Planalto envia à CPI registros de reuniões com “ministério paralelo”
Senadores avaliam que pessoas de fora da estrutura do Ministério da Saúde aconselhavam presidente Jair Bolsonaro sobre a gestão da pandemia
atualizado
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A Casa Civil da Presidência da República enviou à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid informações sobre reuniões realizadas para tratar da pandemia. Os documentos mostram que pessoas apontadas como integrantes de um “ministério paralelo” da Saúde participaram de ao menos 24 reuniões para tratar de estratégias do governo no combate à pandemia.
A informação foi publicada originalmente na Folha de S.Paulo e consta em documentos enviados à CPI da Covid no último dia 24.
Para senadores independentes e de oposição da CPI, o “ministério paralelo” seria um grupo de aconselhamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) composto por pessoas que não integram a estrutura do Ministério da Saúde. Esse grupo teria influenciado posições do presidente na gestão da pandemia, como na defesa do chamado “tratamento precoce”.
Entre os nomes, estão os de filhos do presidente, o vereador Carlos (Republicanos-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), além do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), do assessor especial da Presidência Tercio Arnaud, do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten e da médica Nise Yamaguchi.
Apesar de Bolsonaro não estar presente em seis das 24 reuniões, todas ocorreram no Palácio do Planalto ou no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República.
Os filhos do presidente estiveram em ao menos cinco reuniões. Três delas foram por videoconferência, para tratar do mesmo tema: “governadores e pedidos de apoio para enfrentamento da crise, as pautas são referentes a saúde, economia e outras áreas”.
O assessor Tercio Arnaud, presente em uma das reuniões, é integrante do chamado “gabinete do ódio”, bunker digital do Palácio do Planalto direcionado a ataques contra opositores do governo.
Já a médica Nise Yamaguchi esteve em ao menos quatro reuniões no Planalto, segundo os registros da CPI. Em uma delas, em abril de 2020, tratou sobre hidroxicloroquina, remédio que não tem eficácia comprovada contra a Covid-19. O presidente fez postagens sobre a médica nas redes sociais para falar sobre o medicamento.
Há ao menos 11 registros com a presença do deputado Osmar Terra entre 4 de fevereiro do ano passado até 30 de março deste ano. Em quatro, consta na agenda somente a presença dele e do presidente, com tema classificado como “diversos”. Médico, Terra tem sido um dos principais conselheiros de Bolsonaro.
Em outra, ele aparece com Eduardo Pazuello, na data em que este tomou posse como ministro da Saúde. Na ocasião, a pandemia já somava no país 4,4 milhões de casos e 133 mil mortes.
Já o ex-secretário Fabio Wajngarten aparece em ao menos seis agendas sobre a pandemia, abordando ações governamentais para o combate do coronavírus, vacinação e a situação do estado do Amazonas, que passava por uma crise na falta de fornecimento de oxigênio para pacientes internados com a doença.
O assessor internacional da Presidência Filipe Martins, o ex-assessor Arthur Weintraub e o empresário Carlos Wizard, apontados na CPI como integrantes do grupo paralelo, até então não apareceram nas listas.
No entanto, nem todos os membros que participaram dos encontros foram divulgados nas planilhas das reuniões entregues à CPI.
O colegiado convocou, nessa quarta-feira (26/5), o ex-assessor da Presidência da República Arthur Weintraub, após o Metrópoles publicar reportagem e vídeo indicando que ele coordenou o grupo de aconselhamento paralelo de Bolsonaro. O assessor da Presidência Filipe Martins e o empresário Carlos Wizard, ambos supostos integrantes do “Ministério Paralelo”, também foram convocados.
“Ministério paralelo”
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou, nessa quinta-feira (27/5), que há provas demasiadas da existência do “ministério paralelo” de aconselhamento ao presidente Bolsonaro.
“Eu queria dizer que as expectativas todas, sem exceção, que tínhamos caminharam no sentido das materializações. Temos provas sobejas do ‘ministério paralelo’, consultoria que despachava com o presidente da República e decidia diferente do Ministério da Saúde. Temos provas de algumas pessoas que participaram dessa consultoria”, declarou o relator a jornalistas.