Moro concorda com redução da maioridade penal
Em coletiva, futuro ministro da Justiça disse que adolescentes acima de 16 anos “já têm condições de percepção de que não pode matar”
atualizado
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O juiz federal Sérgio Moro afirmou na tarde desta terça-feira (6/11), em coletiva de imprensa em Curitiba (PR), que adolescentes acima de 16 anos “já têm condições de percepção de que não pode matar”. A fala foi resposta a uma pergunta sobre a opinião dele à PEC que reduz a maioridade penal para crimes graves. O presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), que o convidou para o Ministério da Justiça e Segurança Pública, é favorável à medida.
Sobre a flexibilização do porte de armas, Moro disse que “parece que seria inconsistente ter opinião contrária” à de Bolsonaro e que há uma reclamação geral da população sobre o porte de armas. “As medidas são muito restritivas”, disse.
Moro também disse que, embora o foco de sua gestão no Ministério seja o do combate à corrupção, nenhuma área será negligenciada. “Evidentemente vai haver uma atenção às áreas indígena e de minorias”, observou.
O juiz admitiu ainda que confrontos policiais são uma possibilidade, pois há regiões do país dominadas por organizações criminosas. “Mas isso não significa que confronto policial é uma estratégia que possa ser seguida”, afirmou.
Propostas simples
Na coletiva, Moro defendeu encaminhar propostas “simples” e de fácil aprovação ao Congresso Nacional como primeiras medidas de combate à corrupção. Entre as propostas defendidas pelo futuro ministro, estão estabelecer na legislação a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância e o fim da progressão de pena para presos ligados a organizações criminosas.
“A progressão ressocializa, mas se existem provas de que o preso mantém vínculo com organização criminosa, isso significa que não está pronto para ressocialização”, disse Moro, afirmando que a intenção é desestimular a filiação de presidiários a organizações criminosas.
Além disso, Moro citou intenção de alteração nas regras de prescrição de crimes, uma regulação mais clara para operações que usam policiais disfarçados e proteção para denunciantes anônimos.
Moro disse que quer aproveitar as chamadas Dez Medidas contra Corrupção apresentadas pelo Ministério Público Federal e que foram desfiguradas pelo Congresso em 2016, além do pacote de medidas apresentadas pelo movimento Transparência Internacional em parceria com a Fundação Getulio Vargas.
Ainda na entrevista Sérgio Moro adiantou que, no momento oportuno, vai indicar os nomes que vão fazer parte do gabinete do Ministério da Justiça e Segurança Pública.. “Pretendo chamar pessoas absolutamente qualificadas e nomes da Lava Jato”, sinalizou.
Padrão da Lava Jato
Moro também disse que vai tentar repetir o mesmo padrão da Operação Lava Jato na gestão do Ministério. Ele evitou tecer comentários maiores sobre projetos relacionados à pasta. Sobre o que prevê a regulamentação do lobby, ele se limitou a dizer que “parece bom, mas é complexo”.
Ele também criticou instrumentos protelatórios de processos. De acordo com Moro, o advogado não pode contar que o sistema de Justiça seja “garantia de impunidade”.
Sobre o pacote de medidas contra a corrupção que pretende anunciar, ele disse que ele será discutido com o Congresso Nacional. “A nossa tentativa é que propostas gerem um ciclo virtuoso para retomar padrões mais normais”, disse.
De acordo com Moro, a relação com demais Poderes será absolutamente harmônica e respeitosa. “Tudo será feito com base na Constituição, que não nos condena a ‘inefetividade'”, ressaltou.
Mãos Limpas
Moro também citou a Operação Mãos Limpas e lembrou que ele não conseguiu exterminar a corrupção na Itália. “Eu tomei a decisão que me pareceu melhor para termos os avanços que considero necessários para que não haja retrocesso no combate à corrupção”, comentou.
O juiz afirmou ainda que, durante a conversa com o presidente eleito, foi colocada a ele a possibilidade de transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) para o futuro Ministério da Justiça e da Segurança Pública.
“Ele (Coaf) é um importante instrumento de prevenção à lavagem de dinheiro. É preciso reestruturar e fortalecer o Coaf”, afirmou.
Na coletiva de imprensa, Moro ainda afirmou que o assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes tem de ser solucionado rapidamente. “Não desconheço o problema que envolve o assassinato da ex-vereadora Marielle Franco e do senhor Anderson Gomes. Acho que é um crime que tem que ser solucionado. Assumindo o Ministério, pretendo me inteirar melhor dessas questões e ver o que é possível fazer no âmbito do Ministério”, declarou.