Ministro do Turismo vai a Cannes para evento de corretores de imóveis
Marcelo Álvaro Antônio vai apresentar projetos de investimentos no Brasil. Ele é acusado de desviar dinheiro do fundo de campanha em MG
atualizado
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Pivô de uma crise no PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, viajará na próxima terça-feira (12/3) para Cannes, na França, para defender o setor no mercado internacional. Antes de embarcar, porém, ele tenta se afastar do imbróglio das supostas candidaturas laranja na sigla.
Marcelo Álvaro Antônio passará cinco dias em terras francesas, participando do Mercado Internacional de Profissionais Imobiliários. Acompanhado do secretário Nacional de Estruturação do Turismo, Robson Napier Borchio, e de outros quatro técnicos, a viagem custará aos cofres públicos R$ 106 mil com passagens aéreas, locomoção e diárias em hotéis.
“A participação tem como objetivo atrair investimentos para o Brasil, uma vez que o setor turístico no país conta com projetos que despertam o interesse de investidores estrangeiros”, justificou a pasta, em nota.
O presidente da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário (ABMI), Fernando Gonçalves dos Reis, explica que o evento é considerado um dos principais para o setor. Contudo, defende que, do ponto de vista financeiro, um representante da área do desenvolvimento econômico seria melhor. “Esse é um encontro de investidores, com palestras, seminários e debates de empresas que investem no setor”, afirmou. Causou estranheza a ida do ministro do Turismo.
Neste ano, o mercado contará com representantes de mais de 100 países. “Esse é um evento voltado para negócios. Ele debate os rumos e as tendência do mercado imobiliário internacional”, concluiu. Fernando destaca que um terço das locações desse setor é para empresas da rede hoteleira ou hospedagens temporárias.
“Atração de investimentos”
Segundo o Ministério do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio irá apresentar projetos que podem gerar R$ 8 bilhões para o país. A pasta cita um complexo de hotéis e residenciais de alto padrão no Rio Grande do Norte e um empreendimento em São Paulo que oferece apartamentos de alto padrão. Juntos, na estimativa do ministério, eles poderiam gerar 7 mil empregos indiretos.
“Nesta edição, o ministério contará com um estande onde realizará reuniões para promoção do Brasil como destino turístico e de investimentos. A pasta também vai organizar uma sessão de conferência exclusiva para apresentação das estratégias de desenvolvimento do setor no Brasil e para a discussão de outros temas pertinentes à atração de investimentos para o turismo”, justifica o texto.
Paulo Muniz, presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi), acredita que esta pode ser uma tentativa de alavancar o setor. Contudo, ele estranhou a participação do ministro. “Boa pergunta”, respondeu ao ser perguntado sobre a ida de Álvaro Antônio. Ele emendou. “Não conheço essa feira na França, a única lógica seria atrair investidores imobiliários que investem na área de hotéis, resorts e empreendimentos ligados ao turismo”, ponderou.
Essa não é a primeira vez que um ministro do Turismo participa do evento. Em março de 2016, Henrique Eduardo Alves, hoje condenado na Operação Lava Jato, participou de um painel sobre a economia brasileira do turismo e as oportunidades para o setor.
A Embratur é a autarquia responsável pela execução da Política Nacional de Turismo, que promove o marketing e o apoio à comercialização dos destinos, serviços e produtos turísticos brasileiros no mercado internacional. Todavia, o órgão não confirmou participação no evento de Cannes.
Entenda a crise
O ministro do Turismo presidia o diretório do PSL em Minas Gerais durante as eleições de outubro de 2018. Segundo investigação que tramita na Justiça de Minas Gerais, existe a possibilidade de irregularidades no repasse de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha pelo PSL a quatro candidatas a deputadas estaduais e federais mineiras.
Os candidatos tiveram votações pouco expressivas, embora tenham recebido dinheiro da sigla, o que levantou a suspeita de uso de candidaturas laranja. De acordo com a apuração, parte do dinheiro foi devolvido a assessores ligados ao ministro. Ele nega.