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Marina: postura de Bolsonaro fortalece ações de criminosos na Amazônia

Ao comentar as mortes de Dom e Bruno, a ex-ministra apontou o enfraquecimento dos órgãos ambientais e o consequente empoderamento do crime

atualizado

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Marina Silva
1 de 1 Marina Silva - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Diante dos assassinatos do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, a ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede-SP) chamou a atenção para o discurso praticado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), que acaba, em sua opinião, “empoderando” grupos criminosos, seja de garimpeiros, pescadores ilegais, madeireiros e traficantes na Amazônia.

Marina aponta a total ausência do Estado na região e as investidas do presidente para depredar a atuação de órgãos de controle, como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (Ibama), o Instituto Chico Mendes (ICMBio), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), entre outros.

“O discurso que o governo faz, dizendo que não vai ter mais a demarcação de um centímetro de terra indígena, está fortalecendo a presença daqueles que praticam crimes e irregularidades. O que ele (Bolsonaro) diz sobre o IBAMA o ICMBio, que esses órgão não vão ter vez, também fortalece o crime”, exemplificou.

As mortes estão sob investigação da Polícia Federal. O jornalista e o indigenista desapareceram em 5 de junho. Dois suspeitos foram presos pela PF e um deles, o pescador Amarildo Oliveira, também conhecido como “Pelado”, confessou aos investigadores ter assassinado os dois porque estava insatisfeito com as ações do indigenista contra a pesca ilegal no Vale do Javari, região do extremo oeste do Amazonas.

“Quando ele sinaliza que vai mudar a lei para enfraquecer a fiscalização, está empoderando esses grupos. Quando ele usa o licenciamento para regularizar criminoso, está empoderando esses grupos. Quando ele vai dar o título definitivo a quem se apropriou criminosamente de terra pública. que é de todos os brasileiros, ele está fortalecendo esses grupos”, disse.

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A Polícia Federal concentra os esforços em áreas próximas ao Rio Itaquaí.
Polícia Federal, o Exército, a Marinha e a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas fazem as buscas
Protesto em Londres pede que autoridades brasileiras elucidem o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Araújo
Os dois estavam desaparecidos desde o dia 5 de junho, no Vale do Javari, no Amazonas
Já em Brasília, os restos mortais vão ser submetidos a perícia
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O sumiço foi na reserva indígena Vale do Javari, no Amazonas.

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A Polícia Federal concentra os esforços em áreas próximas ao Rio Itaquaí.

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Polícia Federal, o Exército, a Marinha e a Secretaria de Segurança Pública do Amazonas fazem as buscas

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Protesto em Londres pede que autoridades brasileiras elucidem o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Araújo

Photo by Victoria Jones/PA Images via Getty Images
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Os dois estavam desaparecidos desde o dia 5 de junho, no Vale do Javari, no Amazonas

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Já em Brasília, os restos mortais vão ser submetidos a perícia

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Ao menos cinco pessoas são investigadas por suposto envolvimento nas mortes. Além dos irmãos presos, um terceiro teria auxiliado na execução; outro, na ocultação dos corpos; e o quinto seria o mandante

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Os restos mortais atribuídos ao jornalista britânico Dom Phillips e ao indigenista Bruno Araújo Pereira chegaram a Brasília nesta quinta-feira (16/6)

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A PF continua as buscas pelo barco em que estavam Dom e Bruno

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Após mais de uma semana de buscas, um dos suspeitos do crime confessou a execução e levou as autoridades até o local onde os corpos foram enterrados

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Protesto na Funai

Material cedido ao Metrópoles
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As buscas pelo jornalista inglês Dom Phillips e pelo indigenista Bruno Araújo Pereira entram no 11º dia

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último contato com os dois profissionais ocorreu no domingo, 5 de junho

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Sian Phillips, Gareth Phillips e Paul Sherwood, parentes do jornalista britânico, participam do protesto

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Domonique Davies (direita), sobrinha de Dom Phillips, chora pelo tio

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Protesto foi feito em frente à embaixada brasileira em Londres

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Dom Phillips, 57 anos, era colaborador do jornal britânico The Guardian. Ele se mudou para o Brasil em 2007 e morava em Salvador, com a esposa

Twitter/Reprodução
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Os suspeitos, então, teriam retirado os pertences pessoais das vítimas do barco em que estavam e o afundaram. Em seguida, queimaram os corpos de Dom e Bruno

Redes sociais/reprodução
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Peter Phillips e William

Max Mumby/Indigo/Getty Images
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Arquivo pessoal
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Contudo, nesse percurso, os dois desapareceram. As equipes de vigilância indígena da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) fizeram as primeiras buscas, sem resultados

Divulgação

“A ausência Estado é algo que precisa ser resolvida em relação à Amazônia, inclusive com políticas de ordenamento territorial e fundiário. Isso é diferente do que o governo está propondo, que é regularizar áreas que foram apropriadas de forma criminosa”, declarou a ex-ministra do Meio Ambiente.

“A ausência do Estado serve para que esses grupos se apropriem de forma criminosa do ouro, da madeira, dos recursos hídricos, dos recursos pesqueiros, coloque em risco a vida nos povos indígenas, são crianças sendo contaminadas, pessoas sendo violentadas nos seus direitos e assassinatos”, enfatizou Marina, em conversa com o Metrópoles.

A ex-ministra comparou o comportamento do atual governo como um poder que direciona as leis para a proteção de ladrões.

“Imagine que alguém roubou o seu carro e aí você fica sabendo que a Assembleia Legislativa do seu estado está fazendo uma lei pra dar um documento de propriedade do seu carro para quem roubou o seu carro. Isso é um absurdo”, destacou.

“Nesse momento, os brasileiros estão sendo expropriados no ouro, nas florestas  e em relação a uma série de recursos. Um dos mais importantes é a água. Sem água não tem vida. Se a Amazônia for destruída pode ter certeza, o sul, o sudeste, o centro-oeste vão virar deserto”, alertou.

Mortes pela floresta

Marina Silva é fundadora da Rede Sustentabilidade, foi seringueira e ligada a um dos maiores defensores da Amazônia: Chico Mendes, líder político também assassinado por defender a floresta e denunciar ilegalidades da exploração madereira.

Chico Mendes foi morto 22 de dezembro de 1988, em Xapuri, no Acre. Ela lembra que nessa época não existia o arcabouço jurídico para a proteção da Amazônia, como existe hoje.

“A violência para tentar expropriar indígenas e comunidades tradicionais, a reapropriação da floresta para destruí-la como foi destruída a Mata Atlântica ela está presente na história da Amazônia e na história do Brasil. O que faz a diferença é a resistência”, destacou.

“Naquela época resistimos fazendo os embates com os nossos próprios corpos. Era uma luta insana”, destacou.

“Não existia lei que nos protegesse. Era a nossa própria vontade de proteger a floresta. Dos meus 19 anos, aos meus vinte e oito anos, eu vi ser assassinadas as três pessoas no Acre, todas envolvidas com a luta em defesa da floresta. Isso era algo muito doloroso, o último foi o Chico Mendes”.

“Hoje nós temos uma Constituição que nos assegura direitos e proteção da floresta, hoje nós temos um sistema nacional de unidades de conservação,temos uma lei de crimes ambientais, temos uma lei que cria um sistema nacional de meio ambiente, temos até uma mudança que foi feita no código florestal que deveria estar sendo implementado. Temos meios de comunicação que o tempo todo estão falando e mostrando à população a gravidade desses problemas, temos o Ministério público, a Polícia Federal tem feito um trabalho importante, apesar da tentativa desse governo de querer dominar e aparelhar a polícia federal”.

“Então hoje nós temos leis, nós temos uma opinião pública mobilizada, infelizmente nós temos um governo que em vez de usar tudo isso a favor da proteção do desenvolvimento sustentável de um círculo saudável de prosperidade que protege o meio ambiente, mas cria emprego, combate desigualdades sociais, o governo faz o discurso de algo que não tem mais lugar no mundo”, enfatizou.

Quando ocupou a pasta do Meio Ambiente, no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, também se deparou com a violência na região que culminou com a morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, também conhecida como Irmã Dorothy. Naturalizada brasileira, a Irmã Dorothy integrava a Congregação das Irmãs de Notre Dame de Namur e foi assassinada em Anapu, no Pará,  no dia 12 de fevereiro de 2005.

Ela havia implantado na região os Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDSs), que remunerava famílias pobres que preservassem a Amazônia e, pela ação, sofreu ameças de morte por cerca de 5 anos. As ameças se cumpriram e Irmã Dorothy morreu depois de levar seis tiros na cabeça, crime ocorrido no assentamento Esperança. Cinco pessoas foram acusadas pelo crime

Marina lembrou que ao contrário do fez Bolsonaro, culpando as vítimas pelos desaparecimentos, sua pasta chegou a evitar a manipulação das investigações para proteger grupos de criminosos. “Se não estivéssemos lá, a próprio filho de criação da Irmã Doroty seria colocado como culpado”, enfatizou.

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