“Não controlo multidão”, diz Bolsonaro em almoço com fotógrafo agredido
Durante a refeição, presidente reclamou de tentativas de culpá-lo pelas agressões sofridas pelos profissionais
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro convidou dois dos fotógrafos agredidos durante as manifestações anti democracia do último domingo (03/05) para almoçar com ele. Na ocasião, ele quis ouvir sobre as agressões sofridas pelos profissionais de imprensa durante ato pró-governo em frente ao Palácio do Planalto. Desde o episódio, Bolsonaro não se manifestou, disse apenas que as agressões poderiam ter partido de “infiltrados”.
Uma das vítimas de agressões, Dida Sampaio, não estava no Palácio do Planalto nesta terça-feira (05/05), mas Orlando Brito, 70 anos, dos quais 54 são dedicados ao fotojornalismo, se encontrou com Bolsonaro e um grupo de aproximadamente 10 pessoas para um almoço, no qual foi servido medalhão de carne com purê de batatas.
Durante o encontro, o presidente demonstrou a intenção de convidar Dida para almoçar e disse a Brito que não “controla a multidão”.
“Olha, atribuir aquela culpa, a culpa dessas agressões a mim, é uma sacanagem. Eu não vou comandar a multidão. A multidão é um negócio incontrolável”, disse Bolsonaro durante o almoço, segundo o fotógrafo.
“Como que eu posso controlar a multidão? Alguém pode imaginar que eu vou autorizar alguém a agredir alguém?'”, completou. Bolsonaro é crítico contumaz da imprensa, atitude que é seguida pelo seu grupo de apoiadores mais próximos. Na manhã desta terça-feira, por exemplo, ele chegou a mandar jornalistas “calarem a boca”.
“Todos os presidentes”
Orgulhoso de ter fotografado todos os presidentes da República “de Castello Branco pra cá”, Orlando Brito disse ter se ofendido mais com as agressões verbais do que as físicas.
“Eu vi que eles estavam indo pra cima do Dida e eu fui me aproximando, fotografando, até que um dele me viu e falou assim: aqui, ó, mais um. Quando eu vi, alguém tinha mandado a mão nos meus óculos, eu fiquei procurando, e um deles [agressores] estava pisando em cima. Depois vieram dois caras com a mão assim na minha cara [fazendo sinal de arminha com o polegar e indicador] falando: ‘você é um lixo’. Poxa, cara, aquilo foi o pior”, relembra.
Depois de descrever a cena ao presidente, Brito ouviu de Bolsonaro sugestões para melhorar a relação com a imprensa. O veterano citou os constantes casos de violência verbal praticados por apoiadores do presidente contra jornalistas no Palácio do Alvorada e sugeriu que o chefe do Executivo fizesse uma visita ao comitê de imprensa do Palácio do Planalto, algo que nunca ocorreu desde que Bolsonaro assumiu.