Múcio: ex-ajudante de ordens de Bolsonaro não será “condenado por especulação”
O Metrópoles revelou que ex-ajudante de ordens de Bolsonaro operava espécie de caixa 2. Denúncia resultou na demissão do chefe do Exército
atualizado
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Após reunião com o presidente em exercício, Geraldo Alckmin (PSB), no Palácio do Planalto, na manhã desta terça-feira (24/1), o ministro da Defesa, José Múcio, afirmou que o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), não será “condenado por especulação”.
A referência de Múcio a Cid ocorre três dias após reportagem do colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, revelar que o ex-ajudante de ordens operou uma espécie de caixa 2 com recursos em espécie – eles eram usados, inclusive, para pagar contas pessoais da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e de familiares dela. Além disso, a denúncia resultou na queda do então comandante do Exército, Júlio César de Arruda.
Segundo ministros palacianos, a gota d’água para a demissão teria sido a recusa de Arruda em exonerar Mauro Cid do 1º Batalhão de Ações e Comandos, o 1º BAC, uma das unidades do Comando de Operações Especiais, com sede em Goiânia.
Durante entrevista à GloboNews, o ministro detalhou que teve dificuldade para tratar sobre Cid. Além de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de envolvimento no vazamento de informações sigilosas, o militar aparece como “guardião” da família Bolsonaro em suposto esquema de repasse de valores em espécie.
“Eu estava com dificuldade de tratar deste assunto no comando do Exército, muita dificuldade. Há um espírito de corpo muito forte, há um ambiente político muito forte”, salientou Múcio.
O ministro também revelou que as suspeitas levantadas pela reportagem do Metrópoles foram tema de uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda na sexta-feira (20/1).
“Primeiro, a gente precisa ter acesso a isso [a provas dos repasses]. O presidente [Lula] foi o primeiro a dizer: ‘Olha, essa história de condenar só por condenar, eu já fui vítima disso. Vamos averiguar o que é que tem’. Precisa ver ao que nós vamos ter acesso nesse inquérito, ou nessas denúncias, porque não tem nem inquérito”, declarou.
Múcio ainda completou, dizendo que o novo comandante do Exército Brasileiro, Tomás Miguel Ribeiro Paiva, nomeado por Lula no domingo, solicitou tomar as rédeas da situação de Cid. “O general Tomás pediu para que ele tomasse a frente disso para dizer o que é que vai fazer, mas que tomará as providências e que combinará comigo e com o presidente”, pontuou.
O chefe da Defesa confirmou que a conivência do ex-comandante do Exército Júlio César de Arruda com Cid foi um dos pontos que pesou na demissão dele. Ele foi nomeado comandante do Primeiro Batalhão de Ações de Comandos, em Goiânia (GO), mas ainda não assumiu, em virtude das acusações.
Troca nos comandos
No sábado (21/1), o presidente Lula decidiu trocar o comando do Exército Brasileiro. O general Júlio César de Arruda foi exonerado do posto e substituído pelo general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.
Em coletiva de imprensa, ainda no sábado, Múcio afirmou que a mudança no comando do Exército ocorreu devido a uma “fratura no nível de confiança” entre o Exército e o poder Executivo na esteira dos recentes acontecimentos.
Em agenda na Argentina desde domingo (22/1), Lula comentou, na segunda-feira (23/1), a troca no comando da força armada.
“Eu escolhi um comandante do Exército que não foi possível dar certo, e escolhi outro comandante. Tive uma boa conversa com o novo comandante, e ele pensa exatamente com tudo que tenho falado sobre a questão das Forças Armadas. As Forças Armadas não servem a um político, elas não existem para servir a um político”, destacou o petista.