Mourão admite “ruídos” com a China, mas ressalta parceria comercial
Vice foi questionado sobre críticas ao país por autoridades brasileiras. Recentemente, Bolsonaro voltou a questionar eficácia da Coronavac
atualizado
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O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos), admitiu nesta segunda-feira (23/5) que há “ruídos” na comunicação brasileira com a China. Ele, no entanto, ressaltou que a potência econômica é um “parceiro confiável” do Brasil.
Em conversa com a imprensa após reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban) – que tem o objetivo de incentivar o relacionamento bilateral entre Brasil e China –, Mourão foi questionado sobre declarações de integrantes do governo brasileiro contra o governo chinês.
Na semana passada, por exemplo, o próprio presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a questionar a eficácia da Coronavac, vacina contra a Covid-19 desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac. O chefe do Executivo federal citou o aumento de casos da Covid na China.
“De poucas semanas para cá, estamos vendo a explosão de casos de Covid na China. Não vou fazer juízo de valor, mas de onde é a Coronavac? Se no país onde nasceu a Coronavac o povo está se contaminando em larga escala, o que está acontecendo? Por que estão explodindo casos em Xangai e em outros grandes centros?”, indagou o presidente durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais.
Sobre o assunto, Mourão disse que mesmo com os ruídos, a comunicação entre Brasil e China foi “mantida sempre no mais alto nível”. “Isso ficou claro durante todas as manifestações ocorridas agora durante a nossa reunião e bem como as reuniões das subcomissões que ocorreram ao longo desse período [de pandemia]”, afirmou o vice-presidente.
“A China adotou uma estratégia de enfrentamento do Covid totalmente distinta do resto do mundo. Vamos dizer assim: pelas características do país e sistema de governo, ela [China] adota essa estratégia de ‘Covid zero’; volta e meia causa uma ruptura em termo das cadeias de suprimentos globais, porque dá uma parada na economia, mas aqui no nosso caso tivemos um relacionamento bem intenso”, acrescentou.
O vice lembrou que o Brasil comprou 100 milhões de doses da Coronavac contra a Covid-19. “Ou seja, essa parceria, em termos de enfrentamento da pandemia, ela foi extremamente positiva para nós aqui no Brasil e para a relação comercial da China”, disse Mourão, ressaltando que o país também é um parceiro “confiável” e “capaz de suprir uma das grandes demandas chinesas, que é a questão de segurança alimentar”.
Críticas à China
Desde sua campanha presidencial, Bolsonaro vem fazendo críticas à China. Os ataques também vêm de pessoas próximas ao presidente, como seus filhos, alidos e ex-integrantes do governo. Os ataques aumentaram durante a pandemia de coronavírus.
Em maio do ano passado, Bolsonaro insinuou que a pandemia seria parte de uma “guerra biológica” chinesa e que “os militares sabem disso”.
Em outras oportunidades, o presidente disse, sem citar o nome do país, que o vírus pode ter sido criado propositalmente na China.
Também no ano passado, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, culpou o país asiático pela Covid-19.
Nas redes sociais, o parlamentar publicou uma mensagem que dizia: “Quem assistiu (à série) Chernobyl vai entender o q ocorreu. Substitua a usina nuclear pelo coronavírus e a ditadura soviética pela chinesa. +1 vez uma ditadura preferiu esconder algo grave a expor tendo desgaste, mas q salvaria inúmeras vidas. A culpa é da China e liberdade seria a solução”.
Na época, a Embaixada da China no Brasil repudiou os comentários do deputado e disse que as declarações eram “extremamente irresponsáveis” e pediu para que Eduardo pedisse “desculpas ao povo chinês”.