Para voltar ao trabalho presencial, servidor do FNDE terá que pagar teste de Covid-19
A proposta é fruto de um acordo da gestão da autarquia com a associação de saúde dos funcionários. Sindicato anuncia “greve sanitária”
atualizado
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Um comunicado distribuído a funcionários do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), uma autarquia ligada ao Ministério da Educação (MEC), causou espanto entre os servidores da instituição nessa sexta-feira (14/08). A mensagem informa que o órgão pretende retornar ao trabalho presencial no próximo dia 9 de setembro e recomenda que todos os servidores, que hoje estão trabalhando de casa e que passarão a frequentar diariamente a sede do fundo, façam o teste de Covid-19.
Detalhe: o órgão informa que o custo do teste terá que ser bancado pelo próprio funcionário e anuncia um acordo feito entre a Associação dos Servidores do FNDE (ASFNDE) e a administração da instituicão.
A notícia deixou os servidores indignados. Além da notícia de que eles terão que pagar pelos testes, a administração do FNDE enviou uma tabela de preços com os endereços e telefones de laboratórios e regras para que cada servidor agende seu exame.
“O FNDE preparou um plano de trabalho para que servidores, colaboradores e estagiários, possam retornar de forma gradual e segura ao ambiente de trabalho a partir do dia 8 de setembro. Em parceria com a ASFNDE, a administração do FNDE negociou preços mais acessíveis para a realização de testes laborais para diagnósticos da Covid-19, conforme segue anexado. Assim, a administraçao do FNDE recomenda que todos façam o teste, quando do retorno das atividades presenciais, mas fica a cargo de cada um arcar com os respectivos custos”, diz a mensagem encaminhada aos funcionários.
Na tabela de preços anexada, os testes que detectam a presença do vírus e o que quantifica os anticorpos variam de R$ 85 a R$ 200. O comunicado ainda orienta que a escolha do laboratório ou clínica deve ser feita de forma que envolva menor risco de deslocamento da casa do paciente ao local.
Pechincha
“É um completo absurdo. Querem que a gente volte para o trabalho presencial bancando exames do nosso próprio bolso para, mais cedo ou mais tarde, sermos contaminados. Porque, queira ou não, temos um aglomeração na sede do FNDE, com mais de 1.500 servidores”, reclamou uma das funcionárias do órgão, que pediu para não ser identificada para evitar perseguições no ambiente de trabalho.
“É inacreditável como ainda anunciam uma coisa dessas como se fosse uma grande vantagem para o servidor. Uma pechincha. Uma promoção”, completou. O anúncio foi divulgado no âmbito do Programa de Qualidade da Gestão de Pessoal do FNDE.
Além disso, servidores do órgão alertam para o fato de a administração abrir um precedente que pode se espalhar pelos demais órgãos de federais que hoje ainda estão com trabalhos em casa. “Podem querer usar o FNDE como um precedente. Um exemplo que, na verdade, é um antiexemplo, já que isso pode ser disseminado por outros órgãos públicos. Poucos órgãos voltaram ao trabalho presencial. Então, querem fazer essa experiência como se a gente fosse cobaia”, disse um dos servidores.
Indicativo de greve
Alguns funcionários ainda apontaram que a Associação dos Servidores do FNDE não teve aval da categoria para tal negociação. “Se a associação negociou isso, foi sem consultar os funcionários”, revelou um funcionário.
O assunto já está sendo tratado pelo Sindicado dos Servidores Públicos Federais do Distrito Federal (Sindsep-DF). Houve uma reunião preliminar nessa sexta, na qual se discutiu o assunto e o sindicato pretende fazer uma assembleia virtual na próxima semana com o objetivo de definir providências, caso o FNDE não recue da decisão de voltar aos trabalhos sem bancar os custos de exames dos funcionários.
De acordo com o sindicato, deverá ser colocado em votação na próxima semana um indicativo de greve na assembleia virtual.
O Metrópoles entrou em contato com a assessoria do FNDE, mas não obteve retorno. O espaço continua aberto para as manifestações.
O presidente da ASFNDE, Manoel Antônio Rodrigues informou que não houve nenhum acordo da associação com a área de recursos humanos do FNDE. Ele informou que apenas repassou para o órgão uma relação de laboratórios com os quais a associação contribuiu para a negociação de preços.
“A associação contribuiu com a negociação de preços mais acessíveis junto aos laboratórios mas, em nenhum momento, houve chancela à ideia de que o servidor pagasse seus exames. Em nenhum momento a ASFNDE concordou com isso”, disse o presidente. Ele disse ter tomado conhecimento do comunicado por meio da reportagem.