde o início do ano. Ele é figura de confiança do ministro Flávio Dino. A ideia é que ele coordene as mudanças entre os militares já a partir desta quinta-feira (20/4).
CPMI do 8 de janeiro
Após o episódio envolvendo o GSI, a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos golpistas de 8 de janeiro ganhou força entre parlamentares da oposição. Com isso, o Planalto também mudou o discurso.
Inicialmente, o governo era contra a instalação do colegiado por entender que os atos já eram investigados pela Justiça. Agora, o Executivo já articula com lideranças a participação de parlamentares da base em uma eventual CPMI.
“Se o Congresso quiser instalar a CPMI, estamos prontos para ajudar, inclusive para investigar”, disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). “Vamos colaborar, vamos para dentro e vamos querer que a CPMI apure tudo para que a verdade seja cada vez mais explicitada para o país”, acrescentou.
O presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), prometeu que fará a leitura do requerimento de instalação do colegiado na próxima semana, caso haja apoio suficiente à criação do grupo.
Para uma CPMI ser instalada, são necessárias 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado. Segundo o líder da Oposição na Câmara, Carlos Jordy (PL-RJ), até o momento, há 194 assinaturas de deputados e 37 de senadores.
“O vídeo que foi divulgado hoje não encobre nada daquilo que já está na consciência democrática do Brasil, que são os atos patrocinados por eles. Em função disso, nós queremos uma apuração ampla, geral e irrestrita, doa a quem doer. Ninguém brinca com a democracia”, afirmou Guimarães.