No “Dia B”, incertezas dão tom às manifestações em favor de Bolsonaro
Apoiadores e críticos dos protestos voltados para o Congresso Nacional e o STF avaliam que este domingo mudará os rumos do governo
atualizado
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As manifestações marcadas pelas hostes bolsonaristas para este domingo (26/05/2019), o chamado “Dia B”, podem ser definidas, até o momento, por uma palavra: incógnita. Envoltos em uma série de incertezas, aliados e críticos dos protestos em favor do presidente Jair Bolsonaro (PSL) parecem concordar em apenas um ponto: o governo será outro após este fim de semana, para o bem ou para o mal.
Do impeachment da petista Dilma Rousseff para cá, os apoiadores do capitão Bolsonaro perderam alguns parceiros, como o Movimento Brasil Livre (MBL), do deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), e o Vem pra Rua. Mas os organizadores acreditam que aqueles que ficaram pelo caminho não farão falta.
Tanto é que convocam novos “guerreiros” por meio de um vídeo divulgado nas redes sociais. Replicando a abertura da série Game of Thrones, as imagens exibem os horários e locais de concentração dos manifestos em todo o país.
Veja:
?GENIAL!
Chamada para as manifestações do dia 26
Compartilhe#Dia26 pic.twitter.com/bgxhXyTZDY
— Becabri (@BecaBrix) 22 de maio de 2019
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) é uma das maiores entusiastas do “Dia B”. A parlamentar fez do seu Twitter um verdadeiro ponto de recrutamento de bolsonaristas. “Semana de boas vitórias e pequenas derrotas, que só nos instigam a lutar ainda mais por um Brasil melhor. Ansiosa pela chegada do domingo, para sentir de novo a onda de patriotismo e amor nas ruas do nosso país”, postou.
Quem aí estará NasRuas neste domingo, levanta a mão!!
— Carla Zambelli (@CarlaZambelli17) 24 de maio de 2019
A pauta das manifestações é um tanto quanto difusa, mas, entre outros pontos, vai defender: a Nova Previdência; a manutenção do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro; o pacote anticrime, também capitaneado pelo ex-juiz da Lava Jato; a votação nominal da MP nº 870, da reforma administrativa do governo federal; e a operação Lava Toga.
“Reivindicações”
Na verdade, tais temas apenas encobrem os verdadeiros alvos dos bolsonaristas: o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Nas redes sociais, convocações para as marchas pró-governo pregam o fechamento do Parlamento e da Suprema Corte.
E foi exatamente a pauta de “reivindicações” que afastou alguns aliados. Kataguiri afirmou, nessa semana, que fazer protesto no momento pelo qual passa o país é um “um atestado de que o governo falhou”.
“Quando vão entender que demonizar o Congresso é péssimo para a aprovação da Previdência, principal pauta do governo?”, questionou. “O MBL não participará das manifestações principalmente pelas pautas de fechamento ou invasão do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Com idolatria cega corre-se o risco de ser um PT ou uma CUT [Central Única dos Trabalhadores] azul”, disparou o parlamentar.
Já o Movimento Vem Pra Rua emitiu nota dizendo que as pautas não estavam em sintonia com o que o grupo defende. “O Vem Pra Rua não apoia políticos nem partidos. Respeitamos o equilíbrio institucional dos poderes da República e acreditamos que as críticas pontuais a serem feitas devem respeitar a sua integridade. A democracia não pode prescindir de poderes fortes e independentes”, registrou o movimento.
“Raciocinem”
A deputada estadual Janaina Paschoal é a prova de que o “Dia B” dividiu mesmo seu partido, o PSL, legenda também do presidente Bolsonaro. Em grupos governistas do WhatsApp, ela postou: “Pelo amor de Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade”.
Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações! Raciocinem! Eu só peço o básico! Reflitam!
Deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP)
A parlamentar, aflita com o rumo que o governo está tomando, ameaçou abandonar a legenda. “Amigos, vocês estão cegos. Estou saindo do grupo, vou ver como faço para sair da bancada”, disse, para, no dia seguinte, negar que deixar o PSL esteja em seus planos.
O PSL liberou as bancadas da legenda para apoiar – ou não – as manifestações a favor do governo. “Eu vou participar. Nós vamos estar nas ruas. O movimento não foi criado pelo governo, foi espontâneo. Então, estaremos lá em apoio ao presidente”, pontuou o dirigente nacional da sigla, Luciano Bivar (PSL-PE).
“Nós fomos eleitos democraticamente. Institucionalmente, não há crise ética, não há crise moral, estão se resolvendo os problemas das reformas. Então, eu vejo sem sentido essa manifestação. Mas toda manifestação é válida, é um soluço do povo para expressar o que ele está achando”, observou Bivar.
Oposição com pé atrás
A oposição prefere manter um pé atrás com as manifestações deste domingo. A deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT, disse, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, que, embora os bolsonaristas não tenham a mesma força da época do impeachment de Dilma e da eleição de 2018, “têm base e máquina”.
Por sua vez, Guilherme Boulos, do PSol, acredita que o bolsonarismo está usando sua máquina nas redes para mobilizar. “Bolsonaro se elegeu usando a máscara antissistema e agora tenta governar mobilizando o mesmo sentimento”, afirmou, também à Folha de S.Paulo. “A estratégia pode funcionar para seus apoiadores na rua. Mas gera contradição com sua agenda, que é totalmente pró-sistema e depende do Parlamento para passar.”
A verdade é que o presidente Jair Bolsonaro, o maior interessado nas mobilizações deste domingo, planejadas como um contraponto às manifestações do dia 15 de maio, contrárias aos cortes de recursos na educação, endossa as incertezas e a divisão de seus exércitos.
Ao divulgar um texto de “autor desconhecido”, cujo principal mote é de que o Brasil seria “ingovernável” e o presidente estaria sofrendo pressões de todos os lados, Bolsonaro encorajou as manifestações de domingo. Os apoiadores veem no Congresso e no STF o reflexo dessas corporações.
“Morde e assopra”
Porém, no melhor estilo “morde e assopra”, o presidente ressaltou que não irá às manifestações e que orientou seus ministros e auxiliares a também não irem às ruas neste domingo. “Quem defende o fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional está na manifestação errada”, disse Bolsonaro.
Mas, ressalte-se, também não desencorajou seu séquito: “O presidente gostaria de declarar que as manifestações têm sempre caráter livre e espontâneo, especialmente essa que estamos tratando, que deve ser pacífica, não sendo contra grupos ou instituições”, informou o porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros.
O presidente defende liberdade de expressão e acredita ser fundamental a participação da sociedade nas discussões e decisões políticas. Elas objetivam dar relevo aos projetos prioritários para a sociedade, dentre as quais a aprovação da Nova Previdência, da Lei anticrime e anticorrupção, a aprovação da Medida Provisória nº 870
Otávio do Rêgo Barros, porta-voz da Presidência da República
Nesse ritmo, as incertezas dos momentos que antecedem as manifestações só serão dissipadas ao final deste domingo. E a incógnita que por ora caracteriza este movimento se tornará uma certeza. Mas há de se esperar um pouco para sabermos qual.