Planalto avalia que prisão de Queiroz joga querosene na crise política
O fato da prisão do ex-assessor ter ocorrido na casa do advogado da família Bolsonaro acentua crise. Relação instável prejudica o clã
atualizado
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Integrantes do alto escalão do governo admitem que a prisão de Fabrício Queiroz, acusado de operar um esquema de desvio de dinheiro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) quando era assessor do então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), é um “péssimo recado político” e um “embaraço jurídico” complexo de ser solucionado sem traumas.
O ex-policial militar Fabrício Queiroz foi preso em uma operação desencadeada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) em conjunto com a Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo (MPSP), nesta quinta-feira (18/06). Horas depois, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez eco às críticas de Flávio, que interpretou a prisão como recado político ao clã, convocou uma reunião e cobrou uma reação do governo.
Apesar do desejo do presidente, ministros da ala militar estão preocupados com a defesa. Eles avaliam o risco de que Queiroz, suspeito de ser o operador do esquema de rachadinha, teria relações financeiras de empréstimos com o presidente.
O fato de ele ter sido encontrado na casa do advogado da família Bolsonaro, em Atibaia (SP), deixou o clima ainda mais pesado e, na avaliação deles, levou a crise para dentro do Palácio do Planalto. “Vão entender que estão protegendo o operador financeiro de uma suposta organização criminosa. Recado político horrível’, comentou um assessor palaciano próximo aos militares.
Aspectos jurídicos
Se no campo político a maré está ruim, na praia jurídica a situação também despertou a atenção. Para o governo, a estratégia de afasta-aproxima da família com Queiroz não colabora para a defesa de Flávio Bolsonaro e seus pares.
Eles destacam que Flávio teve diversas idas e vindas sobre a sua relação com o assessor suspeito de coordenar o esquema de corrupção. Inicialmente, a família Bolsonaro disse: “os rolos financeiros dele, ele que explique”.
Os desentendimentos se agravaram em em maio de 2019. À época, Flávio disse em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo que Queiroz “não era merecedor da confiança dele e que quanto mais ele demorava a das esclarecimentos, mais o prejudicava”.
No dia que a Polícia Federal fez uma operação envolvendo o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC-RJ), porém, cujo governo está sob suspeita de comprar respiradores superfaturados para tratamento de infectados pelo coronavírus, Flávio voltou a elogiar Queiroz em uma live.
“Queiroz, um cara correto, trabalhador, dando o sangue por aquilo que acredita”, disse Flávio no elogio ao ex-assessor.
Dessa forma, o discurso de que “não temos nada com isso” se comprometeu, sobretudo devido à relação pessoal entre as famílias.
Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontou que Queiroz recebeu depósitos de nove assessores de Flávio e ainda emitiu um cheque de R$ 24 mil para a primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Segundo o presidente da República, o cheque serviu para quitar um empréstimo feito por ele a Queiroz.
Depois, em outubro de 2019, o jornal O Globo revela áudios vazados de cobranças de Queiroz ao clã Bolsonaro. Queiroz dizia para a família Bolsonaro que a Câmara e o Senado têm 500 cargos e que poderia ser indicado para qualquer comissão sem vinculá-lo ao clã. Investigadores entenderam que a mensagem era um sinal de que o esquema da Alerj poderia continuar sendo operado.
Queiroz nas gravações ainda se queixou do abandono político da família Bolsonaro. “Não vejo ninguém mover nada para tentar me ajudar”, cobrava.
O clã Bolsonaro disse à época que os áudios eram falsos. Contudo, a defesa do Queiroz, no período exercida pelo advogado Paulo Klein, confirmou a autenticidade. Disse ainda que Queiroz não tinha apoio político de ninguém a não ser de sua família e de sua defesa.
Almoço no Planalto
Nesta quinta-feira, após a prisão de Queiroz, o presidente Bolsonaro almoçou com ministros e aliados no Palácio do Planalto. Um encontro para costurar as defesas jurídica e política do clã.
Estiveram no encontro, o o líder do governo na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), outros parlamentares apoiadores, e os ministros general Braga Netto (Casa Civil), chanceler Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Jorge Oliveira (Secretaria-Geral da Presidência) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo).