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Moro na Câmara: confusão, ataques, discurso repetido e algumas lacunas

Ida do ministro da Justiça à CCJ para falar sobre os vazamentos de conversas terminou com acusação de “juiz ladrão” e abandono da sessão

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Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Moro-Boca Aberta-CCJ
1 de 1 Moro-Boca Aberta-CCJ - Foto: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Durante quase 8 horas, o ex-juiz da Lava Jato e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública de Jair Bolsonaro, Sergio Moro, foi questionado por mais de 50 deputados federais, na Câmara. Moro participou de uma sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, que começou na tarde dessa terça-feira (02/07/2019) e só terminou no meio da noite, depois de uma imensa confusão.

A sessão tinha como objetivo questionar o ministro a respeito do vazamento de conversas que, supostamente, seriam entre ele (quando juiz) e procuradores da Lava Jato. No entanto, como já era esperado, a audiência na CCJ virou um embate entre a oposição e os deputados da base governista.

Teve de tudo: provocações oposicionistas, contra-ataques governistas, cartazes com apelidos atribuídos a parlamentares na lista de propinas da Odebrecht, entrega de taça ao “craque Moro” e defesa repetida do ministro questionando a veracidade das mensagens – ao menos, de parte delas. O que não teve foram respostas de Moro sobre a informação de que a Polícia Federal (PF) passara a investigar Glenn Greenwald, advogado e jornalista norte-americano fundador do site The Intercept Brasil (veículo on-line onde os diálogos estão sendo publicados desde 9 de junho).

Ele se recusou a responder se a informação, divulgada pelo site O Antagonista, era verdadeira ou falsa – o que alimentou a impressão entre os oposicionistas de que, sim, a PF está nos calcanhares de Greenwald e pediu ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) uma apuração das finanças do jornalista.

“Juiz ladrão”

PT, PSol, PCdoB e parte do PDT se revezaram entre ataques ao que chamaram constantemente de parcialidade do ministro. Nesse quesito, mostraram competência. Isso porque mais que o dobro de parlamentares usaram os cinco minutos de fala que tinham para criticar Moro, quando comparado ao número de deputados que exaltaram o trabalho de combate à corrupção do ex-juiz federal.

Por fim, Moro foi chamado de ladrão e se revoltou. “Um deputado absolutamente despreparado, que não guarda o decoro parlamentar. Fez uma agressão, ofensas inaceitáveis. Infelizmente teve que encerrar a sessão. A culpa é desse deputado totalmente despreparado. Glauber, acho, Glauber alguma coisa. Sabe Deus de onde veio isso aí”, atacou o ministro, ao deixar a Casa.

Sergio Moro se referia à seguinte fala do deputado do PSol do Rio de Janeiro, Glauber Braga: “O senhor vai estar, sim, nos livros de história como um juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão. A população brasileira não vai aceitar como fato consumido um juiz ladrão e corrompido que ganhou uma recompensa por fazer com que a democracia brasileira fosse atingida. É o que o senhor é: um juiz que se corrompeu”.

A sessão

Assim que chegou à Câmara, Moro teve 20 minutos de fala e destacou os números da Operação Lava Jato, que ele coordenou antes de assumir vaga no ministério de Jair Bolsonaro. Na sequência, assim como fez em seu discurso no Senado, o ministro manteve o discurso de que a força-tarefa foi uma das maiores da história do Brasil contra a corrupção e por isso é atacada.

“Existe aí muito revanchismo. Tenho certeza (de que), se, durante a condução da Operação Lava Jato, eu tivesse me omitido, tivesse deixado a corrupção simplesmente florescer, virado os olhos para o outro lado, não sofreria os ataques que sofro atualmente”, falou o ministro, colocando-se no papel de vítima de ataques pelo combate à corrupção.

Repetidas vezes, o juiz acusou o site The Intercept de fazer sensacionalismo com as possíveis mensagens. “O que existe é um escândalo fake afundando. Meu depoimento é igual ao do Senado porque reflete a verdade.”

Apesar de não ter caído em contradição, o ministro se desgastou mais durante a sessão na Câmara dos Deputados do que na realizada há cerca de 15 dias no Senado Federal. Dessa vez, a oposição, melhor organizada, conseguiu irritar Moro, que, em certos momentos, mostrou-se impaciente e cansado.

Troféu para o craque
Durante a sessão, Moro chegou a ser presenteado com um troféu. A homenagem foi entregue pelo deputado Boca Aberta (PROS-PR), depois de fazer um discurso contra o PT. O parlamentar explicou que a homenagem seria equivalente ao troféu Liga dos Campeões, competição de clubes mais visada por jogadores de todo o mundo e disputada na Europa. “Cobiçado por craques como Neymar e Messi, (o troféu) agora ficará com o craque Moro”, disse.

Afinal, são verdadeiras ou não?

A dificuldade em negar ou afirmar a veracidade das mensagens vazadas foi apontada pelos oposicionistas como a principal falha do ministro. “Eu não reconheço a autenticidade dessas mensagens, eu não as tenho mais no meu celular. Algumas até podem ser minhas, mas podem ter sido adulteradas total ou parcialmente’, afirmou Moro, repetidas vezes.

No fim da noite, o líder do PT na Câmara, deputado Paulo Pimenta (RS), prometeu apresentar um novo requerimento na CCJ para que o ministro da Justiça volte novamente à Câmara e responda aos questionamentos dos deputados que ainda não fizeram as suas perguntas – mais de 130 se inscreveram e apenas cerca de 50 falaram. Pimenta chamou Moro de fujão, visto que o ex-juiz deixou a sessão quando a confusão começou.

No entanto, ao fim da audiência, Felipe Francischini (PSL-PR), que preside a CCJ, garantiu que não colocará o requerimento em votação. Segundo ele, Moro só foi embora porque a deputada Professora Marcivânia (PCdoB-AP), que presidia a sessão no momento da confusão – por ser a presidente da Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público – teria encerrado a sessão sem seu consentimento. “Na CCJ, não vai ter Moro nunca mais”, esbravejou Francischini no fim da confusão.

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