Mourão: usar desfile como pressão contra o Congresso seria “ridículo”
Vice-presidente não participou de desfile militar realizado na terça-feira (10/8), em frente ao Palácio do Planalto
atualizado
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O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), disse nesta quarta-feira (11/8) que “seria extremamente ridículo” se o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) usasse o desfile de veículos blindados da Marinha como forma de pressionar o Congresso Nacional pela aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) do Voto Impresso, bandeira de Bolsonaro.
O evento foi alvo de críticas por ser realizado no mesmo dia em que a proposta foi votada no Plenário da Câmara. Apesar de ter conseguido maioria dos votos, a proposta não reuniu o número mínimo (308) e acabou arquivada.
“A Marinha veio aqui fazer uma homenagem ao presidente, eu vejo dessa forma. Eu acho que estava marcado antes aí, né? Se fosse para ser colocado como uma forma de pressão no Congresso, seria extremamente ridículo, né? Então, não vejo dessa forma”, disse o general, ao chegar em seu gabinete na Vice-Presidência.
Mourão também minimizou a ausência dele no desfile, realizado na manhã de terça-feira (10/8), na Esplanada dos Ministérios. Mourão é general da reserva e costuma participar de eventos militares ao lado do presidente, mas desta vez disse não ter recebido convite para comparecer.
Cerca de 40 blindados, caminhões e tanques desfilaram por alguns minutos em frente ao Palácio do Planalto. O presidente da República, ministros de Estado e outras autoridades acompanharam o evento da rampa do edifício.
“O presidente não havia me avisado disso aí. Então, segui nas minhas atividades normais de uma terça-feira. Então, tomei conhecimento quando aconteceu o fato”, declarou o general.
Questionado se não é estranho não ter sido convidado para o evento, Mourão respondeu: “Não, não acho nada estranho. Estranho é o Flamengo perder de 4 x 0 para o Internacional, pô”.
O colunista do Metrópoles Igor Gadelha apurou que auxiliares do vice, alguns deles militares, viram como “inoportuno” o desfile e o aconselharam a não participar do evento.
Durante o desfile, foi entregue ao presidente Bolsonaro um convite para a Operação Formosa, realizada como treinamento das Forças Armadas. Apesar de a formação ocorrer anualmente desde 1998, foi a primeira vez que os tanques passaram pelo centro de Brasília.
Mourão ainda apontou que a Marinha quis fazer uma homenagem ao presidente e disse que um dos intuitos da demonstração pode ter sido a busca por mais recursos para as Forças Armadas. “A Marinha quis fazer uma homenagem ao presidente, não é? Apresentou ali o material que ela tem, talvez até no intuito de receber maiores recursos, pra dar uma melhorada”, pontuou.
Senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 também criticaram o ato. O presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM), iniciou a sessão do colegiado repudiando o desfile de tanques e militares nos arredores do Congresso Nacional, na manhã desta terça-feira (10/8). Aziz resumiu o episódio como “cena patética” e “golpista”.
O vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), classificou como “patética demonstração de fraqueza” o desfile militar apoiado pelo presidente. Nas palavras do senador, o evento é “mais patético que aqueles desfiles de Kim Jong-Un lá, em Pyongyang, na Coreia do Norte”.
Autoridades presentes
Acompanharam Bolsonaro os comandantes das três Forças: Almir Garnier Santos, da Marinha; Carlos de Almeida Baptista Junior, da Aeronáutica; e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, do Exército.
Os seguintes ministros também estiveram presentes: Braga Netto, da Defesa; Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI); Ciro Nogueira, da Casa Civil; Onyx Lorenzoni, do Trabalho; Anderson Torres, da Justiça; Gilson Machado, do Turismo; Milton Ribeiro, da Educação; Carlos França, das Relações Exteriores; Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional; Tereza Cristina, da Agricultura; e Fábio Faria, das Comunicações.
Também acompanharam o ato o ministro do Tribunal Superior do Trabalho (TST) Ives Gandra Filho; o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Jorge Oliveira; o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ); o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR); e o vice-líder do governo na Câmara, Evair de Melo (PP-ES).
Apoiadores do presidente se reuniram na Praça dos Três Poderes, em frente à rampa presidencial, durante o desfile. O grupo bradava: “Mito”, “Eu autorizo” e “142”; este, em referência ao artigo 142 da Constituição, que trata sobre as Forças Armadas. Bolsonaro não conversou com apoiadores, nem discursou publicamente no decorrer do evento.