“Não serei um presidente pato manco”, diz Bolsonaro sobre decisão de Moraes
Em entrevista, presidente classificou como “afronta” liminar do ministro do STF que impediu posse de Alexandre Ramagem na Polícia Federal
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta quinta-feira (30/04) que não vai “admitir ser um presidente pato manco”, em referência à decisão do ministro Alexandre de Moraes, que determinou a suspensão da nomeação de Alexandre Ramagem para o cargo de diretor-geral da Polícia Federal.
“Não vou admitir eu ser um presidente pato manco, refém de decisões monocráticas de quem quer que seja. Não é um recado. É uma constatação ao senhor Alexandre de Moraes”, disse o presidente durante entrevista à rádio Guaíba.
Mais cedo, no Palácio da Alvorada, Bolsonaro disse que “não engoliu” a decisão de Moraes, que se tratou de uma decisão “política” e ainda afirmou que a nomeação do ministro pelo ex-presidente Michel Temer para o Supremo também foi por amizade.
“Eu não engoli ainda essa decisão do senhor Alexandre de Moraes. Não engoli. Não é essa a forma de tratar um chefe do Executivo que não tem uma acusação de corrupção, que faz todo o possível pelo o seu país, sacrifica sua família, sacrifica seus amigos, sacrifica a todos”, reclamou Bolsonaro.
Durante a entrevista, Bolsonaro foi questionado se teme um processo de impeachment, ao que respondeu “de jeito nenhum”, mas disse que a abertura de um eventual processo deveria ser baseado em “fatos”.
“De jeito nenhum. O homem que vai à guerra e tem medo de morrer é um covarde. Que venha o impeachment um dia, mas um impeachment [baseado] em fatos. E não… Um dos pedidos, ou vários pedidos, tem [como motivo] que eu não apresentei o meu exame de vírus. É um absurdo. Baseado no que? Qual a materialidade? Não tem materialidade, não tem, zero”, declarou o presidente.
Nomeação suspensa
A nomeação de Ramagem foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) na madrugada de terça-feira (28/04). Nesta quarta, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou que a nomeação fosse suspensa.
Horas depois, Bolsonaro tornou sem efeito a nomeação do delegado à PF, além de também cancelar a exoneração de Ramagem como diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – ou seja, ele retorna ao cargo de chefe da Abin. Na ocasião, a AGU havia divulgado nota oficial informando que não recorreria da decisão de Moraes.
Uma das argumentações que sustentam a decisão de Moraes é a declaração do ex-ministro da Justiça Sergio Moro de que o mandatário do país pretendia “colher informações de investigações em andamento” na PF.
Durante cerimônia de posse dos novos ministros da Justiça e Segurança Pública e da AGU, Bolsonaro afirmou que “brevemente” concretizará o “sonho” de empossar o delegado Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal.
Ao chegar no Alvorada, no fim da tarde de quarta, Bolsonaro garantiu que o governo vai recorrer e que ele voltará a nomear o delegado para chefiar a PF.
“Eu quero o Ramagem lá [na PF]. É uma ingerência, né? Quem manda sou eu. Vamos fazer tudo para o Ramagem. Se não for, vai chegar a hora dele, e vamos colocar outra pessoa”, declarou Bolsonaro.