1 de 1 presidente jair bolsonaro conversa com ex ministro da educação Milton Ribeiro
- Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles
Áudio obtido pela Polícia Federal registra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, em conversa telefônica com a filha, afirmando que o presidente Jair Bolsonaro (PL) o alertara de que a Polícia Federal (PF) poderia realizar uma operação e cumprir mandados de busca e apreensão na residência do ex-auxiliar. A gravação foi divulgada inicialmente pelo jornal O Globo e obtida pelo Metrópoles.
“Hoje o presidente me ligou. Ele está com um pressentimento, novamente, de que podem querer atingi-lo através de mim”, disse Ribeiro a uma filha, no último dia 9 de junho. “Ele acha que podem querer fazer uma busca e apreensão em casa”, declarou o ex-ministro em áudio obtido por meio de grampo telefônico usado pelo Ministério Público Federal (MPF).
Em outro momento da conversa, Ribeiro narra que estava em contato com o presidente para mandar versículos da Bíblia. A filha, então, indaga se Bolsonaro pediu ao ex-ministro para “parar de mandar mensagens”. “Não, não é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa, sabe? Muito triste”, responde, especulando que o procedimento ocorreria “se houver indícios”. “Mas não há por quê. Meu Deus”, completa.
Diante do temor externado pelo ex-ministro, a filha questiona se deveria prosseguir com a conversa. “Eu tô te ligando no celular normal, viu, pai?”, diz, sendo interrompida por ele: “Então depois a gente se fala. Deus vai cuidar”.
Ouça:
A operação
O ex-ministro Milton Ribeiro foi preso em 22 de junho sob a acusação de tráfico de influência no ministério que ele chefiava. Na ocasião, também acabaram detidos os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura – ambos acusados de integrarem organização criminosa para destravar, por meio de propina, demandas estaduais e municipais do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
No curso das investigações, a PF e o MPF interceptaram esta conversa de Milton Ribeiro e a filha. O teor do diálogo levou os procuradores a pedirem envio de parte da investigação ao Supremo, conforme revelou o colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, nesta sexta, por envolver autoridade – Bolsonaro – com direito a foro privilegiado.
Com isso, o inquérito volta para a relatoria da ministra Cármen Lúcia, que havia enviado o caso para a primeira instância depois que Milton Ribeiro pediu demissão do MEC. Após vir à tona o escândalo envolvendo cobrança de propina por pastores lobistas ligados a ele, o próprio reverendo optou pela exoneração.
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Milton Ribeiro, nascido em 1958, é advogado, pastor, professor e teólogo brasileiro. Natural de São Vicente, em São Paulo, é ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro
Isac Nóbrega/PR
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Antes de virar ministro, Milton Ribeiro já colecionava uma série de polêmicas. Em uma delas, postou no canal que tinha no YouTube palestra em uma Igreja Presbiteriana, em 2016. À época, afirmou apoiar o castigo físico em crianças
Rafaela Felicciano/Metrópoles
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“Essa ideia que muitos têm de que a criança é inocente é relativa. Um bom resultado não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves”, disse. Segundo ele, as crianças “devem sentir dor”. Um dia após tomar posse no Ministério da Educação, no entanto, retirou o vídeo da plataforma e, mais tarde, afirmou nunca ter falado sobre o assunto
Reprodução/YouTube
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Em 2018, o ex-ministro afirmou que universidades incentivavam alunos a fazerem “sexo sem limites”. “Para contribuir ainda mais, em termos negativos, para o sexo veio a questão do existencialismo. Não importa se é com homem ou mulher”, disse. “É isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade”, completou
Reprodução/Redes Sociais
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Além disso, Ribeiro afirmou que universidades devem ser para poucos e que reitores de federais não podem ser “esquerdistas” ou “lulistas”. “Eu acho que reitor tem que cuidar da educação e ponto final, e respeitar quem pensa diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político de um partido A, de direita, e muito menos de esquerda”, relatou
Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Durante a pandemia, Milton também criticou professores que defendiam a vacinação de crianças para o retorno das aulas. “Infelizmente, alguns maus professores fomentam a vacinação deles, que foi conseguida. Agora, querem a imunização das crianças. Depois, com todo o respeito, para o cachorro, para o gato. Querem vacinação de todo jeito. O assunto é: querem manter escola fechada”, disse
Isac Nóbrega/PR
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No fim de 2020, Ribeiro alegou que a nota do Enem de 2021 não poderia ser utilizada para o Sisu, Prouni ou Fies. Segundo ele, para ter acesso aos programas, era necessário utilizar notas de exames anteriores. Após manifestações contrárias, o Ministério da Educação negou as falas do chefe
Fábio Rodrigues/Agência Brasil
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Durante uma entrevista, Milton Ribeiro relacionou a homossexualidade a “famílias desajeitadas”. “Acho que o adolescente, que muitas vezes opta por andar no caminho do 'homossexualismo' (SIC), tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe”, afirmou
Isac Nóbrega/PR
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Em 2021, quando ainda era ministro, declarou que a inclusão de alunos com deficiências na mesma turma que alunos sem deficiências “atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tem equipe e não tem conhecimento para dar atenção especial”. Segundo ele, “existem crianças com um grau de deficiência que é impossível a convivência”
Reprodução/Tv Brasil
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No início de 2022, um áudio onde Milton Ribeiro afirma priorizar repasses da Educação a determinadas prefeituras e a pedidos do presidente Bolsonaro ganhou o noticiário. Apesar de, logo em seguida, negar a existência de irregularidades, bem como o envolvimento de Bolsonaro, Ribeiro passou a ser objeto de pedidos de investigação
Vinícius Schmidt/Metrópoles
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“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, afirma Ribeiro em conversa gravada. “A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, declarou o então ministro
Arthur Menescal/Especial Metrópoles
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Na manhã de 22 de junho, a Polícia Federal prendeu preventivamente o ex-ministro da Educação durante a Operação Acesso Pago, que investiga esquema de corrupção durante a gestão dele à frente do MEC. No mandado de prisão, o juiz elencou ao menos quatro crimes que teriam sido cometidos por Ribeiro: corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência
A defesa alega que o áudio citado na decisão envolve autoridade com foro privilegiado, já que o diálogo registrado supostamente teria ocorrido antes da deflagração da operação.
“Se assim o era, não haveria competência do juiz de primeiro grau para analisar o pedido feito pela autoridade policial e, consequentemente, decretar a prisão preventiva”, destaca Bialski, em nota à imprensa.
Segundo o profissional, “a defesa ainda analisará tudo e o todo que foi anexado aos autos, se lhe for franqueada vista da íntegra da documentação”.
“Todavia, se realmente esse fato se comprovar, atos e decisões tomadas são nulos, por absoluta incompetência, e somente reforçam a avaliação de que estamos diante de ativismo judicial e, quiçá, abuso de autoridade, o que precisará também ser objeto de acurada análise”, concluiu o defensor.
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