“Não vou discutir comportamento de Bolsonaro”, diz Nelson Teich
Ministro evitou criticar presidente, que, na véspera, rebateu com “e daí?” pergunta sobre as mais de 5 mil mortes de Covid-19 no Brasil
atualizado
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Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) responder com um “e daí?” uma pergunta sobre o Brasil ter ultrapassado a China em número de mortes pela Covid-19, o ministro da Saúde, Nelson Teich, evitou tecer críticas ao chefe. Em teleconferência com senadores nesta quarta-feira (29/04), ele disse que “não vai discutir o comportamento” de Bolsonaro.
Teich foi questionado pela senadora Rose de Freitas (Pode-ES), que lembrou declaração dada quando ele tomou posse, em 17 de abril. Na ocasião, o ministro garantiu “alinhamento completo” com o presidente – o antecessor dele no cargo, Luiz Henrique Mandetta, foi demitido por discordar de Bolsonaro quanto à necessidade de isolamento geral para conter o novo coronavírus. “Isso significa adotar a retomada da economia antes de cuidar da redução do número de mortos?”, questionou a parlamentar.
“Não vou discutir o comportamento, mas eu posso dizer que ele está preocupado com as pessoas e com a sociedade. O alinhamento é nesse sentido. Quando eu aceitei (o cargo), foi porque existe um foco total em ajudar as pessoas”, disse o ministro. “A gente trabalha isso como se fosse uma polarização política e não pode ser assim. Não vou discutir politicamente.”
Ao longo da audiência, que já dura quatro horas, ele foi continuadamente questionado sobre a questão do isolamento. Desde que assumiu, seu discurso é de que ele precisa de informações antes de tomar qualquer decisão sobre um eventual relaxamento das orientações para medidas de distanciamento social. Aos senadores, a linha de argumentação dele foi a mesma: logo no início, inclusive, em resposta a Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Teich recusou-se a cravar qual modelo de quarentena pretende orientar.
“Dizer se deve ficar em casa ou não, isso é resposta simplista para problema heterogêneo”, afirmou. “O isolamento é uma ferramenta que é bem ou mal usada. A gente vai trabalhar um detalhamento que é preciso levar em recomendação. O ideal é que a gente tenha os testes, e quem é positivo deve ficar isolado, assim como quem é mais velho, quem teve contato – vai depender da curva em cada região, de quantos casos.”
Até que se obtenham mais informações, como qual a parcela da população que de fato tem a doença, sobre a transmissibilidade do coronavírus, a confiabilidade dos testes e eficácia de possíveis remédios ou vacinas, a atual orientação quanto ao isolamento será mantida, garantiu. Até lá, o ministério trabalha em um “banco de dados” que permita traçar um cenário real da doença no país.
“A gente não sabe qual o percentual da sociedade que está acometido pela doença. Sem esse conhecimento, você está literalmente navegando às cegas. Medida de isolamento que radicaliza o distanciamento é necessário porque você não sabe o que fazer. Única coisa que você sabe é que o distanciamento diminui o risco de contágio.”
Reações
Frente às negativas do ministro para definir se apoiará, ou não, o relaxamento das regras de isolamento, ele foi cobrado por diversos senadores. Mara Gabrilli (PSDB-SP) chamou atenção para uma possível responsabilização dele e disse tê-lo achado “leniente”. Já Humberto Costa (PT-PE) disse que a ambiguidade quanto à quarentena “é o que está fazendo com que o Brasil sofra agora”. “Ou a gente está do lado da ciência, ou não está. O ministro utiliza o argumento da polarização: não, no mundo não tem essa polarização, não.”
“Estou tremendamente frustrado em relação às respostas que Vossa Excelência deu até o momento. Acho que há uma dubiedade muito séria. O senhor falou com a certeza de um pesquisador que precisa conhecer a doença, mas existe uma certeza: que o distanciamento social é a única maneira de impedir uma explosão de casos”, criticou Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Major Olimpio (PSL-SP), discordou: “Não adianta a gente cobrar o ministro por postura do presidente. Se for o caso, tem que cobrar o presidente. O ministro é para estabelecer as políticas públicas de saúde”.