Nem governo nem oposição, Rodrigo Maia é favorito na disputa da Câmara
Candidato à reeleição, deputado do DEM tem seis concorrentes, conta com apoio da esquerda e procura neutralizar influência de Lorenzoni
atualizado
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No cronograma do futuro governo, 1º de fevereiro desponta como data crucial para as relações entre os poderes Executivo e Legislativo. Nesse dia, os deputados vão escolher o próximo presidente da Câmara, autoridade com prerrogativas suficientes para embalar ou atrapalhar os projetos do Palácio do Planalto. Até agora, pelo menos sete candidatos se apresentaram para a disputa.
A mais de dois meses da decisão dos deputados, o atual ocupante do posto, Rodrigo Maia (DEM-RJ), desponta como favorito. Se for bem-sucedido em sua pretensão, o parlamentar fluminense se tornará recordista em tempo consecutivo de permanência no posto.
Por ter exercido mandato tampão de seis meses depois do afastamento de Eduardo Cunha (MDB-RJ), em 2016, ele ultrapassará antecessores, como Flávio Marcílio (Arena-CE), no final da ditadura, e Ulysses Guimarães (PMDB-SP), no início da democratização, que ficaram quatro anos no cargo. O último presidente da Câmara mantido no posto por mais tempo foi Ranieri Mazzilli (PSD-SP), dono da cadeira por um quinquênio, entre 1958 e 1963.
O presidente da Câmara vai disputar a reeleição na condição de candidato que não pode ser caracterizado como oposicionista nem governista. Embora três parlamentares do DEM tenham sido, até sexta-feira (23/11), anunciados para a equipe ministerial do próximo governo, os indicados não fazem parte do grupo político de Maia.
Escolhidos pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, os deputados Luiz Henrique Mandetta (MS) e Tereza Cristina (MS) serão titulares, respectivamente, das pastas da Saúde e da Agricultura. O trio integra a área de influência de Onyx Lorenzoni (RS), também do DEM, destacado para comandar a poderosa Casa Civil do próximo governo.
Centrão a favor
Apesar da investida do futuro governo, Maia continua hegemônico na bancada do DEM. A situação é favorável a ele, também, nos partidos do Centrão, que majoritariamente o apoiaram nas duas eleições anteriores. Além disso, entre as legendas de esquerda, o atual presidente da Câmara desfruta de prestígio. Minoritários e empurrados para a oposição desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, partidos como PT, PCdoB e PDT dependem de espaço no Congresso para interferir na agenda política nacional.
Essas condições levaram a esquerda a se aproximar de Maia, político de perfil conservador na economia e nos costumes, mas aberto para o jogo democrático do Parlamento. Nos dois anos e meio à frente da Câmara, ele facilitou a atuação das minorias e, com isso, ganhou força para a próxima disputa.
A intenção de manter o bom relacionamento com a esquerda ficou evidente há poucos dias, quando Maia deu ao deputado André Figueiredo (PDT-CE) a relatoria da reforma fiscal. A missão, antes, era do deputado Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR), que não se reelegeu.
Fora do Poder Executivo e espremido no Congresso, o PT decidiu assumir a intenção de compor uma aliança que permita maior participação nos assuntos legislativos. O caminho mais seguro para dar esse passo é voltar a participar da Mesa Diretora da Câmara.
“Queremos formar uma ampla frente de oposição e, para isso, sabemos que precisamos reconstruir pontes”, afirma o deputado José Guimarães, um dos mais influentes da bancada petista. No cenário atual, uma aliança com Maia se apresenta como primeira alternativa.
Separação de poderes
Pelo perfil suprapartidário e por já presidir a Câmara, Maia também encarna em seu perfil a imagem de político com maior capacidade de preservar a independência do Congresso em relação ao Palácio do Planalto.
No campo dos aliados do futuro governo, pelo menos três candidatos demonstram interesse em suceder Rodrigo Maia. “A Câmara precisa refletir o resultado das urnas e fazer os debates que os parlamentares querem”, afirma o deputado Alceu Moreira (MDB-RS), um dos postulantes. “Nos últimos anos, atuamos em função das medidas provisórias”, acrescenta.
Entre os temas de interesse do parlamentar gaúcho, estão a segurança pública e a redução dos entraves ambientais para o agronegócio, pautas consonantes com as ideias de Jair Bolsonaro.
O presidente eleito, pelo menos por enquanto, manteve relativo distanciamento da disputa pelo comando da Câmara. Até agora, ele se concentrou na montagem da equipe. Como o Congresso sofreu significativa renovação nas urnas, as conversas ficarão mais efetivas a partir de janeiro, quando os novos parlamentares estarão mais presentes em Brasília.
Enquanto os novatos não chegam, os candidatos se posicionam em busca de apoios. Veja abaixo quem são os principais postulantes à Presidência da Câmara:
Rodrigo Maia (DEM-RJ) – Presidente da Câmara, tenta a reeleição com apoios na futura oposição e na base política de Bolsonaro. Caso consiga avançar nos acordos com as duas alas, confirmará seu favoritismo para mais um mandato no cargo. Identifica-se com a pauta econômica do presidente eleito e mantém vínculos com a esquerda parlamentar.
Alceu Moreira (MDB-RS) – Eleito para o terceiro mandato, faz parte da base de apoio do futuro governo. Presidente do partido no Rio Grande do Sul, integra a bancada ruralista. Defende maior envolvimento da Câmara na discussão de projetos relacionados à segurança pública, ao transporte e à agricultura.
Fábio Ramalho (MDB-MG) – Vice-presidente da Câmara, é popular entre os colegas e transita bem pelas diferentes bancadas. Apesar das boas relações, não aparece como nome de preferência do futuro governo nem da oposição. Por fazer parte da coligação com o PT em Minas, tem poucas chances de contar com o apoio do Palácio em sua candidatura.
João Campos (PRB-GO) – Pastor ligado à Igreja Universal e delegado de polícia, representa a “bancada da bíblia” e apoia Bolsonaro. Apesar da liderança entre os evangélicos, tem dificuldade para ampliar acordos com outros setores que tornem sua candidatura competitiva.
João Henrique Caldas (PSB-AL) – Conhecido pela sigla JHC, vai exercer o terceiro mandato consecutivo na Câmara e busca apoio do PSL, partido do presidente eleito. É filho do ex-deputado João Caldas da Silva, condenado por envolvimento com a máfia dos sanguessugas.
Capitão Augusto (PR-SP) – Policial militar, vai presidir a partir de dezembro a Frente Parlamentar da Segurança Pública, a “bancada da bala”. Eleito para o segundo mandato, prioriza os temas ligados ao setor e tenta sustentar candidatura à presidência da Casa em acordos com os partidos do Centrão.
Fernando Giacobo (PR-PR) – Primeiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara, vai para o quinto mandato. Assim como Capitão Augusto, não tem apoio da cúpula do PR para a disputa pela sucessão de Rodrigo Maia.