Número de viagens de Bolsonaro durante a pandemia já ultrapassa período pré-Covid
Presidente tem aproveitado período pandêmico para realizar viagens pelo país e se manter próximo da população antes do pleito de 2022
atualizado
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Às vésperas das eleições de 2022, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem aproveitado a pandemia de coronavírus para realizar mais viagens oficiais pelo país.
De acordo com um levantamento feito pelo Metrópoles, a quantidade de viagens de Bolsonaro durante a crise sanitária da Covid-19 já ultrapassou as agendas fora de Brasília feitas no período pré-pandemia.
As agendas buscam manter o chefe do Executivo federal próximo da população e dar o pontapé na campanha à reeleição no próximo ano, além de serem uma oportunidade para Bolsonaro criticar senadores da CPI da Covid-19 em seus próprios estados. A comissão investiga a atuação do governo federal no combate à pandemia.
Durante as visitas aos estados, o presidente também tem o costume de criticar governadores e prefeitos por causa da adoção de medidas de enfrentamento à pandemia, como o fechamento do comércio para frear a disseminação do vírus. Ele ainda dedica tempo para cumprimentar apoiadores, promovendo aglomerações nos locais por onde passa.
A pesquisa teve como base a agenda presidencial, divulgada pelo Palácio do Planalto, e contabilizou todas as partidas e chegadas do presidente a cidades nacionais e internacionais desde janeiro de 2019 a 10 de março de 2020 – pré-pandemia – e de 11 de março de 2020 a 16 de maio de 2021. A reportagem considerou o período até maio deste ano para uma comparação justa em relação às viagens antes da pandemia.
Desde que assumiu o comando do Planalto até um dia antes da Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar a pandemia de Covid-19, Jair Bolsonaro realizou 185 viagens pelo Brasil e pelo mundo. Já no período pandêmico, foram feitas 198 agendas até maio deste ano. Ao todo, ocorreram 61 viagens internacionais e 322 nacionais durante os dois períodos.
Horas dentro do avião
No último mês, o Metrópoles mostrou que o presidente Jair Bolsonaro passa mais horas dentro do avião presidencial do que cumprindo compromissos oficiais pelo Brasil.
Segundo levantamento feito com base na agenda oficial de Bolsonaro, de janeiro a agosto de 2021, o presidente ficou 61 horas e 50 minutos em eventos pelo Brasil — o que equivale a 2,5 dias. Para chegar aos estados e retornar a Brasília, o mandatário da República passou 151 horas e 35 minutos dentro do avião presidencial — o equivalente a 6,2 dias.
De março a dezembro de 2020, Bolsonaro dedicou 85 horas e 40 minutos a eventos pelo país e pelo mundo, o equivalente a 3,5 dias. No mesmo período, ficou 189 horas e 24 minutos dentro de aviões, o que corresponde a 7,8 dias.
O fechamento das fronteiras e as barreiras sanitárias impostas pelas autoridades mundiais obrigaram a interrupção de viagens, inclusive de chefes de Estado. No Brasil, mesmo negando a gravidade do novo coronavírus desde o início, Bolsonaro teve de reduzir o número de deslocamentos nos primeiros meses da pandemia, mas retomou nos meses seguintes.
Agendas não oficiais
Além dos compromissos oficiais de que Bolsonaro participa pelo país – como inaugurações de obras, cerimônias de entrega de títulos de propriedade rural e entregas de residências – e pelo mundo, o presidente também costuma se dedicar a atividades “fora da agenda”.
O grosso desses compromissos envolve o corpo a corpo com apoiadores. Ao desembarcar nos aeroportos ou ao chegar aos locais dos eventos, Bolsonaro faz questão de cumprimentar populares e abrir transmissões ao vivo – nas quais passa vários minutos apertando mãos, segurando crianças no colo e posando para fotos. Nessas ocasiões, o mandatário desrespeita protocolos sanitários.
Após viagem ao Maranhão, em 21 de maio deste ano, por exemplo, o governador Flávio Dino (PCdoB) multou o presidente Jair Bolsonaro por provocar aglomerações e não usar máscara de proteção facial.
Outro tipo de evento para os quais Bolsonaro tem despendido muitas horas são os passeios de motos, apelidados de “motociatas”. Essa programação já foi feita em ao menos oito cidades do país: Brasília (DF), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Chapecó (SC), Porto Alegre (RS), Presidente Prudente (SP), Goiânia (GO) e Uberlândia (MG).
A última delas, em Ponta Grossa (PR), seria realizada no sábado (25/9), mas foi cancelada em razão do isolamento ao qual Bolsonaro precisou ser submetido após ter tido contato com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que está com Covid-19.