Mudanças na Previdência deveriam começar por parlamentares, diz Molon
Líder da Oposição na Câmara criticou principal proposta da gestão Bolsonaro: para deputado, mudanças na aposentadoria não cortam privilégios
atualizado
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A reforma da Previdência deveria começar com a revisão da aposentadoria de parlamentares e políticos. É o que defende o líder da Oposição na Câmara dos Deputados, Alessandro Molon (PSB-RJ). Em entrevista ao Metrópoles, ele adiantou que defenderá, durante a análise da proposta na Casa, que antes de qualquer discussão sobre o regime geral para a população, seja feita uma reformulação das regras de aposentadorias da classe política.
No texto entregue pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) à Câmara em fevereiro, futuros deputados e senadores estarão automaticamente dentro do Regime Geral de Previdência Social (RGPS). Nesse contexto, as novas regras determinam idade mínima de 65 anos para homens e 62 para mulheres passarem à inatividade, além de 25 anos de contribuição, no caso de servidores públicos.
A regra atual prevê uma idade mínima de 60 anos para a aposentadoria de deputados federais e senadores, com 35 anos de contribuição. Os parlamentares recebem, hoje, 1/35 do salário para cada ano como congressista.
“Minha proposta é que o Congresso começasse aprovando o que o governo propõe de mudança de aposentadoria de parlamentares”, disse. “Deveríamos separar essa parte, aprovarmos separadamente, para descontaminar a discussão e deixar claro que o debate que vamos fazer sobre a reforma não está influenciado por qualquer interesse pessoal”, justificou Alessandro Molon.
Confira a integra da entrevista:
Veja fotos do líder da Oposição na Câmara durante a conversa com a equipe do Metrópoles:
Para o parlamentar, destacar esse tema do resto da reforma é uma maneira de evitar que o governo tente confundir a oposição com a defesa corporativista de interesses.
Inabilidade
Molon considera que o projeto apresentado pelo governo não é coerente com o discurso sobre a necessidade de cortar privilégios.
“Se mais de 80% da economia é em cima do trabalhador de carteira assinada, não é possível, não é correto, não é verdadeiro dizer que se trata de uma proposta que foi feita para tirar privilégios. Não é razoável dizer isso”, observou.
Assista ao trecho:
Ele também criticou a falta de habilidade política do presidente da República que, na visão do parlamentar, confunde negociações com o Congresso com compra de votos.
“O governo não tem articulação política na Câmara, não sabe conversar com o Congresso apesar de ter um presidente que esteve por 20 anos na Casa. Ele [Bolsonaro] teve sete mandatos”, critica o deputado. “Infelizmente, apesar de todo esse tempo, não conseguiu entender o que é articulação política, como se trabalha para se aprovar um projeto”, avaliou. Para Molon, essa negociação não pode se confundir com a compra de votos em troca de cargos ou emendas.
Armadilha
Molon ressaltou que a impressão passada pelo presidente da República é a de não se esforçar para a aprovação do projeto. Além disso, acredita que o ministro da Economia, Paulo Guedes, começou a se dar conta de que “caiu em uma armadilha”.
Como líder, o deputado foi autor de um dos seis requerimentos apresentados à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara para pedir a convocação do ministro. As solicitações não foram colocadas em votação e, em um primeiro momento, o presidente do colegiado, Francisco Francischini (PSL-PR), optou por convidar o ministro.
Guedes marcou a audiência na CCJ e desistiu de última hora, o que irritou os deputados. Agora, um novo acordo foi firmado para renovar o convite de comparecimento do ministro na próxima semana com o objetivo de explicar a proposta, ponto a ponto.
“Ele [Bolsonaro] não defende a reforma que propôs. É como se tivesse mandado [a proposta à Câmara] para cumprir o compromisso com o mercado financeiro, mas nem ele tem coragem de defender. Isso passa uma enorme insegurança para o Congresso Nacional”, interpretou Molon.
Assista:
O ministro (Paulo Guedes) está se dando conta de que foi para uma armadilha. Foi para um posto defender uma coisa que nem o seu chefe defende e nem cria condições para que ela seja defendida
Alessandro Molon, líder da oposição na Câmara dos Deputados