Planalto estende negociação de cargos ao Senado
Ideia é mostrar aos parlamentares indecisos que Dilma tem apoio no Senado e, com isso, incentivar o “voto útil” contra seu afastamento na Câmara
atualizado
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O governo iniciará nesta semana uma ofensiva para distribuição de cargos também no Senado, com o objetivo de construir um “blocão” contra o impeachment na Casa. A ideia do Palácio do Planalto é mostrar principalmente aos deputados indecisos que a presidente Dilma Rousseff tem apoio no Senado, e, com isso, incentivar o “voto útil” contra o seu afastamento na Câmara.
A nova estratégia, combinada com a reforma ministerial, foi discutida no domingo (3/4), durante reunião de Dilma com ministros do PT. Até agora, o Planalto concentrava suas energias na Câmara, mas a ordem é ampliar o “varejo” político para acomodar apadrinhados por senadores aliados em postos-chave, como ministérios e bancos públicos, aproveitando o espólio do PMDB, que anunciou o rompimento com o governo.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chegou a dizer ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, se a deposição de Dilma receber sinal verde da Câmara, será difícil reverter o quadro. A percepção ainda é essa, mas o governo acredita que o “blocão” – montado por senadores do PT, PC do B e uma ala do PDT e do PRB, além de “pedaços” do PMDB e PSB – vai atrair o “baixo clero”.
Dilma se reuniu no domingo com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Jaques Wagner (Gabinete Pessoal) e José Eduardo Cardozo (Advocacia Geral da União), no Palácio da Alvorada, para tratar da reforma no primeiro escalão. A nova composição da equipe ainda não foi anunciada por causa do impasse com o PMDB.
Dos sete ministros do partido comandado pelo vice-presidente Michel Temer, apenas Henrique Eduardo Alves (Turismo) entregou o cargo. Os demais disseram a Dilma que são solidários a ela e estão dispostos a se licenciar do PMDB para ficar a seu lado.
A tendência é que Dilma mantenha os titulares da Saúde, Marcelo Castro (PMDB-PI), e da Ciência e Tecnologia, Celso Pansera (PMDB-RJ), indicados pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ). Uma negociação feita por Lula também assegurou a permanência de Helder Barbalho à frente da Secretaria dos Portos. O ministro é filho do senador Jader Barbalho (PMDB-PA).
Com essa configuração, partidos aliados assediados pelo Planalto na luta contra o impeachment, como o PP – que reivindica Saúde – ganharão outras pastas. Nesse cenário, a expectativa é que o PT de Dilma e Lula perca espaço. A presidência da Caixa Econômica Federal, hoje com o PT, também deve ir para o PP, que controla Integração. Se o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga (PMDB), retornar ao Senado para engrossar o bloco de defesa de Dilma, a pasta pode ficar com o PR, que comanda Transportes.
Espaços vazios
Antes de anunciar a reforma ministerial, a presidente fará, ainda nesta segunda-feira (4/4), nova rodada de conversas com senadores e deputados. O Planalto não quer deixar insatisfeitos pelo caminho.
“Repactuar o governo é reorganizar a base de apoio. Isso não tem nada a ver com compra de votos. Trata-se de ocupar espaços vazios”, afirmou Jaques Wagner. “Chegou a vez dos pequenos partidos, sempre deixados para trás porque o PMDB tinha os melhores ministérios.”