No fogo cruzado, parlamentares do PSL não veem solução para crise
Após incendiar partido, presidente Bolsonaro fechou a quarta-feira tentando minimizar problemas, mas descontentamento entre alas é crescente
atualizado
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A disputa de poder entre o presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o mandatário do partido, o deputado federal Luciano Bivar (PE), é comparada por vários membros da sigla a uma partida de truco, na qual ambos estão blefando aos gritos, mas ninguém coloca as cartas na mesa definitivamente. E a avaliação geral é de que o jogo não está perto de terminar e vai contaminar a agenda legislativa nas próximas semanas, especialmente em questões mais polêmicas, como a indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro ao cargo de embaixador brasileiro nos Estados Unidos.
A repercussão ao “conselho” de Bolsonaro a um apoiador, de “esquecer” o PSL, colocou fogo na sigla ao longo dessa quarta-feira (09/10/2019), mas o tamanho da crise incomodou o próprio presidente, que no fim do dia procurou jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto e fez a costumeira comparação da política com a vida conjugal. “Por enquanto, tudo bem. Não tem crise. Briga de marido e mulher de vez em quando acontece, né? Está tudo bem, não tem problema”, afirmou.
Horas antes, porém, a advogada Karina Kufa, que representa Bolsonaro (e deixou de representar o PSL), saiu de uma reunião com o presidente dizendo que ele “cogita” mesmo deixar a legenda e que o que falta é a definição de uma estratégia jurídica para permitir que parlamentares possam acompanhá-lo em outra legenda sem perder os mandatos.
Dinheiro e poder em jogo
“Se não tivesse obrigação de fidelidade partidária, hoje não teria mais PSL”, disse ao Metrópoles uma liderança do partido, pedindo anonimato. “Mas existe fidelidade, existe fundo partidário e existem as eleições do ano que vem, então vamos ter que seguir aos trancos e barrancos, infelizmente”, completou a liderança, que não acredita que Bolsonaro realmente planeje sair do partido. “Ele quer poder na direção. Se fosse pra sair, tinha saído já.”
O grupo de parlamentares do PSL mais próximos a Bolsonaro na Câmara divulgou, na noite dessa quarta-feira (09/10/2019), uma carta de apoio ao presidente e de cobrança a Bivar: “Para que o partido contribua para o estabelecimento de uma nova política, é preciso que a atual direção adote novas práticas, com a instauração de mecanismos que garantam absoluta transparência na utilização de recursos públicos e democracia nas decisões”, diz o texto, assinado por deputados como Carla Zambelli (SP), Bibo Nunes (RS) e Hélio Lopes (RJ).
Ao todo, assinaram 20 deputados, o que corresponde a 37% do tamanho da bancada, de 53 parlamentares. Zambelli, que coordenou o esforço, não avalia que a maioria da bancada, que não assinou a carta, esteja contra Bolsonaro. “É um partido muito grande e muitos podem não ter ficado sabendo”, apostou.
Há, porém, outra ala do partido, mais identificada com a pauta da operação Lava Jato e do combate à corrupção, que se mostra insatisfeita com as cobranças do presidente por mais espaço.
“Não é que estejamos contra o presidente, nós apoiamos o Bolsonaro. Mas não é um apoio cego”, afirma o deputado federal Júnior Bozzella (SP), que chegou a organizar um abaixo-assinado em favor de Bivar, mas resolveu não levar adiante uma guerra de listas.
“Lamento a divisão do partido, mas não posso concordar com pessoas que vão e voltam em suas posições conforme a conveniência do Palácio do Planalto. Se o presidente rompeu o pacto com as pessoas que foram para a rua contra a corrupção, eu não rompi. E muitos outros parlamentares também não”, afirmou Bozzella.
“Pelo número de assinaturas [na carta do outro grupo], se vê que é uma minoria radicalizando. Espero que tenhamos sabedoria para superar isso”, completou o parlamentar, que disse ainda que o PSL não abandonaria a base do governo se Bolsonaro saísse. “Estando ele onde estiver, vamos apoiar, mas as pautas que são de interesse público, como o pacote Anticrime”.
No pano de fundo da disputa, está o controle dos R$ 103 milhões que o partido receberá do Fundo Partidário ao longo de 2019 e os até R$ 500 milhões que pode abocanhar ano que vem se o fundo for reajustado para R$ 3,7 bilhões como os parlamentares desejam.