O 7 de Setembro segundo Jair Bolsonaro: relembre frases do presidente sobre os atos
Em um momento de baixa popularidade e crises contínuas, presidente tem dito que protestos serão “grito por liberdade” e “último alerta”
atualizado
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Com baixa popularidade, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) vem convocando, há cerca de um mês, apoiadores para manifestações políticas no 7 de Setembro, dia em que se celebra o 199º aniversário da Independência do Brasil. A politização do feriado nacional, que ocorre em meio à escalada das crises política, econômica e hídrica e à perpetuação da Covid-19, visa manter acesa a base mais radical do bolsonarismo.
Pesquisas apontam que Bolsonaro tem cada vez menos potencial de votos. Seu entorno acredita que a economia vai reagir e que é importante neste momento mostrar que o presidente ainda tem força política para mobilizar grande número de apoiadores.
A estratégia adotada desta vez foi a concentração dos atos em Brasília e em São Paulo, com caravanas de todo o país indo para as duas localidades. Na Avenida Paulista, o presidente espera encontrar 2 milhões de apoiadores.
A primeira vez que Bolsonaro citou uma mobilização nacional no Dia da Independência foi em 1º de agosto, quando falou em dar um “último alerta” para “aqueles que teimam em golpear a nossa democracia”. Os atos nasceram da insatisfação com a rejeição da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Voto Impresso.
Além da intenção de demonstrar apoio ao governo, grupos mais extremistas falam em invasão do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) e intervenção militar – “com Bolsonaro no poder”.
Frases sobre os atos
Veja abaixo as principais falas do presidente sobre os atos:
1º de agosto
Na primeira sinalização para um protesto em 7 de setembro, durante participação virtual em atos na defesa do voto impresso, Bolsonaro disse:
“Não estou aqui, em hipótese alguma, querendo impor a minha vontade, é a vontade de vocês, simplesmente. Se preciso for dar um último alerta àquele que não tem respeito para conosco, eu convidarei o povo de São Paulo, a maior capital do Brasil, para ir à [avenida] Paulista, para que o som deles, a voz do povo, seja ouvida por aqueles que teimam em golpear a nossa democracia. O povo dirá que voto tem que ser auditável, que a contagem tem que ser pública, e que o voto tem que ser impresso”.
14 de agosto
Em mensagem enviada para uma lista de transmissão no WhatsApp, o presidente compartilhou um texto sobre a necessidade de um “contragolpe”. A mensagem convocava apoiadores para se manifestarem no dia 7 de setembro com o objetivo de mostrar que Bolsonaro e as Forças Armadas têm apoio para uma ruptura institucional.
26 de agosto
Durante entrevista à rádio Jornal Pernambuco, Bolsonaro assegurou que os atos terão “caráter pacífico”.
“Acredito que esse movimento do dia 7, como todos os outros feitos por pessoas simpáticas ao nosso governo ou simpáticos àquilo que nós defendemos, são movimentos extremamente pacíficos, você não acha um papel no chão.”
31 de agosto
Ao convocar apoiadores para participarem de atos pró-governo neste 7 de setembro, o presidente afirmou que, desta vez, o destino do Brasil não vai ser alterado “levantando uma espada para cima e proclamando algumas palavras”.
“Não será levantando uma espada para cima e proclamando algumas palavras. No passado foi assim. Hoje, pela complexidade, pelo que está em jogo na nossa nação, será um pouco diferente. Mas temos um outro 7 de Setembro pela frente.”
4 de setembro
No último fim de semana, Bolsonaro proferiu discurso na versão brasileira do CPAC, convenção conservadora que ocorreu na capital federal, quando assegurou que seu grupo político é pacífico e afastou a possibilidade de invasões a prédios públicos. Pelas redes sociais, ele relacionou os atos à liberdade:
“Independência está associada à liberdade. Assim sendo, também no escopo dos incisos XV e XVI, do artigo 5° da nossa Constituição Federal, a população brasileira tem o direito, caso queira, de ir às ruas e participar dessa nossa data magna em paz e harmonia.”
Discursos são “alimento” para base radical, dizem especialistas
Para o cientista político e advogado Nauê de Azevedo, ao mesmo tempo em que Bolsonaro quer mostrar que consegue mobilizar sua militância, precisa desse tipo de evento para mantê-la ativa. “São coisas que se alimentam: você mostra que tem uma militância, ao passo que você a acende. Então, há um ciclo nesse tipo de prática”, avalia.
“Além disso, ele busca sustentar aquela narrativa de antissistema, de que está todo mundo contra ele e ele contra todo mundo, de que as pesquisas são falsas. Vem muito nesse sentido de tentar se contrapor à realidade dos fatos”, prossegue o analista.
Na mesma linha, o consultor político Alexandre Bandeira avalia a preocupação do chefe do Executivo em “alimentar a base mais exacerbada”.
“Existe essa necessidade do presidente Bolsonaro, que anda perdendo muito terreno com relação à a base que o elegeu em 2018, e esse discurso, de fato, une essa parcela mais engajada em defesa do presidente”, observa Bandeira.
Para Bandeira, uma reação mais incisiva do Supremo e do Congresso Nacional contra as declarações do presidente vai depender do tom do discurso adotado nesta terça. Segundo o consultor, no entanto, as manifestações deste 7 de Setembro devem seguir “apenas no discurso retórico” e o dia seguinte aos atos deve ser um um da normal como qualquer outro.
“Ele é uma pessoa que até agora entregou retórica. [Com] Todos esses fatos, teorias da conspiração, ele se mantém ainda no nível da retórica”, afirma.
Para o cientista político Nauê de Azevedo, o presidente está em franca campanha pela reeleição, mas, em que pesem as subidas de tom, ele se contradiz no próprio discurso. “Bolsonaro está radicalizando o discurso, mas é um discurso muito contraditório”, analisa.
Desfile do 7 de Setembro
Em 2021, novamente não haverá o tradicional desfile em alusão ao Dia da Independência. Em vez disso, será organizado um evento menor na residência oficial da Presidência da República, o Palácio da Alvorada, com hasteamento da bandeira. O desfile será uma espécie de prévia para as manifestações do decorrer do dia.
No ano passado, o tradicional desfile na Esplanada foi cancelado em razão da pandemia. Em seu lugar, houve uma solenidade no Alvorada que contou com um pequeno número de simpatizantes do governo e autoridades dos três Poderes, além dos comandantes das Forças Armadas (Aeronáutica, Exército e Marinha) e ministros do governo.
Em 2019, primeiro ano do mandato, Bolsonaro levou ao palanque 12 ministros e três donos de TVs: os empresários Silvio Santos (SBT), Edir Macedo (Record) e Marcelo de Carvalho (RedeTV!).