Pautas-bomba no Congresso põem sob risco ajuste fiscal de Temer
Parlamentares tiram da gaveta projetos que criam gastos superiores a R$ 20 bilhões e ameaçam tentativa de equilíbrio das contas públicas
atualizado
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Perdão de parte da dívida dos produtores rurais, atualização da tabela do Imposto de Renda em 11,4% e parcelamento de valores devidos pelas prefeituras à Previdência são alguns projetos antigos que, discretamente, os parlamentares estão tirando da gaveta e que podem dificultar a tentativa de ajuste das contas do governo federal.
O Congresso, que já tem dificultado a aprovação de medidas do ajuste fiscal, ameaça com esses projetos criar gastos que podem superar R$ 20 bilhões no primeiro ano após sua aprovação. O movimento chega a ser comparado ao da “pauta-bomba” armada pelo ex-deputado Eduardo Cunha contra Dilma Rousseff em 2015.
Um exemplo de criação de gastos pelos parlamentares é a recente ampliação do Programa de Regularização Tributária Rural. Em um acordo de última hora na semana passada, governistas e oposição aprovaram condições mais amigáveis aos devedores, com perdão integral de multas e juros, sem limite para inclusão de dívidas no Refis Rural. Assim, crescerá a renúncia fiscal originalmente calculada em R$ 5 bilhões. Na mesma linha, a bancada municipalista pressiona por nova rodada de negociação de dívidas com a União.
O Congresso também avalia mudança da Lei Kandir – programa de compensação a exportadores -, que exigiria repasse anual de R$ 9 bilhões da União aos estados.
Em todos esses casos, as iniciativas precisam seguir a tramitação normal no Congresso e dependem dos presidentes da Câmara e do Senado para chegar ao plenário, mas o simples avanço pode virar munição para pressão contra o governo.
Centrão
Projetos menos conhecidos também têm seguimento e várias iniciativas vêm do Centrão – bloco de partidos cada vez mais insatisfeitos com Temer. A proposta feita em 2011 pela deputada Gorete Pereira (PR-CE) é um exemplo: obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a criar uma unidade de atendimento para mulheres a cada 100 mil brasileiras.
O texto ficou seis anos parado e chegou a ser arquivado, mas, nas últimas semanas, foi retomado e aprovado pela primeira vez em uma comissão. O projeto obrigaria o governo a criar mais de mil unidades de saúde.
Há, ainda, proposta de criação de piso salarial para agentes de saúde; projeto para conceder bolsas de estudos a filhos de policiais mortos em serviço; concessão de indenização a vítimas de violência familiar; inclusão de remédios contra depressão e tireoide no programa Farmácia Popular, entre outros.
“Partidos podem querer aproveitar para pressionar o governo. O meu não tem interesse em lançar candidato a presidente, mas quem quer concorrer pode querer não deixar as coisas fáceis para Temer e Meirelles”, diz o presidente da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, Covatti Filho (PP-RS).
Responsável pela proposta de atualização da tabela do IR em 11,4%, o deputado Pepe Vargas (PT-RS) reconhece que esse tipo de iniciativa pode se transformar em instrumento de pressão: “O pessoal do Centrão pode até usar o projeto para chantagear Temer”.
O governo aposta em um novo desbloqueio de despesas do Orçamento, ainda este mês, e nas negociações em torno da montagem da reforma ministerial para acalmar os ânimos dos deputados e conseguir apoio para aprovar das medidas fiscais. Com isso, espera desarmar a tramitação dos projetos que podem ampliar o buraco das contas públicas.