Ministros e presidente não se entendem sobre recursos para a Amazônia
Bolsonaro questionou as intenções das doações, como a anunciada por Emmanuel Macron: “Quem está de olho na Amazônia? O que eles querem?”
atualizado
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Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PSL) questiona as intenções dos países ricos ao anunciar que vão ajudar o Brasil com recursos na ordem de 20 milhões de euros para combate a incêndios na Amazônia, os dois principais ministros de seu governo envolvidos na questão, o do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e o da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, declararam achar que “todo tipo de ajuda é bem-vinda”.
Nesta segunda-feira (26/08/2019), o presidente levantou a suspeita sobre a boa fé dessa ajuda internacional, na porta do Palácio da Alvorada – onde se recusou a responder perguntas de jornalistas. “Macron promete ajuda de países ricos à Amazônia. Será que alguém ajuda alguém, a não ser uma pessoa pobre, né, sem retorno? Quem é que está de olho na Amazônia? O que eles querem lá?”, questionou o presidente.
Ao participar de um evento no Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis (Secovi), em São Paulo, Salles, entretanto, elogiou a medida anunciada pelo presidente da França, Emmanel Macron, ao fim da reunião da cúpula das sete potências. Salles classificou a ajuda como “excelente medida” e disse ser “muito bem-vinda”.
“Eu queria aproveitar inclusive para lembrar que desde 2005 o Brasil tem cerca de 250 milhões de toneladas de gás carbônico, mecanismo de desenvolvimento limpo, para receber, e isso gera mais ou menos uma receita de US$ 2,5 bilhões. Essa é também uma medida que nós pedimos que os países desenvolvidos, o G7, nos ajudem a quitar essa fatura do Protocolo de Kyoto, esse crédito que o Brasil tem, o que seria muito bem-vindo para nós”, disse Salles.
O ministro da Defesa foi além. Em entrevista à BBC News Brasil, disse que “toda ajuda é bem-vinda” e respondeu que isso “não afeta” a soberania nacional. “Não é ingerência, é questão de ajuda técnica.”
Nesta segunda-feira, a cúpula do G7 chegou a um acordo para oferecer ajuda no combater às queimadas na Floresta Amazônica.
Os líderes do grupo – formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido – concordaram em liberar 20 milhões de euros (cerca de R$ 91 milhões) para a Amazônia.
“Soberania”
Também nesta segunda, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, usou as redes sociais para comemorar chefes de Estado do G7 (grupo das principais economias do mundo) que ignoraram a Amazônia e todas as questões ambientais na declaração final do encontro ocorrido no fim de semana, em Biarritz, na França. Para o assessor palaciano, o “bom senso e o respeito à soberania brasileira prevaleceram”.
“A declaração final dos Chefes de Estado e de Governo reunidos em Biarritz para a 45ª reunião de cúpula do G7, divulgada há pouco, contém apenas uma página e não faz qualquer menção à Amazônia ou a questões ambientais. O bom senso e o respeito à soberania brasileira prevaleceram”, disse o assessor, em sua conta no twitter.