Palco para 2022: maioria da CPI da Covid sonha com governos estaduais
Comissão pode se estender até outubro de 2021, um ano antes das eleições gerais. Pelo menos 12 senadores podem concorrer a governador
atualizado
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Além de investigar ações e omissões do governo federal na pandemia, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 promete ser palco para promoção política de senadores que visam disputar cargos eletivos em 2022.
Com duração inicial de três meses — que pode ser prorrogada por mais três —, a CPI pode chegar a outubro deste ano, exatamente um ano antes do pleito nacional, aquecida pelas articulações eleitorais.
As vagas do colegiado foram disputadas por senadores de diversas matizes ideológicas. Historicamente, o trabalho de investigação desenvolvido pelas CPIs atrai muitos holofotes e coloca parlamentares em mais evidência. Essa característica se sobressai no caso da Covid, com um país em luto e aumento da procura por responsáveis.
Dos 18 membros da CPI (contando titulares e suplentes), ao menos 12 estudam concorrer ou já declararam candidaturas ao governo de seus estados em 2022. Entre os aliados do Palácio do Planalto, o presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, deve disputar o governo do Piauí. Jorginho Mello (PL) é pré-candidato a governador de Santa Catarina.
PP e PL são siglas do Centrão, grupo de partidos que vão do centro à direita e compõem a base do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O bloco tem dito que deve manter aliança com o chefe do Executivo federal em 2022, mas as articulações regionais podem interferir nesse cenário.
Também governista, Marcos Rogério (DEM-RO) tem planos para concorrer ao governo de Rondônia em 2022. O demista foi deputado federal entre 2010 e 2014 e vereador na cidade em que nasceu, Ji-Paraná (RO).
Autointitulado independente, mas afinado a Bolsonaro, Eduardo Girão (Podemos) pode disputar o governo do Ceará. Empresário, Girão é novato no Senado, mas nas últimas eleições se notabilizou pelos altos montantes de doações feitas a candidatos do campo conservador.
Em 2020, doou mais de R$ 1 milhão para a campanha do candidato à prefeitura de Fortaleza Capitão Wagner (Pros), que enfrentou José Sarto (PDT) no segundo turno e saiu derrotado por pequena margem de votos.
Também considerado independente, Omar Aziz (PSD), presidente da CPI, pode tentar o governo do Amazonas ou a reeleição no Senado — seu mandato de oito anos acaba em 2022. Outro senador do Amazonas que pode disputar o governo é Eduardo Braga (MDB). Ele comandou o estado entre 2003 e 2010.
O senador Otto Alencar (PSD) é um nome que circula para o governo da Bahia. Ele já foi governador interino e vice-governador do estado. Apesar de ainda tímida, sua candidatura pode ser viabilizada com um eventual fim do ciclo do PT no estado, com o término do segundo mandato de Rui Costa – que já sucedera Jaques Wagner, também governador petista por dois mandatos.
Oposicionistas
Entre os oposicionistas, Randolfe Rodrigues (Rede-AP) figura entre os cotados para disputar o governo do Amapá. O senador da Rede é vice-presidente da comissão.
O petista Humberto Costa também pode concorrer ao governo de Pernambuco, apesar de ainda não tratar da possibilidade publicamente. Ambos são os nomes mais fortes da oposição na CPI.
O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), tem mandato no Senado até 2026. Seu filho, Renan Filho, está terminando o segundo mandato como governador de Alagoas.
Em 2022, o grupo político dos Calheiros pretende fazer um sucessor no governo do estado. Além disso, Renan Filho estuda uma eventual candidatura ao Senado.
Término de mandato
Apenas três senadores com assento na CPI terminam os mandatos no Senado em 2022: Omar Aziz (PSD-AM), Otto Alencar (PSD-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE). Os três podem tentar se reeleger para mais um ciclo na Casa ou disputar os governos de seus estados.
Nas próximas eleições gerais, somente uma das três cadeiras do Senado destinadas a cada estado estará em disputa. Com isso, mesmo para políticos já carimbados, a eleição será mais competitiva do que em 2018.
No caso de Tasso, liderança tradicional do PSDB, seu nome começou a ventilar nos últimos dias como possível candidato à Presidência da República.
Suplentes
Todos os sete suplentes só encerram os mandatos em 2026, mas pelo menos três avaliam candidaturas aos Executivos locais: Luis Carlos Heinze (PP), no Rio Grande do Sul; e Rogério Carvalho (PT) e Alessandro Vieira (Cidadania), em Sergipe.
Outro destaque é o senador Jader Barbalho (MDB-PA), pai do governador do Pará, o também emedebista Helder Barbalho, que pretende se candidatar à reeleição no estado nas próximas eleições.
Em pré-campanha pela reeleição, Bolsonaro também possui interesses eleitorais na CPI, justamente para evitar se chamuscar com as investigações. O presidente quer evitar maiores desgastes e um eventual pedido de impeachment.