metropoles.com

Ministro exagera ao falar da participação de estatais na Lei Rouanet

Em coletiva no Rio, Sérgio Sá Leitão anunciou retração quase três vezes maior do que a real entre incentivos de 2016 e 2017

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO
Sérgio Sá Leitão é nomeado ministro da Cultura
1 de 1 Sérgio Sá Leitão é nomeado ministro da Cultura - Foto: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO CONTEÚDO

A Lei Rouanet voltou a ser discussão nesta semana. No último dia 16, o ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, esteve no Rio e em São Paulo para divulgar um balanço de 2017. Além disso, na semana passada, deu uma entrevista à revista IstoÉ e respondeu a perguntas sobre a Lei de Incentivo à Cultura. A Lupa reuniu frases ditas pelo ministro e curiosidades sobre a Lei Rouanet. Veja o resultado desta checagem:

“Nós tivemos, em 2016, uma participação das empresas estatais, no bloco da Lei Rouanet, de 35%, pouco mais de um terço. Isso caiu para 7% em 2017. Ou seja, uma queda bastante expressiva””
Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, em coletiva no Museu do Amanhã, no dia 16 de janeiro

De fato, a participação das empresas estatais no valor total captado pela Lei Rouanet foi de 7,4% em 2017. Mas, no ano anterior, em 2016, ela representou 10,9%, e não 35%, como afirmou o ministro. Naquele ano, o total captado por meio da lei foi de R$ 1,164 bilhão. As estatais responderam por R$ 125 milhões. Em 2017, o total foi de R$ 1,149 bilhão, sendo R$ 86 milhões das estatais. A queda foi, portanto, de 31%.

Segundo o Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic), plataforma do Ministério da Cultura (MinC) para gerenciamento da Lei Rouanet, o BNDES e a Petrobras foram as estatais que mais deixaram de incentivar projetos culturais pela lei, entre 2016 e 2017. Foram R$ 25 milhões e R$ 6,7 milhões a menos, respectivamente. As duas aparecem, ao lado da Vale e do Banco do Brasil, na lista das que mais usaram a Lei Rouanet desde sua criação, em 1992.

Procurado, o MinC reconheceu o exagero de Sá Leitão. Referendou a informação de que a participação das estatais em 2016 foi de 10,9% e não de 35%. O ministério informou ainda que a participação das estatais, desde o início da Lei Rouanet, chegou a 38%. Segundo o órgão, a média histórica desse percentual, desde 1994, foi de 22%.

“Nós já cortamos pela metade a quantidade de artigos da lei [Rouanet]”
Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, em entrevista à revista IstoÉ no dia 12 de janeiro

Em novembro de 2017, o Ministério da Cultura (MinC) publicou uma Instrução Normativa (IN) que, entre outras medidas, diminuiu o número de artigos da Lei Rouanet, de 136 para 73. Segundo a pasta, o objetivo da redução era desburocratizar o processo que envolve a lei.

Mas não é possível afirmar que essa redução tenha mesmo tornado o processo de aprovação de projetos pela Lei Rouanet mais rápido, porque no sistema Salic não é possível visualizar os resultados por mês. Isso impede a comparação entre o número de projetos aprovados antes e depois da redução dos artigos.

Procurado, o Ministério da Cultura afirmou que a redução de artigos resultou em normas “mais transparentes”. Além disso, a pasta disse que um texto enxuto reduz a “possibilidade de reprovação de projetos por conta de erros devido à incompreensão das regras”.

“O bom desempenho de dezembro contribuiu para um aumento de 20% no número de projetos aprovados de 2016 para 2017 (de 4.517 para 5.434)”
Release do Ministério da Cultura sobre o balanço da Lei Rouanet em 2017

Segundo dados do Salic, o mês de dezembro de 2017 realmente se destacou no ano passado, com a captação de mais de R$ 608 milhões via Lei Rouanet. A média mensal de arrecadação, ao longo de todo o ano, foi de R$ 97 milhões, aproximadamente 6 vezes menos do que o valor exclusivo de dezembro.

Mas o número de projetos aprovados no ano passado, outro ponto destacado pelo MinC, não supera a média histórica desde 2004. Em 2017, a Lei Rouanet foi usada em 5.445 projetos. A média histórica, por sua vez, é de 6.306 projetos por ano com esse incentivo.

Procurado, o Ministério da Cultura informou que, levando em consideração o cenário econômico dos últimos anos, o aumento de projetos de 2016 a 2017 mostra que o Ministério “conseguiu reverter a tendência de queda – um resultado considerado positivo” pela pasta.

A Lupa também checou frases sobre a Lei Rouanet que reverberam nas redes sociais. Veja a seguir os resultados:

“Cidadãos e empresas podem doar para a Lei Rouanet”

Tanto pessoas físicas quanto pessoas jurídicas podem aplicar parte de seus impostos nos projetos da Lei Rouanet – desde que declarem esse movimento no imposto de renda, no caso das pessoas físicas, e que sejam tributadas em lucro real, no caso das jurídicas. O valor que pode ser destinado ao fundo da lei é baseado no imposto de renda devido à União, e há limites pré-definidos: 4% para pessoas jurídicas e 6% para pessoas físicas.

No incentivo fiscal, o governo abre mão de arrecadar impostos, para que o dinheiro seja usado no apoio ou patrocínio de projetos culturais aprovados pelo MinC. Explica o portal do Ministério da Cultura: “o Governo Federal oferece uma ferramenta para que a sociedade possa decidir aplicar parte do dinheiro de seus impostos em ações culturais.”

“Projetos de artistas famosos tendem a se beneficiar mais dos recursos da Lei Rouanet”

O próprio MinC reconhece que artistas renomados tendem a captar mais recursos pela legislação. Isso ocorre porque as empresas e pessoas que doam valores via Lei Rouanet tendem a ver maior possibilidade de retorno em projetos que envolvam nomes mais conhecidos do grande público. Mas, segundo o texto da lei, qualquer pessoa física com atuação comprovada na área cultural ou empresa com no mínimo dois anos de atuação na área pode tentar captar recursos usando a lei.

A proposta deve ser apresentada pelo Salic, com dados como orçamento, plano de distribuição e resumo. A partir daí, o MinC faz a verificação dos requisitos técnicos para execução. Após o parecer técnico, o projeto passa pela análise da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (Cnic), que emite um parecer conclusivo pela aprovação – total ou parcial – ou pela rejeição do projeto. A última palavra é do ministro da Cultura, que muito raramente discorda das decisões tomadas pelo Cnic.

“O Sudeste concentra os recursos aprovados pela Lei Rouanet”

Quase 64% dos 5.445 projetos aprovados pelo MinC para captar recursos via Lei Rouanet em 2017 são do Sudeste: 3.483. Juntos, eles receberam R$ 4,8 bilhões. A Região Norte foi a que teve o menor número de projetos aprovados: 78, para os quais foram destinados R$ 63,7 milhões.

“O Museu do Amanhã do Rio de Janeiro se beneficiou muito da Lei Rouanet em 2017”

O Museu do Amanhã, inaugurado em dezembro de 2015, foi o projeto que mais captou verba por meio da Lei Rouanet em 2017. Cerca de R$ 16, 7 milhões foram repassados ao museu para realizar seu Plano Anual. Segundo o resumo do projeto, o dinheiro é necessário para a “produção e manutenção de exposições e acervos, ações educativas, programação cultural, palestras e publicações”.

*Por Nathália Afonso e Leandro Resende

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comNotícias Gerais

Você quer ficar por dentro das notícias mais importantes e receber notificações em tempo real?