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Pesquisa: 40% das mulheres dizem “não ter perfil” para política

Na sequência, muitas dizem que uma eventual candidatura “não está no foco” e que elas tem um “desinteresse” pelo assunto

atualizado

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Agência Brasil
mulheres política
1 de 1 mulheres política - Foto: Agência Brasil

O Brasil ainda é um dos países que menos tem mulheres exercendo cargos políticos. Uma série de fatores influencia essa realidade. Entre elas, a falta de incentivo social e financeiro.

Nesse contexto, a pesquisa Perfil da Mulher na Política, elaborada pelo projeto Me Farei Ouvir e pela ONG Elas No Poder buscou saber o porquê as mulheres não se candidatam.

Em questionário baseado em uma plataforma online, respondido por 4.111 participantes em todas as regiões do Brasil, entre as mulheres que afirmaram não querer se candidatar, a justificativa mais comum foi “falta de perfil” (40,6%), seguido de “não está no foco” (20,10%) e “desinteresse” (13,7%). Há, ainda, “incompatibilidade com partidos” (2,5%) e “falta de apoio” (1,7%).

Para cientista política Letícia Medeiros, pesquisadora e cofundadora do Elas no Poder, o resultado da pesquisa mostra como as mulheres ainda não são compreendidas como peças de um ambiente político, principalmente porque as áreas no processo de socialização feminina mais comuns são no espaço privado – como dentro de casa ou em atividades domésticas.

Letícia justifica que essa “falta de perfil” está muito associada com a descrença da autoimagem, ou seja, mulheres não se sentem acolhidas ou empoderadas nos espaços políticos.

“Perto das eleições de 2018, acompanhei muitas candidaturas femininas e, frequentemente, tive o papel de incentivar as mulheres a não desistirem da corrida eleitoral.  Vi muitas delas duvidarem da capacidade, mas nunca vi homens na mesma situação”, pontua.

“Elas existem”
Baseada também em estudos internacionais, a cientista política afirma que além do baixo incentivo social, há outros entraves que afastam as mulheres da política: a ambição; a dupla jornada, o ambiente partidário masculino e diretórios compostos por homens, que decidem quem se candidata e com quanto será bancada.

“Elas existem, estão mobilizadas, mas ainda não estão suficientemente empoderadas para entenderem que ali também é um espaço delas, que pode acolhe-las. “Por isso acredito que a sociedade civil e os partidos políticos podem criar estratégias para recrutá-las. Legendas ainda são a principal porta de entrada na política. Se você é podada, qual motivação terá para permanecer?”, questiona Medeiros.

Os dados foram coletados entre 4 de novembro de 2019 e 20 de dezembro do mesmo ano. Com as eleições municipais próximas, a pesquisa testou ainda a ambição política das mulheres. A maioria delas não tem intenção de se candidatar a qualquer cargo político (54%), enquanto parte das integrantes já tinham disputado alguma eleição (6%) e apenas 1% foi eleita.

Maternidade
O estudo lançado nesta segunda-feira (02/03/2020) revela ainda que as mulheres que já são mães ou que ainda pretendem ser estão mais inclinadas a se candidatar do que as que não pretendem ter filhos. Entre as que responderam que pretendem ou talvez participem de uma eleição, 47% já são mães e 48% querem ser mães no futuro.

Medeiros explica que a maternidade na política se difere da lógica da maternidade no mercado de trabalho – que muitas vezes trava a carreira da mulher.

“A maternidade pode ser um gatilho interessante para atrair o grupo e não ser um fator que freia, como estamos acostumados a ver. Quando a mulher é mãe, ela cria um senso de propósito, de almejar mudanças. Isso pode mexer no protagonismo delas no poder”.

Atualmente, apenas 10,5% da Câmara dos Deputados é composta por mulheres. O índice é tão baixo que o Brasil ocupa o 152º lugar entre 192 países que mais tem representatividade feminina na Casa Legislativa, segundo ranking do organismo internacional Inter-Parliamentary Union, que repassou as informações ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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