Na CPI, médico que trabalhava na Prevent relata chantagem para receitar kit Covid
Profissional desligado da operadora de plano de saúde relata que “não havia autonomia do médico” para exercer a profissão
atualizado
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O ex-médico da Prevent Senior Walter Correa de Souza Neto relatou à CPI da Covid-19, nesta quinta-feira (7/10), que era obrigado a prescrever medicamentos ineficazes contra o novo coronavírus em pacientes da operadora que buscassem atendimento na rede. “Não havia autonomia do médico”, enfatizou o profissional de saúde.
Neto relata ter trabalhado na empresa por oito anos, tendo sido desligado da operadora em fevereiro deste ano após apresentar relutância em aderir ao protocolo sustentado pela Prevent Senior.
Ele narra que a hierarquia na Prevent Senior era mais rígida do que nas corporações de segurança em que trabalhou. Antes de ser funcionário da operadora, o médico atuou no Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais e cerca de 10 anos na Polícia Civil de Minas Gerais.
“Esse lema de ‘lealdade e obediência’ usado pela empresa era um termo proveniente de uma cultura antiga e que permaneceu durante a pandemia. A hierarquia era muito rígida, baseada em assédio moral. Havia represálias importantes, talvez até perder o seu trabalho. As pessoas ficavam receosas de contrariar qualquer orientação”, relata.
Segundo o médico, os profissionais de saúde eram vítimas de chantagem.
“Eles falavam: ‘Continua prescrevendo, evita problema’. Por muito tempo prescrevi essas medicações porque sabia da determinação. Eu avisava os pacientes que não havia evidência [de eficácia dos remédios], que era apenas um protocolo institucional. Falava: ‘Utiliza só as vitaminas, essa era a orientação que eu fazia'”, disse.
Supostas irregularidades
Neto foi convocado para prestar esclarecimentos sobre supostas irregularidades encaminhadas à comissão supostamente cometidas pela operadora no tratamento de pacientes da Covid-19.
O ex-funcionário da empresa confirmou como procedentes denúncias que dão conta de cerceamento da autonomia médica e profissional e distribuição indiscriminada aos beneficiários da operadora do chamado kit Covid.
Há ainda indícios de que a empresa tenha aplicado metodologias terapêuticas para tratamento da Covid-19 que não estão autorizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou aprovadas pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para serem usadas sob protocolos clínicos de pesquisa.
Conforme consta no documento encaminhado aos parlamentares, é possível que a Prevent Senior tenha fraudado estudos clínicos para mascarar resultados negativos e certidões de óbitos de vítimas da doença.