“Não parece ter vergonha na cara”, diz Marcelo Ramos sobre Mourão
Vice-presidente da República relativizou áudios que atestam prática de tortura na ditadura: “Vai trazer os caras do túmulo de volta?”
atualizado
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O vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PSD-AM), usou as redes sociais, nesta segunda-feira (18/4), para rebater as falas do vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos) relativizando o conteúdo dos áudios do Superior Tribunal Militar (STM) que atestam a prática de tortura na ditadura militar. As gravações foram reveladas pela jornalista Miriam Leitão, no domingo (17/4).
“Não me surpreendo com as falas do vice-presidente Mourão exaltando a ditadura. Quem, como ele, se sujeita a ser humilhado por um capitão expulso do Exército e ainda bajulá-lo, não parece ter vergonha na cara mesmo”, disse o deputado, referindo-se à relação de Mourão com o presidente Jair Bolsonaro (PL).
Veja:
Não me surpreendo com as falas do vice-presidente Mourão exaltando a ditadura. Quem, como ele, se sujeita a ser humilhado por um capitão expulso do Exército e ainda bajulá-lo, não parece ter vergonha na cara mesmo.
— Marcelo Ramos (@marceloramosam) April 18, 2022
Ele relativizou a reportagem da jornalista Miriam Leitão, uma das vítimas de tortura pela ditadura de 1964, que traz 10 mil horas de gravações feitas durante os 10 anos em que as sessões do STM foram registradas, inclusive as secretas. As audiências ocorreram entre 1975 e 1985 (confira os áudios aqui).
“Vai apurar o quê? Os caras já morreram tudo. Vai trazer os caras do túmulo de volta?”, disse. “Isso é história, já passou. Mesma coisa que a gente voltar na ditadura do Getúlio, né. São assuntos já escritos em livros e debatidos intensamente. É passado, faz parte da história do país”, continuou.
O historiador Carlos Fico teve acesso a elas, e a jornalista publicou os documentos em áudio. Trechos inéditos mostram os ministros do tribunal falando sobre torturas.
O vice-presidente defendeu que, ao relembrar o episódio que matou e sumiu com ao menos 500 pessoas entre 1964 e 1988, deve-se ouvir os “dois lados”.
“Tem que conhecer a história. A história sempre tem dois lados a ser contados, né? Então, vamos lembrar: aqui houve uma luta, dentro do país, contra o Estado brasileiro, por organizações que queriam implantar a ditadura do proletariado, que era um regime que na época atraía uma quantidade grande da juventude brasileira e também parcela da sociedade, mas que perderam essa luta”, declarou.
O vice-presidente ainda comparou a ditadura militar no Brasil com o atual conflito diplomático entre Rússia e Ucrânia, que perdura desde 24 de fevereiro.
“Houve excessos? Houve excesso de parte a parte. Não, não vamos esquecer o tenente Alberto lá da PM de São Paulo morto a coronhada pelo Lamarca e os facínoras dele, né? Então, toda vez que há uma guerra, a coisa é complicada. Vocês estão vendo agora no conflito lá na Ucrânia, todas as coisas que estão acontecendo lá”, argumentou.