metropoles.com

Partido dos Trabalhadores usa eleição para plano de ‘reconstrução’

A ideia é lançar o maior número possível de candidatos a prefeito, mesmo com poucas chances de vitória, para ocupar os espaços no debate político

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
José Cruz/ Agência Brasil
Rui Falcão
1 de 1 Rui Falcão - Foto: José Cruz/ Agência Brasil

Sem poder contar com financiamentos empresariais e em meio à maior crise de imagem de sua história, o PT decidiu adotar nas eleições municipais do ano que vem uma estratégia semelhante à que era usada nos anos 1980, nas origens do partido. A ideia é lançar o maior número possível de candidatos a prefeito, mesmo com poucas chances de vitória, para ocupar os espaços no debate político, principalmente no rádio e na TV, para fazer a defesa do partido.

Se nos anos 1980 as candidaturas foram usadas na estratégia de construção do PT e difusão de suas bandeiras, agora fazem parte do esforço de reconstrução da sigla, abalada por intermináveis denúncias de corrupção envolvendo seus principais líderes e pelas crises econômica e política que marcam o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.

Em documentos oficiais, o PT ainda fala em “manter a trajetória de crescimento”, mas em conversas reservadas integrantes do partido admitem que, em função da crise, a legenda deve, pela primeira vez em sua história, sair de uma eleição municipal menor do que entrou, “As eleições não são um fim em si mesmo”, diz a resolução eleitoral aprovada quinta-feira pelo Diretório Nacional do PT. O documento marca o início formal do debate eleitoral e define a estratégia para 2016.

“Vamos ter como centro do debate a defesa do PT. Isso vai nos levar a um número grande de candidaturas para que os espaços políticos sejam ocupados, principalmente onde há rádio e TV”, disse o presidente do PT, Rui Falcão. Segundo ele, a ideia é lançar o “maior número possível” de candidatos desde que não atropelem alianças já consolidadas com partidos da base. O foco principal é a eleição geral de 2018.

A estratégia vai no sentido contrário à adotada nos últimos pleitos, quando o PT adotou uma postura mais pragmática, privilegiando as cidades onde o partido tinha chances reais de vitória e, nas demais, fez coligações com aliados.

Antipetismo
Alguns pré-candidatos já reclamam da orientação. Muitos deles querem esconder o PT e Dilma e focar suas campanhas nas questões locais para se preservar do desgaste do governo e da rejeição ao partido.

O antipetismo já é visto como um dos maiores entraves para os candidatos do partido em 2016. Por isso, vários prefeitos estão deixando a legenda para concorrer por outras siglas. Dos 632 prefeitos eleitos pelo PT em 2012, 69 saíram. Isso levou o próprio Lula a abordar o assunto na quinta-feira. “Quem quiser sair que saia. Este partido tem porta de entrada e porta de saída”.

Outra semelhança da estratégia traçada para 2016 em relação aos primórdios do petismo é a falta de dinheiro. O partido aboliu as contribuições empresariais em suas campanhas. “Nada melhor do que usar o verbo e gastar muita sola de sapato”, disse Falcão em comunicado à militância petista.

Neste cenário, a reeleição de Fernando Haddad em São Paulo ganhou ainda mais importância. “Se ganharmos São Paulo ganhamos a eleição”, disse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em reunião do Conselho Político do PT, em setembro.

O prefeito enfrenta os piores índices de popularidade desde sua eleição e já consultou aliados sobre a possibilidade de deixar o partido. Segundo o presidente do PT paulistano, Paulo Fiorilo, a nova estratégia vai exigir esforço. “Aquela militância dos anos 80 ficou muito distante do PT”, admitiu. “Mas por outro lado o PT, com seus 37 diretórios zonais, tem mais capilaridade para fazer o diálogo com a população, algo necessário em uma campanha com pouco dinheiro”, completou. O PT também ainda não sabe o que fazer com Dilma. “Ainda não discutimos isso. Temos que saber se ainda vem algum recurso federal, com o que podemos contar”, disse Fiorilo.

Mudanças
Com mais de 50 anos de experiência, o sociólogo Luiz Werneck Vianna, professor da PUC-RJ, atua principalmente nas áreas de judicialização da política, relações entre os Poderes e, mais recentemente, nas gestões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo durante o 39.º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), em Caxambu (MG), Vianna avalia como “preocupante” o fato de Lula e dois filhos dele serem citados em investigações da Polícia Federal.

Werneck Vianna diz que “já passou da hora de o PT fazer uma autocrítica”. O professor acredita, no entanto, que o partido não deve acabar, mas “deve mudar”.

 

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?