Paulo Pimenta sobre despedida de Lula: “O Ciro fez uma opção errada”
Deputado detalha ao Metrópoles momentos que antecederam prisão, revela mágoa de aliado ausente e registra solidariedade de Manuela e Boulos
atualizado
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Enviado especial para São Bernardo do Campo (SP) – A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na noite de sábado (7/4), levou uma das lideranças políticas mais populares da história do Brasil da condição de herói de parcela significativa da população a um homem atrás das grades, acusado de corrupção. A mobilização tanto para prender quanto para manter em liberdade o fundador do Partido dos Trabalhadores (sigla que comandou o país por 13 anos) trará consequências diretas às eleições de outubro, sejam elas com ou sem a participação de Lula, um dos líderes das intenções de voto a presidente da República.
O plano A do PT é que o ex-presidente encarcerado permaneça candidato. Ou, ao menos, seja símbolo e inspiração para os nomes da esquerda brasileira que venham a disputar o Planalto.
Sobre o futuro da mesma esquerda, que viu seu principal líder sair da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC sob escolta da Polícia Federal, o Metrópoles conversou com o deputado federal Paulo Pimenta (RS). Durante 2018, ele responderá pela Liderança do PT na Câmara. Aliado de Lula desde a década de 1980, o correlegionário esteve com o ex-presidente nos últimos instantes antes do cumprimento do mandado de prisão expedido pelo juiz federal Sérgio Moro.
Um novo nome forte do chamado “campo progressista” ainda não surgiu para suceder o ex-presidente Lula, inclusive no PT. No entanto, durante seu último discurso em liberdade, o político apontou para futuras esperanças, como Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e pré-candidato à Presidência pelo PSol, e a também postulante a presidente da República Manuela D’ávila, do PCdoB. Eles estiveram ao lado de Lula antes da detenção, o que foi visto pela cúpula petista como um belo gesto de solidariedade.A ausência mais sentida pelos seguidores de Lula durante a permanência no prédio da entidade onde construiu suas trajetórias sindical e política foi a do igualmente pré-candidato, pelo PDT, Ciro Gomes. Além de ser nome forte da chamada “centro-esquerda”, ele sempre esteve na lista de aliados do ex-presidente: o ex-governador do Ceará foi ministro da Integração Nacional da gestão Lula entre 2003 e 2006. Foi metralhado por Paulo Pimenta durante a entrevista ao Metrópoles.
Eu particularmente acho que o Ciro Gomes cometeu um grande erro de não procurar, de alguma forma, ser solidário ao Lula neste momento. Tanto pela liderança política que ele é quanto pelo capital eleitoral que tem, e até pelo histórico de lideranças trabalhistas do PDT, como Leonel Brizola. Com certeza, se o Brizola estivesse vivo, estaria em cima do caminhão de som, naquele momento, ao lado do Lula. O Ciro fez uma opção errada
Preocupação com a militância
Segundo o deputado federal, a decisão de deixar o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC foi tomada exclusivamente por Lula e seus familiares. O político estava no prédio desde a expedição por Moro da ordem de prisão, na quinta-feira (5), e a multidão de simpatizantes que se instalou ao redor da entidade sindical a partir de então e até a saída do ex-presidente não estava disposta a permitir sua apresentação às autoridades nem a entrada de agentes federais para buscá-lo e conduzi-lo à cadeia.
“Mas havia a necessidade de preservar a integridade dos militantes, evitando uma intervenção policial ali, muito embora o presidente não quisesse seguir o roteiro determinado por Sérgio Moro”, afirma Paulo Pimenta, ao explicar o motivo de Lula ter decidido ir ao encontro dos policiais encarregados de conduzi-lo até a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR), onde ele deu início à execução penal de 12 anos e 1 mês de reclusão. “Ele, contudo, fez questão de deixar claro que não estava se apresentado, mas sendo preso. Tanto que foram buscá-lo lá no sindicato”, pontua.
Processo tendencioso
Todo o processo jurídico que levou o fundador do PT à cadeia pela segunda vez em sua trajetória política (a primeira foi em 1980), também recebeu duras críticas do parlamentar. Para exemplificar um possível direcionamento tendencioso da denúncia contra Lula, o deputado cita o caso do ex-governador tucano Eduardo Azeredo (MG), condenado em segunda instância por corrupção, mas que nunca foi preso.
Ele também ataca o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que teve medidas cautelares revogadas pelo Senado Federal, e o presidente da República Michel Temer (MDB-SP), com duas denúncias formuladas pela Procuradoria-Geral da República rejeitadas na Câmara dos Deputados. Assim, diz que o tratamento dado ao assunto pela mídia internacional deverá ser usado pelo PT para tentar a libertação do ex-presidente Lula. Já existem ações em órgãos internacionais pedindo a libertação e denunciando os supostos abusos da justiça brasileira no caso do ex-presidente.
“Os que acham que Lula se enfraquece estão redondamente enganados. Perante aos olhos da grande massa da população brasileira, mais uma vez, tudo isso vai reforçar a imagem de que quem paga a conta é o pobre ou quem está ao lado dos pobres”, diz Pimenta. “Os poderosos não passam por isso porque não aceitam esse tipo de pessoa, com a trajetória de Lula, para que possam continuar a ocupar o espaço sempre ocupado por eles”, acrescenta.
Para o deputado, tanto a retirada da ex-presidente Dilma Rousseff do Planalto, por meio do impeachment em 2016, quanto a inviabilização da candidatura de Lula à Presidência, a partir de sua prisão, fazem parte de uma tentativa da direita e alas conservadoras da sociedade de romper com a trajetória de quatro vitórias seguidas do partido nas eleições.
Estamos nos aproximando do pleito de 2018 e o Lula é favorito em todas as pesquisas. E eles não conseguem viabilizar o nome de um candidato. Então, como naquele momento [2016] a decisão foi por banir a Dilma da vida pública, a prisão de Lula foi a saída adotada para esse momento
Segundo o líder do PT da Câmara, o partido sustentará – e registrará em agosto – a candidatura do primeiro ex-presidente da República preso desde a redemocratização do país mesmo que ele permaneça atrás das grades. Dificilmente, no entanto, as urnas eletrônicas terão o rosto de Lula estampado, em outubro, entre os postulantes ao Planalto: a condenação em segunda instância judicial o torna inelegível, de acordo com as regras da Lei da Ficha Limpa.
A norma possibilita o registro da candidatura, mas, uma vez instado por outros partidos ou candidatos, o Tribunal Superior Eleitoral tende a vedar a participação, como indicou o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, em sua posse. Ainda assim, com a prisão de Lula, as peças do jogo eleitoral estão mais embaralhadas do que nunca.