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Para mostrar “real problema”, Mourão viaja à Amazônia com 11 embaixadores

Em novembro de 2020, o general levou 12 representantes diplomáticos para a Amazônia Oriental, que, segundo ele, é a área mais preservada

atualizado

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Bruno Batista/VPR
Hamilton-Mourao
1 de 1 Hamilton-Mourao - Foto: Bruno Batista/VPR

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRBT) embarca, nesta quarta-feira (8/9), para a Amazônia Oriental – especificamente, ao estado do Pará. Acompanham o general 11 embaixadores, dois senadores e representantes de pelo menos cinco ministérios. Seguindo o modelo da última viagem com chanceleres, em 2020, Mourão pretende mostrar os problemas ambientais da região. O roteiro inclui os municípios paraenses Parauapebas, Carajás, Altamira, Medicilândia e Belém.

Segundo a assessoria de comunicação da Vice-Presidência, integrarão a comitiva os representantes de Japão, Espanha, União Europeia, Angola, Paraguai, França, Índia, Uruguai, Reino Unido, Suíça e da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).

Também integrarão a comitiva os senadores Nelsinho Trad (PSB-MS) e Kátia Abreu (PP-TO). Os seguintes ministérios também enviarão, segundo a nota, representantes: Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Ministério de Minas e Energia, Ministério do Meio Ambiente, Ministério das Relações Exteriores e Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.

Ao fim da 6ª reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal, em 24 de agosto, Mourão, que também preside o colegiado, disse que os embaixadores terão a oportunidade de ver o “real problema” da floresta durante a viagem. A ida é uma iniciativa do conselho.

“No ano passado, nós levamos os embaixadores à Amazônia Ocidental. A Amazônia Ocidental, em grande parte, 90% ou 95% preservada. Agora vamos levar na Amazônia Oriental, onde se encontram realmente os maiores problemas”, disse o general.

De acordo com o vice-presidente, os embaixadores poderão analisar o terreno para entender como funciona a Amazônia. “Vão ter condições de avaliar efetivamente, olhando o terreno, o que acontece e o que deixa de acontecer”, declarou.

“O que nós pretendemos mostrar: um projeto de mineração correto e uma área que não está correta. Mostrar os trabalhos de pesquisa e de inovação que são feitos com base nos institutos que temos na região de Belém do Pará. Assim como também vão visitar áreas de madeireiras ali na região de Santarém e vão ver madeireira que está ok e madeireira que não está ok”, explicou o vice-presidente.

A ida acontece poucos dias depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o próprio Mourão e alguns ministros terem feito várias declarações criticando a visão que países do exterior têm do Brasil quanto ao meio ambiente.

Durante o seminário sobre ações estratégicas para a defesa dos interesses nacionais na questão ambiental, promovido pelo Instituto General Villas, no dia 25 de agosto, Mourão disse: “Quando a gente vê discursos de líderes de outros países se referindo a problemas da Amazônia, é uma forma de intervenção. O seguinte passo é a propaganda, como nós vemos acontecer hoje na comunidade internacional, uma propaganda negativa em relação àquilo que é a realidade na Amazônia brasileira”.

Uma das medidas adotadas pelos órgãos envolvidos na viagem foi a realização de testes de detecção do coronavírus. “Todos os integrantes da comitiva realizaram testes de detecção do coronavírus, e serão respeitados os protocolos de prevenção à Covid-19, conforme as orientações das autoridades de saúde”, informou a nota.

Veja a programação completa:

8 de setembro
– Partida de Brasília para Parauapebas – Carajás (PA);
– Sobrevoo sobre a Flona – Floresta Nacional de Carajás (PA);
– Exposição sobre as operações da Vale e visita às operações de mineração, em Carajás (PA);
– Deslocamento aéreo para Belém (PA);
– Recepção de boas-vindas oferecida pelo Governo do Pará, em Belém (PA).

9 de setembro
– Deslocamento para Altamira (PA);
– Visita à Usina de Belo Monte e sobrevoo sobre a Volta Grande do Xingu;
– Visita à unidade de processamento de cacau – Gencal, Altamira (PA);
– Deslocamento aéreo para Belém (PA).

10 de setembro
– Visita à Fundação Evandro Chagas, Belém (PA);
– Visita ao Museu Emílio Goeldi, Belém (PA);
– Coletiva de Imprensa;
– Almoço;
– Retorno a Brasília (DF).

Novembro de 2020

A última viagem com embaixadores foi realizada em novembro de 2020 (dos dias 4 a 6) e incluiu visitas a Manaus, São Gabriel da Cachoeira e Maturacá, no Amazonas. Compuseram a comitiva: África do Sul, Espanha, Peru, Colômbia, Canadá, Suécia, Alemanha, Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), União Europeia, Reino Unido, França e Portugal.

A visita foi organizada após oito países europeus enviarem carta a Hamilton Mourão afirmando que a alta do desmatamento passava uma má impressão e dificultava a compra de produtos brasileiros por parte dos consumidores do continente.

Nos bastidores, a repercussão da viagem foi negativa. O entendimento era de que o mundo todo tem acesso às imagens de satélite que mostram o que está acontecendo na Amazônia e no Pantanal, por exemplo. E o impacto da devastação não seria apagado com um passeio em trechos preservados.

Na ocasião, o número de incêndios registrados na Amazônia bateu o recorde da década. Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), divulgados no primeiro dia de novembro do ano passado, as queimadas na floresta subiram 25% nos primeiros 10 meses de 2020 na comparação com 2019, foram 2.856 focos de incêndio ao longo de outubro.

Atual situação

Segundo o último levantamento feito pelo Inpe divulgado no dia 5 de agosto, 8.712 km² foram devastados no acumulado entre agosto de 2020 e 30 de julho deste ano. Entre agosto de 2019 e julho de 2020, esse número havia ficado em 9.216 km². Mesmo com a redução de 5% entre uma temporada e outra, a devastação continua alta.

“Os três recordes da série foram batidos no governo Bolsonaro, no qual os alertas são 69,8% maiores que a média dos anos anteriores. O resultado indica que o desmatamento anual deverá, pela terceira vez, ficar próximo de 10 mil km², o que não ocorria desde 2008”, indica o Observatório do Clima.

No acumulado do mês, houve queda na comparação entre julho de 2021 e 2020. No ano passado, os dados apontavam 1.654 km² de áreas com alertas de desmate. Em 2021, o total foi de 1.416 km².

A Amazônia Legal corresponde a 59% do território brasileiro e engloba as áreas dos seguintes estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão.

Conselho da Amazônia

O Conselho Nacional da Amazônia Legal é um dos principais órgãos que trabalham em prol da preservação da floresta. Mourão foi nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) para presidir o Cnal assim que assumiu o governo, em 2019.

O órgão trabalhou junto ao Ministério da Defesa nas Garantias de Lei e Ordem (GLO) instauradas para combater ilícitos ambientais em três ocasiões. A última fase da Operação Verde Brasil, como era denominada a antiga GLO, teve fim no dia 30 de abril de 2021, mas, na época, Bolsonaro demorou para manifestar interesse em prorrogar a ação.

Só em junho que o chefe do Executivo federal se propôs a instaurar nova fase da operação, após a retirada de militares da Amazônia coincidir com índices históricos de desmatamento e queimadas. No meio-tempo em que os militares não atuavam no bioma, o Cnal elaborou o Plano Amazônia, que consistiria em centrar as forças nas áreas mais atingidas.

A nova fase da atuação das Forças Armadas na Amazônia foi chamada de Operação Samaúma e durou até 3 de agosto. Mourão, no entanto, sinalizou na 6ª Reunião do Conselho Nacional da Amazônia Legal que a GLO seria prorrogada por 45 dias. Na última semana, contudo, o vice-presidente mudou o período de extensão e declarou que a Samaúma duraria apenas mais 15 dias. Depois disso, a intenção é colocar o Plano Amazônia em prática, com menos gasto e menor efetivo.

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