“Não adianta vir à Câmara de manhã e falar mal à tarde”, diz petista
Ao criticar visita de Bolsonaro para entregar projeto de lei, José Guimarães (PT-CE) acusa governo de não ter proposta para reverter crise e promete obstrução
atualizado
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A ida do presidente Jair Bolsonaro (PSL) à Câmara dos Deputados nesta terça-feira (04/06/2019), para entregar um projeto de lei que trata de novas regras para renovação e obtenção de carteira de motorista, irritou integrantes da oposição.
O vice-líder do PT, José Guimarães (CE), disse que o próprio comportamento de Bolsonaro nas redes sociais torna o ato, que seria de aproximação com o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sem efeito. “Não adianta nada ele vir à Câmara pela manhã e falar mal do Congresso à tarde”, disse o petista.
Guimarães ainda criticou o presidente por “atuar somente no periférico”, sem nenhuma proposta estruturante, segundo ele, para tirar o Brasil da crise. “O governo, até agora, fica na periferia, e não apresentou nenhum projeto para tirar o país da crise econômica e do abismo fiscal em que está metido, como disse o ministro da Economia, Paulo Guedes. Um ‘projetinho’ aqui e ali não resolve problema e apostar em uma ficha única, que é a reforma da Previdência, é um erro grave”, afirmou.
“O investimento público está paralisado e isso está afetando o governo no Brasil. Ele [Bolsonaro] teria que vir aqui para discutir a crise social”. completou Guimarães.
PIB
Nesta semana, após a divulgação do resultado do ano passado referente ao Produto Interno Bruto (PIB), economistas de cerca de 100 instituições financeiras reduziram a estimativa de crescimento neste ano de 1,23% para 1,13%. Foi a 14ª queda consecutiva do indicador.
De acordo com dados divulgados pelo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na última quinta-feira (30/05/2019), o PIB brasileiro caiu 0,2% no 1º trimestre, na comparação com o último trimestre do ano passado.
Para José Guimarães, o foco do governo em uma só proposta para a economia tem gerado a incerteza. “Veja que a previsão do PIB já caiu de novo. Daqui a pouco vai ficar abaixo de zero”, criticou.
“Qualquer economista que tem o mínimo de responsabilidade vai perceber que a reforma da Previdência não resolve problema de crescimento, o problema de emprego. É um governo de uma nota só”, enfatizou.
Pedalada
A equipe econômica do governo, por sua vez, está de olho no que acontecerá nesta quarta-feira (05/06/2019) na Comissão Mista de Orçamento (CMO), onde o governo pleiteia a aprovação um credito suplementar de R$ 248 bilhões para cobrir despesas correntes como o pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC), o que seria uma flexibilização na “regra de ouro” do Orçamento, que impede a emissão de títulos da dívida para pagar despesas dessa natureza.
A oposição tenta convencer os partidos de centro a apoiar uma estratégia de obstrução da votação com o objetivo de vincular parte dos recursos ao financiamento da Educação, projetos do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e a programas como o Bolsa Família.
“Nós, da bancada do PT, vamos dialogar na Comissão Mista de Orçamento e vamos fazer uma obstrução total. Não é possível a gente aprovar uma suplementação dessas e não ter um centavo para o Minha Casa, Minha Vida, para reaquecer a economia. Faremos uma obstrução para forçar o governo a negociar com o Congresso”, contou o petista.
“É a pedalada do Bolsonaro, mas em altíssimo grau. Se eles diziam que a pedalada da Dilma [Rousseff] era de R$ 69 bilhões, a do Bolsonaro passou para R$ 248 bi. Aí não é sério. É tratar a questão orçamentária com dois pesos e duas medidas. É claro que nós não vamos apostar em não liberar nada agora, mas não do tamanho que eles estão pedindo. Vamos fazer de tudo para negociar melhor e vincular uma parte desse recurso. Senão, não vamos deixar aprovar. Vamos para a obstrução na sessão do Congresso”, prometeu o petista, que tem conversado com lideranças de partidos do centro que ainda estão insatisfeitos com Bolsonaro.
Agenda própria
Um dos argumentos da oposição para obtenção de apoio do centro é a necessidade de uma agenda própria da Câmara. Isso tem sensibilizado partidos que não conseguiram ainda estabelecer um diálogo próximo com o presidente.
A estratégia, no entanto, esbarra na construção do chamado pacto federativo, que, de uma forma ou de outra, envolveu o presidente da Casa, Rodrigo Maia.
O chamado da oposição tem surtido efeito em meio a deputados que estão insatisfeitos coma estratégia do Planalto de aproximação somente com as cúpulas das casas legislativas e, nesse contexto, a oposição tem atuado com a busca de adesões.
“A câmara poderia construir uma agenda própria, independente do governo. Uma agenda do país. Não é papel dos Poderes, ainda mais do STF, fazer pacto. A Câmara, por exemplo, é formada por oposição e base do governo. Por isso deve ter autonomia e construir uma pauta que diga respeito ao que interessa ao Brasil”, argumentou Guimarães.