Mourão minimiza tensão entre Poderes: “É retórica inflamada”
Vice-presidente diz que Bolsonaro “se irrita” e acaba fazendo “desabafo”. Para ele, inquérito sobre fake news é “choro de perdedor”
atualizado
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O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) minimizou, em entrevista ao jornal Valor Econômico, o acirramento da tensão entre os três Poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário — e disse acreditar que não haverá graves consequências concretas desse embate.
“É retórica inflamada”, avaliou o vice-presidente, ressaltando o posicionamento político do presidente, que é de direita, e atribuindo os conflitos a um suposto inconformismo com a mudança na condução ideológica do país. “Isso é a alternância democrática. Deixa esse pacote passar. Se provar que funciona, ele será eleito em 2022 e, se não funcionar, ele irá para o lixo da história”, disse o vice-presidente.
Ao comentar a nota oficial em que o chefe do Gabinete e Gestão Institucional (GSI), general Augusto Heleno, citou “consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional” em resposta a um pedido de informação feito por Celso de Mello, ministro do STF, o vice-presidente disse que foi um “desabafo”.
Ele disse ainda que é uma característica pessoal do presidente se irritar com os fatos e fazer desabafos. “A gente procura conversar com ele para ele não se irritar porque quem te irrita te domina. Ele compreende, mas tem hora que ele faz os desabafos dele”, disse Mourão.
O vice-presidente discordou que o presidente Jair Bolsonaro possa ser quem causa as tensões. “Eu não vejo só dessa forma. O que vem acontecendo no Brasil é que nos últimos 30 anos os Poderes Legislativo e Executivo só sofreram desgastes”, disse.
“No Legislativo, foram os anões do Orçamento, o mensalão, o petrolão, a máfia das ambulâncias, a máfia dos sanguessugas. O Legislativo foi totalmente contaminado por escândalos de corrupção e o Executivo, atrelado ao Legislativo pelo presidencialismo de coalizão — detesto essa expressão porque para mim todo presidencialismo tem que ser de coalizão porque senão não governa”, prosseguiu.
“O Judiciário ficou meio que de fora disso aí e passou a ter um protagonismo além dos limites dele, começou a legislar, a interferir em decisões que eram do Executivo, sem ser contestado. Dizem que o STF diz a última palavra, mas ele está dizendo a primeira, muitas vezes”, opinou.
Sobre o compartilhamento de dados do inquérito sobre as fake news com a Justiça Eleitoral, Mourão classificou a ação como “choro de perdedor”.
“Acho que essa questão das fake news é choro de perdedor e isso virou moda no Brasil. O camarada perde a eleição e, como aconteceu na reeleição da Dilma, se passou não sei quanto tempo discutindo isso e quando foi para o tribunal, havia provas extremamente consistentes em termos de uso do poder econômico”, disse.