Olavismo no ostracismo: ala ideológica é esvaziada no Planalto
Seguidores do “guru” Olavo de Carvalho estão perdendo poder para militares, que querem trocar guerra cultural por melhora na gestão
atualizado
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A minirreforma ministerial promovida por Jair Bolsonaro (sem partido), que deixou o Palácio do Planalto “completamente militarizado” nas palavras do próprio presidente, e o esvaziamento das funções do assessor especial Filipe Martins via decreto marcam o momento de menor prestígio da ala ligada ao professor on-line de filosofia Olavo de Carvalho no governo federal desde o início da gestão.
Ao mesmo tempo, a ala militar, que viveu dias de fragilidade política no bolsonarismo em momentos como a fritura e a demissão do general Santos Cruz da Secretaria de Governo, ganha mais influência do que nunca no governo federal.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, os assessores presidenciais vindos das Forças Armadas conseguiram convencer Bolsonaro da necessidade de dar um tempo na chamada guerra cultural e focar na gestão de políticas públicas e na melhora da relação com o Congresso, deixando de produzir crises com os demais Poderes.
Com a saída de Onyx Lorenzoni da Casa Civil para o Ministério da Cidadania, o Planalto agora só tem ministros militares: o general do Exército Walter Braga Netto na vaga de Lorenzoni; os também generais Augusto Heleno e Luiz Eduardo Ramos no Gabinete de Segurança Institucional e na Secretaria de Governo, respectivamente; e Jorge Oliveira, major da reserva da PMDF, na Secretaria-Geral da Presidência.
Para completar o clima de quartel no topo do poder, há ainda o general Hamilton Mourão na vice-presidência e o general Otávio Rêgo Barros como porta-voz de Bolsonaro.
Foram os militares, ainda segundo fontes palacianas, que levaram Bolsonaro a tirar funções de um fiel seguidor do escritor Olavo de Carvalho, o assessor especial para assuntos internacionais Filipe Martins (juntos na imagem em destaque). O jovem, 31 anos, é visto com desconfiança por militares como Mourão.
Em decreto publicado nessa sexta-feira (14/02/2020), Bolsonaro transferiu atribuições que eram de Martins, como assistir o presidente na preparação de audiências com chefes estrangeiros e encaminhar assuntos da área diplomática, para a Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE). E, para chefiar a SAE, o presidente nomeou o almirante Flávio Augusto Viana Rocha.
Olavo nega influência
Apesar de não ter uma identificação automática com o olavismo, o ex-ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni tinha boa relação com os seguidores do ex-astrólogo dentro e fora do governo. Em suas últimas férias, Lorenzoni chegou a ir aos Estados Unidos visitar Carvalho e registrou o momento em suas redes sociais. “Excelente conversa sobre o presente e o futuro do Brasil”, escreveu em postagem com a foto abaixo.
Desde que Bolsonaro começou a promover mudanças no equilíbrio de poder no Planalto, o guru da ala ideológica tem se esforçado para negar sua influência no governo. Na última quinta-feira (13/02/2020), Carvalho comentou que viu Lorenzoni “duas vezes na vida” e que “se os militares acham mesmo que removendo-o do cargo fizeram algo contra mim estão realmente loucos”.
Em outra postagem no mesmo dia, disse não estar interessado em “futricas de Brasília e disputinhas de cargos”. Veja abaixo:
No dia seguinte, Carvalho voltou ao assunto ao republicar postagem do seguidor Italo Marsili, que ironizou “sujeitos que pensam que o Olavo tem uma ‘rede de influências’ sobre seus alunos, dando comandos”. Marsili conta que, apesar de ser aluno do Curso On-line de Filosofia desde 2003 e de ter morado com o escritor em 2008 e lido todos os seus livros, falou com ele pela última vez em abril de 2014.
Weintraub na mira
Outro integrante da ala olavista do governo que enfrenta tempos difíceis é o ministro da Educação, Abraham Weintraub. Apesar de continuar sendo prestigiado pelo presidente, o ministro sofre intensa pressão no Congresso por causa das falhas na correção das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e tem promovido campanhas com aliados nas redes sociais para se segurar no cargo.
Weintraub, assim como o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, também é alvo dos militares em postos importantes, que defendem uma gestão mais pragmática e menos ideológica nessas áreas.
Não são só derrotas
Apesar da maré difícil nas últimas semanas, a ala olavista do bolsonarismo pode registrar ao menos uma vitória. Foi aprovado por 12 x 0 pela Comissão de Relações Exteriores do Senado o nome do diplomata Nestor Forster para o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos. A indicação ainda terá de passar pelo plenário da Casa, mas Carvalho já comemorou em postagem nas redes sociais: “Pela prova de capacidade pessoal que só enobrece a imagem do Brasil no exterior, envio aqui os mais efusivos parabéns a esse meu querido amigo”.