Nos discursos de posse, Bolsonaro não dá trégua aos adversários
Durante as cerimônias das quais participou, o presidente fez questão de fustigar governos anteriores: “Nossa bandeira jamais será vermelha”
atualizado
Compartilhar notícia
No dia de sua posse como o 38º presidente da República do Brasil, o capitão da reserva Jair Bolsonaro (PSL) não decepcionou aqueles que o chamam de mito. Replicou o candidato que, durante a campanha eleitoral, falou em combate à corrupção e ao socialismo. E a julgar pelo discurso feito do alto do parlatório do Palácio do Planalto para a multidão que foi prestigiar sua posse, uma coisa é certa: não dará a menor trégua aos adversários.
O dia de Bolsonaro começou às 14h45, quando chegou à Esplanada e, no Rolls-Royce presidencial, locomoveu-se até o Congresso Nacional. No discurso aos parlamentares, após assinar o termo de posse, o ex-militar já deu mostras daquilo a que veio. Pediu o apoio de todos na “missão de restaurar e de reerguer nossa pátria, libertando-a, definitivamente, do jugo da corrupção, da criminalidade, da irresponsabilidade econômica e da submissão ideológica”.
Foi uma forma de buscar respaldo na Casa onde atuou por quase três décadas. No entanto, levou um revés do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que o cutucou: “governantes dependem da Constituição e os Poderes são independentes”. “Política é a arte de construir consensos. Não será com autoritarismo que se conseguirá o apoio do Congresso Nacional”, disse Eunício, que não se reelegeu senador.
Já presidente, Jair Bolsonaro seguiu para o Palácio do Planalto. Do parlatório, falou para a plateia, estimada em 115 mil pessoas. Bastante aplaudido, disse ao povo que “temos uma grande nação para reconstruir e isso faremos juntos”.
Porém, mais uma vez comportou-se como candidato em campanha. “Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade”, disse.
“Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares”, completou.
Livre do socialismo
As alusões às promessas de campanha não pararam, incluindo a defesa da segurança das “pessoas de bem” e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa. Novamente, de maneira indireta, ele alfinetou os governos do PT: “E me coloco diante de toda a nação neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto”, disse ao povo, que respondia aos gritos de “mito, mito, mito”. Ao mostrar a bandeira nacional, declarou que ela “jamais será vermelha”.
Do parlatório, Jair Bolsonaro foi ao palácio para empossar sua equipe de ministros. Na mesma cerimônia, assinou uma medida provisória para estabelecer a nova configuração da Esplanada dos Ministérios. Também nessa terça (1º/1), de acordo com o futuro subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, Jorge Antônio de Oliveira Francisco, Bolsonaro assinou decreto fixando o salário mínimo em R$ 998 – o Congresso Nacional aprovara, no fim de 2018, proposta que passava o valor do mínimo para R$ 1.006.
O próximo compromisso foi mais ameno. Bolsonaro e a primeira-dama, Michelle, foram ao Palácio do Itamaraty, onde ofereceram um jantar aos 10 chefes e 18 vice-chefes de Estado de outros países que vieram prestigiar a posse presidencial.
Mas, na cabeça de quem acompanhou todo o itinerário da solenidade de transmissão de cargo ao novo presidente, ainda ecoavam algumas palavras. “Por muito tempo, o país foi governado atendendo a interesses partidários que não o dos brasileiros. Vamos restabelecer a ordem neste país”, disse Bolsonaro. “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, reforçou, citando o nome de sua chapa vitoriosa ao Planalto – que também é lema dos paraquedistas, sua antiga função no Exército.
A bela e a fera
O estilo “rolo compressor” foi amenizado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras), ela quebrou o protocolo e no parlatório discursou, ao lado de uma tradutora, à comunidade surda. Michelle agradeceu a “todo apoio e carinho desde o início da nossa campanha”.
A primeira-dama também agradeceu a solidariedade dos brasileiros durante a recuperação de Bolsonaro, vítima de um atentado à faca na campanha eleitoral. “Agradeço a todos aqueles que demonstraram solidariedade nos momentos difíceis que meu esposo passou”, afirmou.
“Agora, como primeira-dama, terei a oportunidade de trabalhar ainda mais. Honra e privilégio de trabalhar para a sociedade brasileira. Cidadão brasileiro quer segurança, paz e prosperidade. Onde todos sejam respeitados”, encerrou.
E para provar que a fera pode ser domada pela bela, Michelle, atendendo a pedidos do público, beijou o marido presidente.