Para Lupi, Ciro merece Nobel da Paz por aturar FHC em nome da frente ampla
Presidente do PDT apontou ainda dificuldades de articulação com o PT: “Como fazer aliança com quem só fala em hegemonia?”
atualizado
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Ex-ministro do Trabalho no governo Dilma Rousseff, o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi (RJ), tem se empenhado na construção da chamada frente alternativa contra o presidente Jair Bolsonaro. A tarefa, segundo ele, tem sido árdua, mas com resultados a serem comemorados. Nesta semana, mais um partido se juntou ao grupo que já reúne, além do PDT, o PSB, a Rede, PV e, agora, o Cidadania, comandado pelo ex-deputado Roberto Freire (SP).
A busca pelo centro da política ocorre na mesma medida em que o PDT se afasta do PT em um cenário que inclui troca de farpas entre o principal nome da legenda, Ciro Gomes (PDB-CE), com o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva.
Lupi, entretanto, diz que as brigas protagonizadas por Lula e Leonel Brizola, fundador do PDT, eram ainda mais intensas. E foram solucionadas. Tudo, avalia, em nome de um bem maior.
“Já vi tantas coisas ao longo desses 40 anos de PDT. Eu vi Brizola com o Lula. Um dizia que pegava o pescoço da mãe do outro. Depois, estavam juntos. A política é assim. As vezes tem radicalização das palavras, mas tem causa que tem que ser maior do que o individualismo. A derrubada do Bolsonaro é agora uma dessas causas. Essa aí não tem fronteira”, avaliou.
A mesma condescendência não foi mostrada quando Lupi comentou a aproximação recente entre Ciro e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Os dois, ao lado da ex-ministra Marina Silva (Rede), ensaiaram uma aproximação durante um debate na televisão.
“Eu brinquei com o Ciro porque ele fez aquele debate com FHC e a Marina. Eu disse a ele: ‘olha, vou te dar o prêmio Nobel da Paz, porque aturar FHC uma hora e meia é um marco'”, alfinetou Lupi. “FHC é o arqui-inimigo da nossa história, da história do PDT. Ele é o primeiro Privacionista-Geral da República”, comparou Lupi, ao cunhar neologismo que une privatizar com o título do chefe do Ministério Público Federal, o Procurador-Geral da República.
Ciro conviveu bastante com Fernando Henrique quando foi filiado ao PSDB, no início dos anos 1990. Nessa época, ela foi ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco. Após deixar o partido, tornou-se ministro da Integração Nacional no governo Lula. Lupi, porém, disse que nem Ciro teria aguentado a piada.
“Ele riu para caramba”, disse. “Aí é em nome da democracia contra esse profeta da ignorância e seus apóstolos. Aí não pode entrar nossas diferenças”, justificou Lupi na sequência.
Sem conversa
O episódio, mesmo sendo tratado com humor, contrasta com a dificuldade de diálogo do grupo com Lula e os petistas. Para Lupi, o PDT ser base de apoio para um candidato do PT é uma ideia fora dos planos. “O processo de apoio eleitoral ao PT, no meu ponto de vista, para nós do PDT, está esgotado”, afirmou.
“Uma coisa é a frente que se forma antibolsonaro, contra essa direita raivosa, para fazer o enfrentamento pela democracia contra esses saudosos da ditadura. Essa é ampla, é geral, é como foi feito para se conquistar a anistia”, disse.
“Outra coisa é o processo eleitoral. Aí tem um fato que é concreto: o PT hoje pode ter um percentual grande de eleitor, mas é com certeza o partido que tem maior rejeição dos 37 partidos do Brasil. Então, quando entra o PT no jogo, já entra a rejeição ao PT. Entra aceitação, mas entra rejeição. Eles já tiveram 60% dos votos e agora é o contrário. Eles têm 20% a favor e 60% ou 70% contra. Esse é um número real”, enfatizou.
Apesar disso, Lupi destacou que Lula não aceita abrir mão da hegemonia do seu nome e do seu partido por um diálogo mais amplo. “O PT não abre mão de comandar qualquer processo. A fala do Lula é essa. O Lula, que eu gosto e que eu fui visitar dentro da prisão fala claramente que não abre mão da hegemonia do PT. Aí não tem conversa. Como é que se pode conversar com aquele português que diz para você que se case com qualquer uma das minhas filhas, desde que seja a Maria?”, comparou.
“Que conversa é essa? Só pode ser ele? Então não tem frente”, continuou. “Agora, isso não nos impede de dialogar, de conversar, de ter luta comum, de ter bloco de oposição no Senado junto com eles, de ter bloco de oposição na Câmara junto com eles. Mas a luta eleitoral é outra. O PT não representa mais a visão nacional desenvolvimentista, o projeto que a gente quer para o Brasil”, afirmou.
“Centro órfão”
Lupi disse que busca partidos de centro para aliança. O objetivo, segundo ele, é preencher o nicho que hoje se encontra “órfão” em meio à polarização entre Lula e Bolsonaro. Ele vê esse espaço aberto sobretudo pelos obstáculos que ambos enfrentam. De um lado, ele considera Lula fora do páreo eleitoral por causa da lei da ficha limpa. Por outro, destaca as dissidências no campo bolsonarista.
“O Bolsonaro está perdendo seus quadros. Saiu a Joice [Hasselmann, ex-líder do governo], saiu o Frota [deputado que se filiou ao PSDB], a Janaína [Paschoal, deputada estadual por São Paulo] está mais quieta que água de poço, como falava o velho Brizola. E teve a saída do Moro [ex-ministro da Justiça]”, exemplificou.
Lupi ainda prevê uma forte disputa no campo da direita como fator que pode dificultar a vida de Bolsonaro – e ampliar o grupo de centro. “Já tem o governador do Rio [Wilson Witzel] que, se não for preso, quer ser candidato. Tem o Doria [governador de São Paulo]. Pode ter o Luciano Huck. Então há uma divisão nesse campo de direita e de direita conservadora muito grande”, avaliou.
“Quem tem mais competência de aglutinar esse centro é que tem mais possibilidade de vitória. Então, estamos tentando construir esse projeto. Não estamos impondo nome. O que nós queremos é o Ciro, mas não tem que ser o Ciro. Ele também não se coloca assim”, disse Lupi.
Dino
O presidente do PDT ainda avaliou que o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB), tem muita proximidade com o PT, o que pode impedir a sua ascensão ao posto central de uma chapa presidencial. “O que eles querem do Flavio Dino é ele de vice do Haddad. Até meu neto de cinco anos vê isso”, disse.
Em entrevista do Metrópoles, Dino disse que ainda trabalha para a elaboração de uma frente ampla com PT e PDT, deixando de lado o que chamou de “mágoas pretéritas”.
“Dino é um dileto amigo meu. Se perguntar quem inventou a candidatura do Dino, eu respondo: fui eu, quando era ministro de estado ainda”, contou, lembrando o apoio do PDT ao comunista nas eleições disputadas contra contra a família Sarney no estado. “Ele é um nome a ser considerado em qualquer projeto eleitoral de 2022. É o único comunista que anda com um santinho de Nossa Senhora na carteira e é uma figura muito agradável”, finalizou.