metropoles.com

Órgãos federais já perderam R$ 1 bilhão para a segurança pública

União editou medidas provisórias para retirar verbas de ministérios e até da Câmara dos Deputados, a fim de investir no combate ao crime

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Michael Melo/Metrópoles
sefurança públcia
1 de 1 sefurança públcia - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Com o teto dos gastos públicos – que atrela o percentual de crescimento das despesas do governo federal ao valor da inflação do ano anterior –, o Palácio do Planalto vem, a cada dia, cortando investimentos de um lado para cobrir gastos de outro. A recente criação do Ministério da Segurança Pública (Mesp) é uma prova disso. Com o cobertor curto, o presidente Michel Temer (MDB) tirou verba até da Câmara dos Deputados para mandar ao ministro Raul Jungmann, titular do Mesp.

Recentemente, duas medidas provisórias foram editadas por Temer com o intuito de resolver problemas de segurança pública do país. Resultado: ao menos R$ 1 bilhão já saiu de diversas áreas e irá parar nos cofres do Mesp e do Gabinete de Intervenção Federal no Rio de Janeiro, comandado pelo general Walter Braga Netto.

Com isso, o Ministério do Esporte, os comitês Olímpico e Paralímpico Brasileiro, o Ministério da Cultura e a Câmara, entre outros órgãos, estão sofrendo cortes milionários. Só as pastas do governo federal e demais confederações ligadas a elas perderam R$ 800 milhões que estavam previstos nos orçamentos de 2018. Apenas em relação à Casa, foram mais de R$ 200 milhões.

MP nº 841
No último dia 12 de junho, a Medida Provisória n° 841 foi assinada, criando o Fundo Nacional de Segurança Pública, a ser vinculado ao ministério de mesmo nome. O problema é que o novo fundo será mantido, a princípio, com recursos provenientes das loterias federais, as quais, antes, sustentavam os ministérios da Cultura e do Esporte, além de outros projetos.

Após os cortes, o ministro da Cultura teve que negar que iria pedir demissão. As críticas de Sérgio Sá Leitão focaram na mesma MP. Segundo o ministro, a medida reduziu “drasticamente” a participação do Fundo Nacional de Cultura na receita das loterias federais. O percentual, que era de 3%, poderá cair a partir de 2019 para 1% e 0,5%, dependendo do caso.

Segundo o Esporte, a medida irá transferir R$ 514 milhões que pertencia a ele. Desse total, a pasta perderá R$ 235 milhões, enquanto as secretarias estaduais outros 196 milhões. O Comitê Brasileiro de Clubes alega que ficará sem o orçamento, de R$ 62 milhões. Também haverá reduções no Comitê Olímpico Brasileiro (R$ 9,4 milhões) e no Paralímpico (R$ 5,3 milhões). Segundo a Confederação Nacional dos Clubes, o corte deles será de R$ 3,2 milhões, além de mais R$ 387 mil a serem retirados dos clubes de futebol.

Para a ex-jogadora de vôlei e presidente do Instituto Esporte & Educação, Ana Moser, a medida provisória “criou um grande problema”. “Essa MP impacta o ministério, clubes e até a Confederação Brasileira de Desporto Universitário. O Ministério do Esporte, por exemplo, com o orçamento menor, cairá para um caráter de secretaria ou superintendência”, atacou.

Atletas de diversas modalidades e organizações esportivas posicionam-se contrárias à legislação editada pelo Planalto. Na última terça-feira (26/6), a Confederação Brasileira de Surfe (CBSurf) entrou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no Superior Tribunal Federal (STF) para pedir a revogação da MP. A Corte marcou uma audiência para 6 de agosto, quando discutirá o assunto.

A Medida Provisória n° 841 prevê ainda que outros R$ 320 milhões sejam retirados do Ministério da Cultura e repassados ao Fundo Nacional de Segurança Pública. Questionado como essa verba pode prejudicar a pasta, a comunicação do órgão não respondeu. No entanto, em nota, o ministro Sérgio Sá Leitão criticou a MP.

“O investimento em segurança pública é obviamente crucial. O combate à violência urbana, porém, não deve ocorrer em detrimento da cultura, mas também por meio dela, que é uma poderosa arma contra a criminalidade e a violência, por seu elevado potencial de geração de renda, emprego, identidade e pertencimento”, afirmou Leitão. “Mais cultura significa menos violência e mais desenvolvimento. A MP põe em risco esta política e penaliza injustamente o setor cultural”, completou.

Agora, a esperança dos órgãos ligados ao esporte e à cultura está no Congresso Nacional. Embora os efeitos sejam imediatos, a MP precisa ser votada no Parlamento em até 120 dias, caso contrário, torna-se lei. Antes da votação, uma comissão mista debaterá as 95 emendas sugeridas pelos parlamentares que modificam o texto do governo.

MP n° 825
Em março, o presidente Michel Temer publicou a  Medida Provisória n° 825, que abre no Orçamento Fiscal da União um crédito extraordinário, no valor de R$ 1,2 bilhão, para custear as ações da intervenção federal no estado do Rio de Janeiro. Trata-se de verba adicional, normalmente destinada ao atendimento de despesas urgentes ou imprevisíveis.

Segundo o Ministério do Planejamento, desse total, R$ 1 bilhão veio de uma “dotação nova do governo”, ou seja, a verba não tinha destino anteriormente previsto. Já os outros R$ 200 milhões pertenciam à Câmara dos Deputados e foram redirecionados para a intervenção. A Casa legislativa iria, com esse valor, investir em pessoal, comunicação institucional e representação política. Questionada, a comunicação da Câmara disse que não comentaria os cortes.

O Metrópoles procurou o Ministério da Segurança Pública, mas o Mesp não respondeu aos questionamentos sobre os repasses que vêm recebendo. Segundo o Ministério do Planejamento, as alterações estão amparadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Leia a íntegra da nota enviada pela pasta:

Conforme consta da Exposição de Motivos da Medida Provisória nº 841 de 2018, após criteriosa análise sobre a forma de financiamento em segurança pública, foi verificada real necessidade de ampliação dos recursos. O objetivo é assegurar a efetiva aplicação de recursos financeiros para o combate à criminalidade, além da ação coordenada da União com os entes federativos em questões envolvendo segurança pública.

Estima-se que a realocação da disponibilidade orçamentária e financeira das atuais loterias federais aumentará o montante dos recursos a serem aplicados nas ações de policiamento, devendo alcançar um incremento da ordem de 60% ao longo dos próximos cinco anos.

Cabe ressaltar que a proposta não implica renúncia de receita nem elevação de despesa na esfera Federal, estando em conformidade com o disposto na Lei Complementar nº 101 de 4 de maio de 2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal – e com o novo regime fiscal aprovado pela Emenda Constitucional 95 de dezembro de 2016.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?