Novo presidente da Funarte liga John Lennon a satanismo
Governo nomeou fãs de Olavo de Carvalho para o órgão e a Biblioteca Nacional, cujo presidente defendeu agressão de Augusto Nunes a Greenwald
atualizado
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A Secretaria de Cultura nomeou nesta segunda-feira (02/12/2019) dois novos gestores ligados ao professor de filosofia online Olavo de Carvalho, espécie de guru ideológico do governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Para a Fundação Nacional de Artes (Funarte) foi nomeado o maestro Dante Mantovani, que em canal no Youtube endossa várias teorias da conspiração, como a de que o governo americano teria distribuído drogas sintéticas a jovens nos anos 1960 graças a agentes soviéticos infiltrados.
Já o novo presidente da Biblioteca Nacional é monarquista e defendeu a agressão do jornalista Augusto Nunes ao colega Grenn Greenwald.
Em um canal com quase sete mil internautas inscritos no Youtube, o novo presidente da Funarte se propõe a falar de música clássica, mas constantemente descamba para teorias da conspiração.
Ao desqualificar as qualidades musicais do rock, por exemplo, dispara: “O rock ativa a droga que ativa o sexo que ativa a indústria do aborto. A indústria do aborto por sua vez alimenta uma coisa muito mais pesada que é o satanismo. O próprio John Lennon disse que fez um pacto com o diabo”.
Ele também defende que o rock, em geral, não pode ser classificado como música, mas diz que, apesar disso, gosta de duas bandas do gênero. A norte-americana Metallica (imagem em destaque) e a brasileira Angra, ambas representantes do gênero heavy-metal. “Rock é muito bom quando você está dirigindo e te da aquele sono”, avalia ainda.
Mantovani critica ainda o festival Woodstock. “Woodstock foi aquele festival da década de 60 que juntou um monte de gente, os hippies fazendo uso de drogas, LSD, inclusive existem certos indícios de que a distribuição em larga escala de LSD foi feita pela CIA [agência de inteligência do governo americano]. Mas como pela CIA? Tinha infiltrados do serviço soviético”.
Monarquista na biblioteca
O nomeado para presidir a Biblioteca Nacional, Rafael Alves da Silva, que se identifica como Rafael Nogueira nas redes sociais, é um apaixonado pelo monarquismo e saudoso do período em que o Brasil seguiu o regime. Em uma postagem, ele mostra que a capinha do passaporte emula um modelo imperial brasileiro. Veja:
Hora de retornar ao Brasil. Espero voltar logo para me capacitar cada vez mais a contar ao mundo os grandes feitos portugueses, e para desfrutar da agradabilíssima Lisboa. Muito obrigado a todos que fizeram parte disso. Essa passagem por Lisboa foi inesquecível. pic.twitter.com/HtCaubSV6E
— Rafael Nogueira (@r_nog) November 26, 2019
Silva (ou Nogueira) também usou as redes sociais para defender Augusto Nunes no episódio em que ele agrediu o também jornalista Glenn Greenwald, no início de novembro. “Em reação a uma injúria partir para as vias de fato é justo e legal”, disse.
Em reação a uma injúria partir para as vias de fato é justo e legal. Só histérico falando em violência! #SomostodosAugustoNunes #AugustoNunesHeroi
— Rafael Nogueira (@r_nog) November 7, 2019
Tem método
As nomeações publicadas nesta segunda no Diário Oficial da União são responsabilidade do chefe da Secretaria Especial da Cultura, Roberto Alvim, que tem feito uma série de contratações polêmicas para os órgãos pelos quais é responsável.
Na semana passada, ele nomeou para a Fundação Palmares o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo, que afirmou que a escravidão foi “benéfica para os descendentes”, que não existe “racismo real” e que o movimento negro precisa ser extinto.