Participação de Bolsonaro na ONU ainda é dúvida; governo teme desgaste
Decisão só deve ser divulgada na sexta-feira (20/09/2019), após avaliação médica da saúde do presidente
atualizado
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Às vésperas da viagem aos Estados Unidos para participar da abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se reuniu na manhã desta quarta-feira (18/09/2019) com o ministro de Relações Exteriores (MRE), Ernesto Araújo, e com o filho Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ), indicado para ser embaixador do Brasil em Washington.
Também estiveram presentes no Palácio da Alvorada o chefe do Gabinete de Gestão Institucional, general Augusto Heleno, e o médico cardiologista Ricardo Peixoto Camarinha, médico da Presidência da República.
Embora Bolsonaro tenha dito, antes de se submeter à cirurgia, que iria à ONU “até de cadeira de rodas”, ainda há dúvidas da participação no espaço tradicionalmente ocupado por chefes de Estados brasileiros: o discurso de abertura.
A confirmação só sairá na próxima sexta-feira (20/09/2019), depois de uma avaliação médica do presidente, de acordo com o porta-voz da Presidência da República, general Otávio Rêgo Barros. “Tudo está em aberto. Depende da avaliação”, comentou.
Terreno árido
O ambiente da assembleia geral é considerado hostil e o governo quer evitar o constrangimento de chefes de Estado virarem as costas para o presidente Bolsonaro durante o discurso. Eduardo saiu do Alvorada sem falar com a imprensa. A assessoria não confirmou o teor da conversa e informou que a ideia do deputado federal é acompanhar o pai na viagem aos Estados Unidos.
A aridez do terreno a ser pisado por Bolsonaro na ONU ficou ainda maior após declarações do presidente brasileiro a respeito da Amazônia, as suspeitas levantadas sobre Organizações Não Governamentais (ONGs) que atuam na região, os ataques à Brigitte Macron, mulher do presidente francês, Emmanuel Macron, além de sucessivas falas em que desqualificou a instituição internacional.
Nesta semana, documento produzido pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e entregue a instâncias da ONU em Genebra, na Suíça, traz uma série de frases ditas por Bolsonaro durante a campanha que indicam desvalorização do organismo multilateral: “Se eu for presidente, eu saio da ONU, não serve para nada essa instituição” e “é uma reunião de comunistas, de gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul, pelo menos”.
Outras frases polêmicas a respeito dos direitos humanos são citadas no relatório: “Conosco não haverá essa politicagem de direitos humanos, essa bandidagem vai morrer porque não enviaremos recursos da União para eles” e “quando tem gente que não tem o que fazer, vai lá para a cadeira de Direitos Humanos da ONU”.
Preparando o terreno
Enquanto a dúvida sobre a ida do presidente à ONU permanece, a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), alinhada a Bolsonaro, começou a preparar o terreno para que uma possível desistência do chefe do Executivo não seja encarada como receio das possíveis reações de líderes internacionais e sim a uma impossibilidade devido ao estado de saúde.
A parlamentar iniciou uma campanha nas redes sociais pedindo aos admiradores do presidente que peçam para que Bolsonaro não vá à assembleia geral. “Peço para as pessoas que querem que o Brasil dê certo que me ajudem”, disse Zambelli em vídeo publicado no Twitter e no Facebook. “A gente precisa do presidente cuidando do Brasil, mas para cuidar do Brasil ele precisa cuidar de si mesmo primeiro”, diz a deputada no vídeo divulgado.
Além do compromisso em Nova York, o presidente também agendou no estado norte-americano do Texas um encontro com empresários da indústria de armas.