Para “provar” fraude, Bolsonaro usa vídeo de “acupunturista de árvore”
Alexandre Chut denunciou irregularidade na eleição de 2014, disputada no segundo turno por Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB)
atualizado
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Na live que realizou na noite desta quinta-feira (29/7), na qual prometeu mostrar provas de fraudes no atual sistema de votação eletrônica e não cumpriu, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usou alguns “indícios” que mostrariam que está correto em suas acusações. Entre eles, o vídeo em que um astrólogo de nome Alexandre Chut, que diz fazer acupuntura em árvores, denuncia fraude na eleição de 2014, disputada no segundo turno por Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
Segundo a jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, Chut se apresenta como acupunturista, psicólogo e ambientalista e aparece em vídeo de 2018 de Naomi Yamaguchi, suplente de deputada federal e irmã de Nise Yamaguchi, médica bolsonarista e defensora da cloroquina – substância cuja eficácia no tratamento da Covid-19 já foi cientificamente descartada.
Embora no vídeo faça denúncia sobre contagem de votos nas eleições, Chut se dedica a atividades pouco relacionadas com a ciência política ou a estatística, diz a reportagem.
O acupunturista de árvores espeta pregos (no lugar de agulhas) nas junções dos troncos com os galhos. “Os vegetais que recebem a acupuntura apresentam crescimento mais acentuado, folhas mais robustas e raízes mais ramificadas”, afirmou ele à revista Época, em 2012.
Exclusivo e urgente
O nome do vídeo com a participação de Chut é “Prova das fraudes nas urnas! Exclusivo e Urgente” e foi postado em 2018 na página de Naomi Yamaguchi, então eleita como suplente no cargo de deputada federal pelo PSL, partido pelo qual Bolsonaro concorria à Presidência.
Ela aparece conversando com um homem, não mostrado nas imagens, que explica o que seriam fortes indícios de fraude no pleito de 2014.
O homem entrevistado por Yamaguchi diz ter encontrado um padrão nos dados divulgados minuto a minuto e que indicariam que houve fraude, pois tal padrão só poderia ser possível por meio do uso de um algoritmo. A veracidade das alegações já foi desmentida por diversos especialistas.
Mesmo usando o vídeo do acupunturista de árvores, Bolsonaro acabou reconhecendo em sua live que não dispõe de provas para embasar as acusações de fraude eleitoral. O presidente afirmou que “não tem como se comprovar que as eleições não foram ou foram fraudadas”.