Ouça hino que “guardiões” da Prevent Senior eram obrigados a cantar
Chefes dos plantões do pronto-socorro da empresa seriam obrigados a entoar o hino durante as reuniões da operadora
atualizado
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O vice-presidente da CPI da Covid-19, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), reproduziu, nesta quinta-feira (7/10), hino atribuído à Prevent Senior e que supostamente teria que ser entoado por funcionários da operadora de saúde. A gravação foi confirmada como verdadeira pelo ex-médico da empresa Walter Correa de Souza Neto.
Neto narra que o hino era cantado pelos “guardiões” – chefes dos plantões do pronto-socorro da empresa.
“Eu participei uma única vez de uma reunião dessas e, sim, a gente teve que ficar de pé com a mão no peito, cantando o Hino dos Guardiões. Foi uma coisa constrangedora de fato”, relatou.
A música seria reproduzida durante todas as reuniões.
“Os chefes de plantão basicamente se chamavam de ‘guardiões’, durante um tempo, durante um bom tempo, como guardiões. E esses chefes de plantão tinham reuniões, que às vezes eram mensais, e tinham esse hino pra poder cantar e… Eu participei uma única vez”, prosseguiu.
Ouça o hino:
Na #CPIdaCovid, “hino dos guardiões” da Prevent Senior é executado.
Segundo médico que trabalhou na empresa, música era tocada em reuniões e funcionários tinham que canta-lo com a mão no peito, jurando lealdade e obediência.
Ouça ⏯ pic.twitter.com/4tvlEN0Nh4
— Metrópoles (@Metropoles) October 7, 2021
Neto também afirmou que era obrigado a prescrever medicamentos ineficazes contra o novo coronavírus em pacientes da operadora que buscassem atendimento na rede. “Não havia autonomia do médico”, enfatizou o profissional de saúde.
O médico relata ter trabalhado na empresa por oito anos, tendo sido desligado da operadora em fevereiro deste ano após apresentar relutância em aderir ao protocolo sustentado pela Prevent Senior.
Rigidez
Ele narra que a hierarquia na Prevent Senior era mais rígida do que nas corporações de segurança em que trabalhou. Antes de ser funcionário da operadora, o médico atuou no Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e cerca de 10 anos na Polícia Civil de Minas Gerais.
“Esse lema de ‘lealdade e obediência’ usado pela empresa era um termo proveniente de uma cultura antiga e que permaneceu durante a pandemia. A hierarquia era muito rígida, baseada em assédio moral. Havia represálias importantes, talvez até perder o seu trabalho. As pessoas ficavam receosas de contrariar qualquer orientação”, relata.
Segundo o médico, os profissionais de saúde eram vítimas de chantagem.
“Eles falavam: ‘Continua prescrevendo, evita problema’. Por muito tempo prescrevi essas medicações porque sabia da determinação. Eu avisava os pacientes que não havia evidência [de eficácia dos remédios], que era apenas um protocolo institucional. Falava: ‘Utiliza só as vitaminas, essa era a orientação que eu fazia'”, disse.